Extrativistas da Amazônia vendem 400 quilos de óleo de copaíba para empresa de fragrâncias

outubro, 17 2012

O produto, que já está sendo beneficiado em Cotia (SP), será revendido em seguida para fabricantes de cosmésticos
Por Jorge Eduardo Dantas

Um grupo de vinte extrativistas do município amazonense de Apuí, a 408 quilômetros de Manaus, deu um passo importante no sentido de unir produção comercial e conservação dos recursos naturais: com o apoio do WWF-Brasil, eles conseguiram vender à empresa suíça Firmenich cerca de 400 quilos de óleo de copaíba extraídos de forma sustentável.

O produto, cuja venda foi formalizada nas últimas semanas, será utilizado como matéria-prima de fragrâncias que posteriormente serão vendidas a grandes empresas do setor de cosméticos.

A venda do óleo de copaíba é o resultado de um processo de negociação que existe desde o primeiro semestre de 2011 e que consistiu em pôr em contato os responsáveis da Firmenich e os representantes das associações de extrativistas de Apuí. 

Desde que as conversas tiveram início, foram promovidas ações dedicadas ao fortalecimento institucional de cooperativas e associações, capacitações em formulação de projetos e oficinas de boas práticas no manejo da copaíba – a fim de garantir que o produto seja extraído e manejado de forma adequada e que possa ser vendido com este valor agregado. Atualmente, são beneficiados por esta iniciativa os profissionais vinculados à Associação do Projeto Agroextrativista Aripuanã-Guariba. Todos são moradores das margens do rio Aripuanã, no Sul do Amazonas.
 
Viagem longa e demorada
 
Os 400 quilos de óleo de copaíba se encontram na fábrica da Firmenich, em Cotia (SP), e já estão sendo utilizados na composição das fragrâncias que a empresa venderá a seus clientes.  Para chegar a São Paulo, o produto saiu de barco de Apuí, foi para Manaus (AM), onde teve sua situação financeira e burocrática regularizada – com a emissão das notas fiscais, por exemplo – e dali saiu para Porto Velho (RO), em embarcações que navegaram pelo rio Madeira. A carga saiu de Rondônia por estradas e chegou a São Paulo. A viagem durou cerca de um mês.
 
O gerente regional para ingredientes naturais da Firmenich no Brasil, André Tabanez, declarou que a entrega do produto demorou mais que o necessário. “Além dos problemas de logística, típicos da Amazônia, também esperamos que a Associação Agroextrativista pudesse colocar toda a sua documentação em dia”, disse.
 
André afirmou ainda que os 400 quilos são um bom número para uma remessa inicial, mas é preciso aguardar os próximos meses para que o verdadeiro potencial daquela região seja verificado. “Nossa expectativa é a melhor possível: a região é grande, tem boa produção e os extrativistas estão imbuídos deste espírito de usar a floresta e os recursos naturais”, declarou. 

As previsões são de que, durante um ano, seja possível comercializar até cinco remessas semelhantes a esta. Hoje, os extrativistas do rio Aripuanã continuam em campo, coletando óleo de copaíba. A próxima remessa do produto chegará em Cotia no fim do ano, entre os meses de novembro e dezembro. 
 
Trabalhou diminuiu, rendimento cresceu
 
“Transformar comunidades do interior da Amazônia em fornecedores de uma das maiores empresas do mundo não é algo que ocorre da noite para o dia. Lidamos com problemas logísticos e questões culturais. Mas estamos tentando estruturar uma relação comercial justa e temos boas perspectivas. Estamos trabalhando com uma comunidade ótima, que vê a possibilidade de uso sustentável da floresta e corre em busca disso”, afirmou o gerente. 
 
O produtor Carlos Alves da Silva, 29, conhecido como “Pelado”, afirmou que a venda do óleo à empresa marca o início de um novo momento na produção e comercialização da copaíba naquela área. “Estamos gostando do modo como o processo todo vem sendo conduzido. Nós estamos tirando menos recursos da natureza; porém, estamos ganhando mais dinheiro. Além disso, o trabalho diminuiu, mas o nosso rendimento só cresceu”, afirmou o extrativista.
 
“Pelado” é o presidente da Associação do Projeto Agroextrativista Aripuanã-Guariba. É ele quem distribui os rendimentos do negócio para os seus colegas extrativistas, moradores de, entre outras comunidades, Matá-Matá, Areal, Vila Batista e Bela Vista do Guariba. 
 
O analista de conservação do WWF-Brasil, Marcelo Cortez, contou que a burocracia pra a emissão de nota fiscal interestadual foi o fator que mais atrasou a comercialização do óleo de copaíba. “Tínhamos a produção e a compra garantidas. O processo demorou um pouco mais do que esperávamos, mas agora que já sabemos o caminho, temos como melhorar este processo e deixar esta comercialização cada vez mais fácil”, disse. 
 
Marcelo afirmou também que este processo de venda e compra vai passar por uma avaliação, para que sejam identificados pontos de atenção e dificuldades a serem evitadas nas próximas transações. 
 
Estratégia de conservação
 
A venda do óleo de copaíba é parte de uma estratégia mais ampla, cujo objetivo é promover o manejo florestal, o reflorestamento, o extrativismo e os sistemas agroflorestais no Sul do Amazonas, buscando a geração de emprego e renda de forma sustentável na região. Esta estratégia, intitulada Medida de Desenvolvimento: Produção Florestal e Agroflorestal no município de Apuí, foi lançada no início de 2011 e tem o apoio do WWF-Brasil. 
 
Cerca de 10 instituições, entre entidades governamentais, órgãos da sociedade civil, associações e cooperativas de produtores estão envolvidas neste trabalho. Desde o ano passado, a iniciativa já realizou oficinas de boas práticas em manejo florestal, ministrou cursos de elaboração de projetos a associações e cooperativas da cidade de Apuí e intermediou acordos de compra e venda de copaíba, entre outras atividades.
No início do segundo semestre, foi realizada mais uma etapa do curso de manejo florestal, que tem o objetivo de capacitar produtores na extração sustentável dos recursos da floresta
No início do segundo semestre, foi realizada mais uma etapa do curso de manejo florestal, que tem o objetivo de capacitar produtores na extração sustentável dos recursos da floresta
© WWF-Brasil/ Marcelo Cortez
Venda do óleo de copaíba é parte de uma estratégia mais ampla, de estimular o manejo florestal, o reflorestamento, o extrativismo e os sistemas agroflorestais no Sul do Amazonas
Venda do óleo de copaíba é parte de uma estratégia mais ampla, de estimular o manejo florestal, o reflorestamento, o extrativismo e os sistemas agroflorestais no Sul do Amazonas
© WWF-Brasil/ Marcelo Cortez
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