José Aparecido Macedo e o movimento para proteger o rio Cabaçal

novembro, 24 2010

O biólogo José Aparecido Macedo - atualmente Chefe da Divisão de Meio Ambiente de Reserva do Cabaçal - é um dos mais ativos participantes do Movimento pelas Águas do Cabaçal.

Por Geralda Magela

“Aqui neste lugar não tinha árvore alguma. Era um lugar de criação de porcos e tinha uma grande erosão”, diz José Aparecido Macedo apontando para um bosque de árvores frondosas às margens do Rio Cabaçal, na cidade de Reserva do Cabaçal, um pequeno município de menos de três mil habitantes, a 350 km de Cuiabá (MT). As árvores hoje frondosas, plantadas há mais de 15 anos, são motivo de orgulho para ele.

O biólogo José Aparecido Macedo - atualmente Chefe da Divisão de Meio Ambiente de Reserva do Cabaçal - é um dos mais ativos participantes do Movimento pelas Águas do Cabaçal, um projeto desenvolvido pela comunidade que, desde 2009, tem o apoio do WWF-Brasil, e que busca recuperar áreas degradadas em nascentes do município.

Reserva do Cabaçal fica em uma área de transição entre a parte alta e baixa da Bacia do Alto Paraguai. O município possui muitas nascentes e cachoeiras e é cortado por córregos e pelo rio Cabaçal, um dos afluentes do Rio Paraguai. Por isso, é uma região importante para o fornecimento de água para o Pantanal.

Devido as suas características, o município recebeu o nome de Paraíso das Águas. Mas o processo de ocupação desordenada, o desmatamento e o mau uso do solo estavam ameaçando esse título. Na terra degradada, surgiram boçorocas, processo erosivo que abre fendas gigantes no solo e carreia sedimentos, causando assoreamento dos rios, matando nascentes.

Nascido no interior de São Paulo, Macedo acompanhou todo o processo de mudança ocorrido no município, que conheceu por acaso e adotou como sua terra, há 26 anos.  “Tinha um parente meu que morava aqui e eu vim visitá-lo. Gostei tanto do lugar, do clima, que resolvi ficar”, conta.

De lá pra cá muita coisa mudou.  “Quando cheguei à região ainda tinha muita mata, muito bicho. Hoje tem muito pouco”, lembra. As águas também diminuíram bastante. “No córrego Dracena (um dos afluentes do rio Cabaçal) havia uma ponte e embaixo dela um poço de uns 4 metros. Lembro que as crianças pulavam da ponte e mergulhavam. Hoje a lâmina d água não passa de 20 centímetros”, lamenta.

Macedo começou sua militância na área ambiental há mais de 15 anos, quando ainda era professor. Ele e um grupo de moradores da cidade iniciaram um projeto ambiental com as escolas. Mas não era fácil falar de meio ambiente em um lugar onde a natureza parecia abundante, embora ela já desse sinais de esgotamento, mostrando suas feridas, as erosões. 

Mesmo com todas as dificuldades, decidiram agir. “Começamos com coleta de semente e plantio de mudas”, conta. A Secretaria de Meio Ambiente (Sema) apoiava o projeto com um viveiro. “A gente tinha muita vontade de recuperar a área mas não sabia muito bem como fazer. Então plantávamos árvores”, diz.
As mudas plantadas por José Aparecido e os voluntários de Reserva do Cabaçal cresceram, viraram árvores frondosas. Hoje elas são um alívio, um refresco para amenizar os dias de calor que nos últimos anos vem castigando a cidade, que já não é mais um oásis de ar fresco, como era quando ele chegou lá.

E a semente da conservação também gera frutos, atraindo novos semeadores, aliados do movimento pelas Águas de Reserva do Cabaçal. “Hoje, percebo que a comunidade está mais sensibilizada”, diz José Aparecido.

O desafio agora é envolver mais proprietários das áreas degradadas.  “Temos que ter esses produtores como aliados, mostrar a eles que queremos ajudar. Sem o envolvimento deles não há como recuperar nem conservar”.

Ele também acredita que o exemplo de Reserva do Cabaçal irá ajudará a mobilizar os municípios vizinhos de toda a Bacia do rio Cabaçal, o que é muito importante para manter a biodiversidade que ele alimenta com suas águas e matas no seu entorno. “Não adianta conservar aqui e os outros municípios vizinhos continuarem degradando”, ressalta. 

O engajamento dos moradores de Reserva do Cabaçal, como José Aparecido, é muito importante para o WWF-Brasil, que começou em 2009 um projeto piloto de recuperação de áreas degradadas no município. O projeto é desenvolvido pela ONG em parceria com a prefeitura e a comunidade e com a Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat) e Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). 

O trabalho envolve a realização de oficinas de capacitação ministradas por professores da Unemt e por técnicos do WWF-Brasil e consultores. Além da teoria, são realizados trabalhos de campo com mutirões de plantio de mudas nativas, análise de solo, contenção de boçorocas.

Saiba mais sobre o trabalho em Reserva do Cabaçal.

 

 

José Aparecido mostra o bosque com árvores grandes que ele ajudou a plantar nas margens do rio Cabaçal há mais de 10 anos.
© WWF-Brasil/Geralda Magela
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