Setor financeiro pode impulsionar economia verde no Brasil

novembro, 25 2014

Em visita ao Brasil, Pavan Sukhdev defendeu que os bancos precisam avaliar os riscos antes de financiar atividades que poluem ou desmatam
Por Jaime Gesisky

Monitorar os investimentos para prevenir riscos de danos sociais e ambientais deveria ser o mantra de todos os bancos, principalmente os do sistema público, que financiam atividades importantes para a economia do país, como a agricultura e a pecuária. O recado veio do economista indiano Pavan Sukhdev e foi dado pessoalmente por ele aos principais executivos do Banco do Brasil, reunidos na última quinta-feira (20) em Brasília, para um seminário que tratou justamente deste tema.  

O evento faz parte da estratégia de aprimoramento das práticas do Banco do Brasil, que tem como meta mais ambiciosa tornar-se referência em sustentabilidade no setor financeiro. Sukhdev participou do evento a convite do Programa Água Brasil – que tem como parceiros Banco do Brasil, WWF-Brasil, Fundação Banco do Brasil e Agência Nacional de Águas (ANA). 

O economista insistiu que riscos socioambientais precisam ser identificados, classificados e monitorados de perto. Para ele, todas as atividades e operações bancárias têm de levar em conta a avaliação prévia dos potenciais impactos socioambientais. Além disso, os impactos devem fazer parte da avaliação de risco dos empréstimos. “Têm de entrar na contabilidade”, disse. 

Para ele, os bancos devem ter uma estrutura de governança para implementar as ações da política socioambiental incluindo o seu monitoramento, avaliação de efetividade e o gerenciamento do risco, em si.  

Segundo Sukhdev, o Brasil tem uma legislação capaz de canalizar investimentos consideráveis para a economia verde. Ele citou como exemplo a resolução 4327, de abril deste ano, e que dispõe sobre as diretrizes das políticas de responsabilidade socioambiental para as instituições financeiras do país. 

O palestrante acredita que, imbuídas dos princípios da normativa dos banco centrais de cada país, as instituições financeiras nacionais podem liderar mudança significativa no jeito usual de fazer negócios. Especialmente o Banco do Brasil, disse ele, ao lembrar que na plateia estavam representantes da maior instituição financeira da América do Sul, um banco público, com mais de 60 milhões de clientes, 110 mil funcionários, uma potência a ser usada para girar o botão da economia para o lado que emite menos carbono. 

Sukhdev lembrou que o Banco do Brasil detém, sozinho, mais de 60% do financiamento das atividades agropecuárias do país. Por isso, tem condições de orientar o setor para o lado verde da força. A agropecuária é a principal fonte de emissões brasileiras, conforme dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, divulgados esta semana. 

“Ao financiar a agricultura e a pecuária, o banco – qualquer banco – precisa levar em conta o quanto a atividade está gerando efeitos negativos (externalidades) tanto para a natureza quanto para a sociedade”, disse o palestrante. O economista saudou as iniciativas de sustentabilidade do Banco do Brasil, mas enfatizou que é necessário ser ainda mais eficaz e profundo nas medidas que apoiem a sustentabilidade. “Os limites do planeta estão sendo estourados”, lembrou.  A Política Socioambiental prevista na resolução do Banco Central, comentou o palestrante, deve nortear as ações dos bancos, envolvendo não só os negócios, mas como eles se relacionam com a clientes e usuários dos produtos e serviços oferecidos. 

Além disso, a política deve incluir ações estratégicas relacionadas com a governança dessas instituições. “É preciso gerenciar a possibilidade de haver perdas para as instituições financeiras provocadas por danos à sociedade e ao meio ambiente”. 

Vanguarda
Ex-diretor do Deutsche Bank, Sukhdev liderou em 2007 um estudo pioneiro para quantificar o impacto econômico da destruição da natureza, estimado em de trilhões de dólares por ano.  Desde então, ele dissemina pelo mundo afora os princípios da economia verde (ou de baixas emissões de carbono). Ele defende que os governos deveriam taxar a poluição e as empresas incluir na sua contabilidade os danos ambientais.  

Os estudos conduzidos por Sukhdev dialogam com o mais novo relatório do WWF, o Planeta Vivo, que mostra a destruição da natureza a uma velocidade brutal, e a um custo altíssimo para a economia e para a sociedade, algo em torno de US$ 4,7 trilhões. 

O valor considera os benefícios econômicos dos ecossistemas, também chamados de serviços ecossistêmicos: ciclo de chuvas, clima estável, entre outros fatores que influenciam a aspectos econômicos cruciais, como capacidade da agricultura de um país. O solo, a polinização – essencial para o ciclo das plantas, a proteção dos mananciais, os fármacos, os ingredientes da cosmética. Tudo entra na conta dos benefícios.

Fora que a natureza também é o motivo que faz com que as pessoas viagem de um lugar ao outro em busca de encantamento e espiritualidade. E isso gera o turismo, um benefício indireto. 

Para o estudioso, algumas empresas já compreenderam bem essa relação e passaram a adotar práticas verdes. Mas ele também considera que é preciso ter mais escala e ser mais ágil nesse posicionamento. Novas leis, incentivos e subsídios precisam ser criados imediatamente para estimular a economia a mudar seu modo de ser e estar.
O economista indiano esteve no país a convite do Programa Água Brasil para palestra magna a executivos do Banco do Brasil
© Alberto Ruy / WWF Brasil
DOE AGORA
DOE AGORA