Protocolo interno propõe critérios produtivos e socioambientais para a pecuária orgânica do Pantanal

abril, 28 2009

Pecuaristas da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO)  do Mato Grosso do Sul cria protocolo interno de processos produtivos e responsabilidade socioambiental.
Por Geralda Magela

Pecuaristas da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) do Mato Grosso do Sul  adotaram uma iniciativa inovadora. Eles criaram protocolo interno de processos produtivos e responsabilidade socioambiental. O documento - lançado nesta terça-feira, 28 de abril, em Campo Grande (MS) pela ABPO e pelo WWF-Brasil - irá regulamentar as atividades da instituição e de seus associados tornando públicos seus processos produtivos e de responsabilidade socioambiental.

Entre inovações do protocolo, está a criação de um sistema interno de auditoria para fiscalizar periodicamente as fazendas, além das visitas anuais que já são realizadas pela empresa certificadora. O documento também traz avanços no que se refere à lei ambiental como, por exemplo, a proibição de se desenvolver atividade de carvoaria em suas propriedades e o apoio à criação de um corredor ecológico das fazendas orgânicas por meio da conectividade de Reservas Legais e Áreas de Preservação Permante (APPs).

Na solenidade de lançamento do protocolo, o superintendente  de Conservação do WWF-Brasil, Cláudio Maretti, lembrou que o Pantanal está entre as áreas ambientais mais importantes para o mundo. Ele destacou que o WWF-Brasil apoia a  pecuária orgânica certificada no Pantanal porque  a considera  uma alternativa sustentável para a região. Maretti elogiou a iniciativa dos pecuaristas orgânicos de criar um protocolo interno, indo além do processo de certificação. “Eles assumem o compromisso  de produzir melhor e a preservar o meio ambiente, destacou, acrescentando que esse tipo de liderança exercida pela ABPO ajuda a transformar mercados.

O protocolo é mais uma etapa do trabalho que vem sendo desenvolvido pela ABPO e pelo Programa Pantanal para Sempre do WWF-Brasil, desde 2003, de estímulo à pecuária orgânica certificada no Pantanal. O objetivo principal dessa parceria é buscar alternativas que permitam aliar a atividade produtiva da pecuária e a conservação dos recursos naturais do Pantanal.

O coordenador do Programa Pantanal para Sempre do WWF-Brasil, Michael Becker, ressaltou que o documento é um diferencial para o segmento, pois ele vai além das exigências da legislação ambiental e da certificação. “ É um divisor de águas. Esperamos essa idéia se expanda e que outros pecuaristas também adotem a iniciativa”, disse Becker.

Os compromissos que integram o documento, que agora deverão ser adotados por todos os integrantes da ABPO, foram definidos com a participação e o envolvimento de instituições de pesquisa, ONGs, parceiros comerciais da ABPO e representantes do setor produtivo da pecuária.

Ao apresentar o protocolo, o presidente da ABPO, Leonardo Leite de Barros, destacou  que houve muitas discussões  para a elaboração do documento, mas o resultado foi muito positivo. “Assumimos a responsabilidade com o nosso Pantanal. Vamos buscar novas formas de produzir a carne orgânica com qualidade, padronização e critérios sociambientais bem definidos”, ressaltou Barros.

Para Barros, embora represente um passo importante, a construção do protocolo não se encerra com o seu lançamento. “O protocolo é dinâmico. Não é um documento para ficar na gaveta” disse o presidente da ABPO, ressaltando que novos critérios poderão ser incorporados a ele nas próximas revisões.

A adesão dos atuais e futuros associados da ABPO ao protocolo é obrigatória e eles terão um prazo de até três anos a partir do lançamento da publicação para se adequarem aos compromissos firmados. O cumprimento dos compromissos assumidos será monitorado pelo Programa de Auditoria Interna (PAI - ABPO).

O que é a pecuária orgânica?

O manejo orgânico visa o desenvolvimento econômico e produtivo que não polua, não destrua o meio ambiente e que valorize o homem. A pecuária de corte orgânica tem como objetivo uma produção que mantenha o equilíbrio ecológico englobando os componentes produtivos, ambiental e social, a partir de normas estabelecidas pelas instituições certificadoras.

Na criação, o gado orgânico é rastreado desde seu nascimento até o abate, com registro de peso, alimentação, vacinas, entre outras informações, em fichas individuais.

A alimentação dos animais é observada com especial atenção. Além da pastagem, outros ingredientes compõem o cardápio do gado orgânico como casca de soja não transgênica e farelo de algodão. Esses alimentos têm procedência garantida ou são produzidos pelos próprios pecuaristas de acordo com as normas da certificação.

Outra preocupação é quanto ao bem-estar dos animais. As fazendas trabalham com sombreamento das pastagens e currais em formato circular para que o gado não se machuque.
Uma das prioridades das certificadoras é garantir a segurança alimentar. Por isso, é exigida e monitorada a vacinação, inclusive contra febre aftosa. Em caso de alguma enfermidade, o gado orgânico é tratado com produtos fitoterápicos e homeopáticos.

Também é proibido o uso de uréia na alimentação e de hormônios para engorda. Com relação ao meio ambiente, também é proibido o uso de fogo para manejar as pastagens.

Números - Atualmente, existem 16 fazendas certificadas ou em fase de certificação no Mato Grosso do Sul (associadas à ABPO) e 10 no Mato Grosso (ASPRANOR), totalizando 26 propriedades. As fazendas certificadas ocupam uma área total de 131,2 mil hectares e possuem um rebanho de 99,8 mil cabeças.

Superintendente do WWF-Brasil, Cláudio Maretti, participa de solenidade de lançamento do protocolo da pecuária orgânica
© WWF-Brasil/Geralda Magela
Desde 2003, o WWF-Brasil vem atuando no estímulo à pecuária orgânica certificada no Pantanal
© WWF-Brasil/Geralda Magela
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