Tecnologia pode reduzir em 82% as emissões da aviação civil
junho, 18 2012
Iniciativa une WWF-Brasil, Embraer, Boeing, BID, Ícone, General Electric e Amirys no uso de cana-de-açúcar para a produção de combustível mais limpo. Desafio é não provocar impactos socioambientais, especialmente com a produção no campo.
por Aldem BourscheitRio de Janeiro (RJ) - Tecnologia apresentada hoje na Rio+20 pode reduzir em 82% as emissões de vôos domésticos em comparação com o querosene, derivado do petróleo mais usado pela aviação comercial, um dos setores da economia que mais cresce no mundo. O corte nas emissões colocou na balança a produção e a transformação de cana-de-açúcar em biocombustível, bem como seu transporte em caminhões até os aeroportos.
A aviação comercial é responsável por 2% das emissões globais de gases que aumentam o efeito estufa e estão aquecendo o planeta. Só os aeroportos do estado de São Paulo consumiram 2,8 bilhões de litros de querosene no ano passado - suficientes para carregar mais de 90 mil caminhões-tanque.
O processo industrial desenvolvido pela Amyris, empresa dedicada à produção de combustíveis alternativos às fontes de petróleo, transforma a cana-de-açucar em um composto com características semelhantes as do querosene.
Isso é necessário para evitar a mudança das turbinas em uso, algo que seria extremamente caro. Esses motores têm vida útil de até 60 anos. O novo combustível ainda não está disponível em escala comercial.
O esforço para o desenvolvimento do biocombustível para aviação é compartilhado por Ícone, Boeing, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Embraer, General Electric e Amyris, com participação do WWF-Brasil. Os cultivos de cana e a usina usadas no experimento estão no interior de São Paulo.
Nesta terça (19), acontece o primeiro vôo de demonstração com o novo combustível, partindo de Campinas rumo ao Rio de Janeiro, pela Azul Linhas Aéreas. Outras empresas vêm testando biocombustíveis nos últimos anos, mas nenhum produzido com cana.
Certificação - O WWF-Brasil reconhece a importância dos biocombustíveis como alternativa para a redução de emissões, mas destaca que um dos principais desafios atrelados ao avanço da nova tecnologia é garantir que a demanda por cana-de-açúcar seja atendida de forma sustentável.
Ou seja, a cadeia produtiva precisa ser certificada, garantindo que populações e áreas ecologicamente sensíveis não sejam prejudicados pelo avanço dos cultivos e das usinas, e que não ocorram novos desmatamentos, em nenhuma região. O Brasil têm mais de 60 milhões de hectares de pastagens degradadas, que poderiam ser convertidas para a produção de bicombustíveis ou alimentos, por exemplo.
Por isso, o WWF-Brasil defende e apóia a implantação dos modelos de certificação RSB (sigla em Inglês para Mesas Redondas para Biocombustíveis Sustentáveis) e BonSucro. Logo, a certificação que venha a ser adotada para a produção de biocombustíveis para aviação precisa levar em conta a redução de emissões, o bom uso da terra, a conservação da biodiversidade e o respeito às legislações trabalhista e ambiental.
"Isso precisa se tornar uma realidade para produtores de todos os portes e em todas as regiões do país", ressaltou Edegar de Oliveira Rosa, do Programa Agricultura do WWF-Brasil.