Entrevista - Ayslaner Gallo, engenheiro florestal

agosto, 23 2011

"Meu papel é ir às trilhas e descrever, seja por meio de textos ou fotos, a vegetação que encontrarmos por aqui"
"Meu papel é ir às trilhas e descrever, seja por meio de textos ou fotos, a vegetação que encontrarmos por aqui"

Por Jorge Eduardo Dantas de Oliveira


O engenheiro florestal Ayslaner Gallo foi o responsável pelos estudos de vegetação durante a Expedição Guariba-Roosevelt. Egresso de uma família de madeireiros do Mato Grosso – “já tive uns estresses com meu pai por conta do meu trabalho”, disse, sorrindo discretamente – Ayslaner teve a oportunidade de já durante a faculdade realizar trabalhos interessantes que o levaram ao caminho da conservação. Em 2006, participou de uma expedição à Serra do Cachimbo, entre o Mato Grosso e o Pará; neste mesmo ano, também foi um expedicionário no rio Juruena; entre 2006 e 2007 participou da revisão do plano de manejo da Reserva Biológica do Jarú, em Rondônia; e em 2007 participou da expedição ao Parque Nacional dos Campos Amazônicos, no Amazonas. Neste meio tempo, foi assistente de Roberto Antonelli, um dos mais reconhecidos estudiosos brasileiros de vegetação, e trabalhou no Instituto Centro de Vida (ICV). Hoje, é um dos sócios da Mapsmut, empresa que presta consultoria em serviços ambientais.

1 – O que faz um pesquisador de vegetação?

Ayslaner Gallo: Como nosso trabalho nesta região é fazer uma avaliação ecológica rápida, a intenção não é descrever, uma a uma, as espécies de plantas, mas sim dizer o que é possível encontrar aqui e como a vegetação se relaciona com as populações de mamíferos e de aves, por exemplo. Então meu papel é ir às trilhas e descrever, seja por meio de textos ou fotos, aquilo que encontraremos por aqui. Devo ficar atento às espécies de plantas, árvore frutíferas e madeiras que possuem valor comercial e o que pode ser aproveitado do ponto de vista do extrativismo, como o babaçu e a copaíba, por exemplo. Vou fazer também um levantamento da biomassa existente na região – a Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso quer entrar no mercado de carbono e para isso é preciso um levantamento dos estoques de carbono das unidades de conservação.

2 - Como é feita a descrição da vegetação?

Ayslaner Gallo: Como não é possível catalogar tudo, vou trabalhar com um raio de dez metros para cada lado da trilha. Vou incluir neste estudo árvores de grande porte: por meio delas já é possível obter várias informações sobre a área. Tiro fotos das folhas, do lugar onde a planta está situada, provo as frutas, se for o caso, e marco no GPS o lugar onde aquela árvore foi encontrada. Com as árvores maiores também é preciso medir o diâmetro delas com uma trena e contar sua idade, pois geralmente elas são antigas e levam décadas para alcançar o topo da cobertura florestal.

3 – Como é possível descrever a vegetação do noroeste do Mato Grosso?

Ayslaner Gallo:
Estamos situados em uma zona de transição entre o cerrado do Centro-Oeste e a floresta tropical amazônica. Então temos aqui, tanto na flora quanto na fauna, características típicas de um bioma e de outro. Isso faz com que esta região seja muito rica do ponto de vista da quantidade de espécies e plantas, mas também dá margem a muitas perguntas. As regiões de campinarana, por exemplo, que são as vegetações arbustivas e de área aberta dentro da floresta, são muito pouco conhecidas. Ainda não há um volume grande de informações sobre esses espaços, então existe, por parte de pesquisadores do mundo todo, uma curiosidade sobre o que pode existir por aqui.

4 – É possível dizer que essas regiões de campinarana são as áreas mais interessantes para estudo, do ponto de vista da vegetação?

Ayslaner Gallo: Sim, e não só a respeito da vegetação. Por meio de fotos de satélites, sabemos apenas que são grandes manchas de areia situadas na floresta. Mas é preciso saber ainda se elas são porções de cerrado mesmo ou são campinaranas. Essa diferença pode parecer pequena, mas diz muito sobre a área a ser estudada.
Ayslaner Gallo, engenheiro florestal. Expedição Guariba-Roosevelt 2010.
Ayslaner Gallo, engenheiro florestal. Expedição Guariba-Roosevelt 2010.
© WWF-Brasil/Juvenal Pereira
DOE AGORA
DOE AGORA