Lauro Barbosa: natureza protegida para as futuras gerações
novembro, 24 2009
Lauro Barbosa juntou as economias que tinha guardado e comprou uma área de 81 hectares no município de Corguinho, na região da Serra de Maracajú, a 110 km de Campo Grande. Ali, formou uma reserva ambiental que pudesse ser preservada para sempre.
Não é fácil convencer um proprietário rural a criar uma reserva. Mais difícil ainda é encontrar uma pessoa que decidiu comprar uma propriedade exclusivamente para proteger uma área natural importante e representativa. Pois foi exatamente isso que fez o sul-matogrossense Lauro Barbosa.Ele nasceu em Sidrolândia, a 60 km de Campo Grande e morou na roça até os 17 anos, quando se mudou com a família para a capital do Estado. Durante 9 anos, serviu no Exército, onde foi sargento, e depois virou comerciante, atuando no ramo de farmácia. De origem rural, nunca esqueceu suas raízes e o tempo na cidade só fez aumentar sua paixão pela natureza.
Ao ver as matas da sua infância diminuírem gradativamente, Lauro se desesperou diante da possibilidade de seus filhos e netos não poderem mais conviver com essas belezas e decidiu que iria fazer a sua parte para que isso não acontecesse. Em 2000, juntou as economias que tinha guardado e começou a procurar uma área conservada para comprar e formar ali uma reserva ambiental que pudesse ser preservada para sempre.
Encontrou uma área de 81 hectares no município de Corguinho, na região da Serra de Maracajú, a 110 km de Campo Grande. Foi paixão à primeira vista. Embora pequena, a propriedade tem uma fauna e flora muito rica, abriga várias nascentes e é toda coberta por matas preservadas. O resultado é uma grande variedade de animais típicos da região, como onça parda, caitutu, porco do mato, marcaco buggio e muitos pássaros, entre eles a arara –azul, arara vermelha e o gavião de penacho.
Em 2003, Lauro foi convidado para participar de uma reunião da Associação de Proprietários de Reservas do Patrimônio Natural, em Corumbá. Descobriu então que o caminho para tornar a área protegida para sempre, como era seu desejo, era criando uma RPPN e que a sua reserva particular se encaixava perfeitamente nos critérios de criação de uma RPPN.
Ele entrou com o processo e estava criada a RPPN Vale do Bugio. O nome foi escolhido em homenagem ao macaco Buggio, morador da reserva. Ele conta que quando foi à propriedade pela primeira vez e ouviu o barulho do macaco ficou sonhando em adquirir a área para poder preservar todas aquelas maravilhas.
O exemplo de Lauro se multiplicou. Por influência dele, o proprietário que lhe vendeu a área também decidiu criar uma RPPN, de 77 hectares, batizada de Gavião de penacho, em homenagem ao pássaro morador da área.
A preocupação ambiental está se multiplicando na região. Outro vizinho de Lauro, que é proprietário de uma área de 200 hectares só de mata também preserva a área, embora não tenha criado uma reserva oficialmente.
Com o objetivo de estimular a pesquisa, Lauro construiu um centro na RRPN, com alojamento, refeitório e sala de pesquisa. A casa está aberta a estudiosos que estiverem interessados em desenvolver algum tipo de pesquisa. Quem tiver interesse pode procurar o proprietário.
Está sendo também iniciado um plano de manejo para ajudar a manter a propriedade. A intenção é aproveitar o potencial desse patrimônio natural com atividades de baixo impacto, como o ecoturismo, o que é permitido em uma RPPN.
Sempre que pode, Lauro passa um tempo na reserva. Os dois filhos mais novos, de 12 e 13 anos também são entusiasmados com o projeto. A mulher Luciene Brandão de Souza apoia a iniciativa. Embora tenha nascido na cidade, também compartilha o amor de Lauro pela natureza.
Luciene conta que no início ficou um pouco receosa com o fato de estar criando uma reserva para sempre, um processo irreversível, que não se pode voltar atrás. Mas depois que entendeu a importância da iniciativa e passou a apoiar a idéia. Seu sonho é ver outras pessoas seguindo o mesmo caminho. Embora trabalhe meio período como recepcionista, ajuda o marido no trabalho de conservação da RPPN.
"Quando vi o lugar, é uma depressão, uma região montanhosa, ouvia o barulho de buggio, eu fiquei sonhando." - Lauro, referindo-se à primeira vez que viu a propriedade adquirida por ele para criar uma RPPN.