Entrevista: Paulo Jobim
maio, 28 2012
Paulo Hermanny Jobim é o filho primogênito de Antonio Carlos de Almeida Brasileiro Jobim, para muitos o maior compositor da história do Brasil, um país reconhecido por sua grande diversidade musical assim como a exuberante natureza.
Paulo Hermanny Jobim, 61 anos, é o filho primogênito de Antonio Carlos de Almeida Brasileiro Jobim, para muitos o maior compositor da história do Brasil, um país reconhecido por sua grande diversidade musical assim como a exuberante natureza.Como o pai, Paulo estudou arquitetura e música, e era presença regular nos shows e nos discos de Tom Jobim, de quem era arranjador e parceiro como na canção Forever Green, composta especialmente para a Rio 92 e gravada no último disco do “maestro soberano” em 1994 (ano de sua morte), o CD Antonio Brasileiro.
Além do talento para a música, Paulo Jobim herdou do pai o interesse pelo meio ambiente. Tom Jobim foi a primeira figura pública no Brasil, ainda nos anos 1970 em plena ditadura militar, a falar na destruição da natureza. Paulo Jobim aprofundou esse interesse e trabalhou em projetos ambientais com a equipe do urbanista Lúcio Costa, como foi o caso da demarcação da área que veio resultar em unidade de conservação na Chapada dos Guimarães. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao WWF.
Como era a parceira entre você e o Tom Jobim em canções de cunho ambientalista? Vocês estavam preparando o último disco do Tom?
Rio 92, estávamos começando....O disco [Antonio Brasileiro] só saiu mesmo em 94, mas já estávamos pensando no disco.
E o Tom estava com a Banda Nova, você tocava nela, e receberam a encomenda daquela música em inglês [Forever Green]....
Sim. Foi tipo uma encomenda. Não sei bem quem, pediu uma música para a Rio 92. É uma música bem didática, pensando nas crianças, no futuro.
E tinha que ser em inglês por que era uma conferência internacional?
Eu acho que sim, eu acho que era um show com artistas internacionais. A Rio 92 era um evento internacional. Não sei dizer se pediram que a música fosse em inglês, mas acho que naturalmente nós a fizemos em inglês, que era para alcançar o mundo todo.
Há uma entrevista da década de 1980, com o Roberto Dávila, no DVD Tom Jobim ao vivo em Montreal, quando ele já falava do problema das queimadas. De onde vinha a preocupação do Tom Jobim com a questão ambiental?
Eu acho que esse interesse veio da Mata Atlântica, que ele conhecia mais a fundo, e que ele viu ser destruída. Ele conhecia essas matas aqui perto do Rio de Janeiro. Ele viu, desde o interior de São Paulo, onde ia muito, os jequitibás, as matas grandes. Ele conhecia essas matas que foram sendo cortadas sem nenhum cuidado, sem pena. Vão cortando para fazer lenha, para fazer carvão.
Ele foi criado em fazendas, conhecendo a natureza de perto, e vendo que estavam destruindo tudo. Havia uma fúria em queimar, como se isso fosse um grande progresso; queimar toda a floresta para colocar gado; e [progresso] não é isso. Mas continua acontecendo...
O que se chama de progresso aqui, é o sujeito plantando soja para vender para o porco chinês comer. Eles acham que isso é mais importante do que ter as riquezas do Brasil; “vamos vender soja pro porco chinês”. E aí você destrói tudo porque isso está dando lucro naquele momento. Pode ser que em outros momentos não dê lucro nenhum. Enfim, a gente não tem muito respeito pelo Brasil, pela riqueza do Brasil. A gente vai destruindo tudo, tudo a troco de nada. Tem uma máquina nova, então corta tudo. Há muito tempo que vem sendo assim.
Essa mentalidade sobre o que seria o progresso é que explica o comportamento de alguns parlamentares contrários a manutenção da mata ciliar e ao pagamento de multa pela destruição conforme vemos nas discussões sobre as alterações no Código Florestal?
Isso não é progresso, você desmatar todas as beiras de rios, você cria erosão, um deserto. É algo que meu pai dizia: “é uma coisa sistemática, criação sistemática do deserto”. Você pega o planalto central todo que é irrigado por chuvas que vêm da Amazônia e você vai entrando pela Amazônia e cortando a floresta: está se fazendo um deserto no planalto central. O Cerrado já é seco e vai secar tudo em volta e tirar as águas, as nascentes de tudo? Vai virar o deserto do Saara. E não tem uma desculpa racional para ir cortando. Eles dizem: ah, os pobres agricultores. Não há pobre agricultor nenhum. E o Partido Comunista fica do lado de grandes conglomerados de agricultura porque isso não é agricultura familiar coisa nenhuma.
Nesses 20 anos entre as duas conferências, o Brasil evoluiu em termos de proteção ao meio ambiente ou as pressões aumentaram?
Eu acho que hoje a gente tem um discurso geral da sociedade mais preocupada com o meio ambiente e ao mesmo tempo o Congresso Nacional está querendo destruir um Código Florestal que na década de 1960 já era muito bom e pouco era respeitado. Então, agora, vira farra do boi e não dá para entender isso; leis sérias que agora se joga fora porque comprou um caminhão/trator novo e você quer botar para quebrar. Depois que acaba tudo, fica o deserto, e o caminhão e o trator perdidos no mato, ou no capim porque não tem mais mato.
O Brasil se vangloria de ser uma potência da biodiversidade. Nós nos comportamos como liderança? Temos condições?
Nós temos uma biodiversidade enorme, agora é, se a gente quer essa biodiversidade ou se a gente vai acabar com ela à toa. Quando nos dirigimos ao mundo e o mundo olha para o Brasil, diz: ‘Eles têm um tesouro ambiental ali’. Mas agora se a gente não vai cuidar disso seriamente, eles vão parar de ouvir a gente; porque a gente não faz muito por onde respeitar a riqueza que a gente tem.
Você já chegou a trabalhar na área ambiental?
Já trabalhei. Já fiz planos ligados a ecologia em Chapada dos Guimarães [Plano Diretor para o Turismo, 1978] com Maria Elisa Costa, e com Lúcio Costa como consultor. Em São Luís do Maranhão, projeto do Lúcio [Novo Pólo Urbano de São Luís em 1979, não executado] também tentando proteger a cidade, e também o Horto Botânico de Outro Preto. Eu e Maria Elisa fizemos um plano para a área do descobrimento do Brasil, ali, entre Cabrália descendo até o Monte Pascoal mais ou menos. Mas então era uma legislação toda para o loteamento, essas coisas, que estavam começando a ocorrer ali para baixo; mas naturalmente que não foi adotada também. O pessoal prefere as coisas sem lei.
Que projetos eram esses no Mato Grosso e na Bahia?
No Mato Grosso era um projeto a princípio para o turismo, mas que na verdade acabou se fazendo um código de uso para a região toda, do que pode ou não lotear. Criamos ali, o que depois veio a ser o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Fomos nós que criamos esse parque, ainda municipal.
O projeto da Bahia foi caprichado com fotos de satélites, tudo detalhado, onde tinha mata e onde não tinha. Ali, por exemplo, tem uma beirada de encosta que tinha mata e uma lagoa - Lagoa Azul - que de repente secou já por desmatamento, e depois um cara chegou e fez um campo de golfe na beira do mar. Quer dizer, deve ser bom jogar golfe a beira mar, mas você destruir toda a mata que você tinha, ainda mais em um lugar cheio de áreas enormes e desmatadas, pra fazer o campo de golfe. Não faz o menor sentido.
Tem alguma coisa importante ocorrida durante a Rio 92 que ficou na sua memória?
Algo que me impressionou foi uma conversa, um vídeo com vários caciques indígenas importantes; e eles estavam falando coisas que hoje em dia as pessoas estão começando a perceber. Eu acho que deveria haver um encontro das lideranças indígenas, que têm uma outra visão do Brasil que não é essa de sair cortando tudo. Eles querem a floresta porque eles vivem na floresta e a gente deveria viver das riquezas do Brasil e não, ao contrário, exauri-las até o fim.
Letra de Forever Green
de Antonio Carlos Jobim e e Paulo Jobim
Let there be flowers
Let there be spring
We have few hours to save our dream
Let there be light
Let the bird sing
Let the forest be forever green
Little blue planet
In great need of care
Crystal clear streams
Lots of clean air
Let's save the Earth
What a wonderful thing
Let it be forever green
Imagine Mother Earth become a desert
A poison sea, a venomous lagoon
And life on Planet Earth be gone forever
And God will come and ask for planet blue
What to do
Where is the paradise
I've made for you
Where is the green
And where is the blue
Where is the house
I've made for you
Where is the forest and
Where is the sea
Where is the place good for you, good for me
Let's save the Earth
What a wonderful thing
Let the bird fly, let the bird sing
(Let them sing Luisa)
Let it be forever evergreen
Where is the paradise
I've made for you
Where is the green
And where is the blue
Where is the house
I've made for you
*retirada de http://www2.uol.com.br/tomjobim/ml_forever_green.htm
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