SMART: WWF traz ao Brasil tecnologia inédita para reforçar os trabalhos de conservação nas áreas protegidas da Amazônia

julho, 04 2019

Software de código aberto possibilita a melhoria dos processos de coleta, armazenagem, comunicação e avaliação de dados
Por Jorge Eduardo Dantas
 
Secretários de meio ambiente, gestores de áreas protegidas, comunidades tradicionais, cientistas e pesquisadores de vida selvagem tem a sua disposição uma nova ferramenta, que promete reforçar os trabalhos de conservação da natureza no Brasil: trata-se do SMART, um software de código aberto que otimiza a coleta e o uso de dados sobre as áreas protegidas.
 
A SMART (da sigla em inglês Spatial Monitoring and Report Tool – “Ferramenta de Monitoramento Espacial e Criação de Relatórios”, em português) é um software de código aberto desenvolvido por agências e organizações de conservação ao redor globo preocupadas em melhorar a eficácia da gestão e proteção de áreas protegidas.
 
Por meio desta ferramenta, é possível coletar, armazenar, comunicar e analisar dados sobre biodiversidade, assim como sobre atividades ilegais, rotas de patrulha e ações de gerenciamento para melhor uso dos recursos. A ferramenta pode ser baixada aqui.
 
Registros
 
A SMART possibilita que diversas atividades de campo sejam catalogadas, possibilitando alertas em tempo real, o registro de vários tipos de informação em uma mesma base de dados e um olhar mais apurado para os problemas e ocorrências de determinada área.
 
Informações como o tempo gasto em saídas de campo, áreas percorridas e distâncias, armadilhas removidas e infrações, por exemplo, podem ser registradas na SMART e ficar disponíveis para os técnicos e gestores envolvidos naquela ação. 
 
O SMART também deu origem a uma abordagem específica, que reúne bases de dados, capacitações e um conjunto de padrões de proteção. Em todo o mundo, cerca de 600 áreas protegidas, em 55 países, têm utilizado essas ferramentas.
 
Amazônia
 
Recentemente, o WWF-Brasil promoveu duas ações para adaptar e trazer esta tecnologia ao Brasil: um workshop com gestores de Unidades de Conservação do Amazonas e uma visita de alguns desses gestores a Colômbia, onde a SMART já faz parte do cotidiano das áreas protegidas daquele país. 
 
Essas ações fazem parte de uma iniciativa mais ampla, de disponibilizar a SMART para os países lusófonos mundo afora – que, de maneira geral, possuem grandes áreas de florestas tropicais, imensos litorais e poucos recursos para a gestão dessas áreas.

O workshop, ocorrido na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro, nas proximidades de Manaus, teve 30 participantes, entre gestores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-AM), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e agentes do programa Proteção Etnoambiental Terra Indígena Waimiri Atroari. A organização WCS, integrante da Rede Global SMART, também esteve presente no evento. 
 
Os participantes passaram por um treinamento teórico e prático sobre o uso da SMART e de discussões que giraram em torno de como a ferramenta pode melhorar o trabalho de monitoramento dos territórios. O workshop durou três dias e foi realizado na Comunidade Indígena Três Unidos, da etnia Kambeba, instalada às margens da boca do Rio Cuieiras, a 60 quilômetros de Manaus.
 
Colômbia
 
Ainda como parte do processo de implantação da SMART no Brasil, o WWF-Brasil apoiou a ida de gestores da Sema-AM a Colômbia, para conhecer como a ferramenta tem sido usada no país vizinho. Os gestores de parques colombianos usam a tecnologia desde 2013, que é aplicada em 58 áreas protegidas.  
 
A visita contou com reuniões no órgão oficial de gestão de áreas protegidas daquele país, o Parques Nacionales Colombia; conversas com equipes de campo, gestores e visita ao Parque Natural Nacional Chingaza – uma área protegida situada no centro da Colômbia e responsável por parte do suprimento de água que abastece Bogotá, a capital do país. A agenda do intercâmbio contou também com reuniões com as equipes locais do WWF e WCS.
 
Ampliação das ações
 
O gerente de Unidades de Conservação da Sema-AM, Kleber Bechara, acredita que a SMART pode ajudar nas análises de dados das áreas protegidas, transformando completamente os processos de gestão. “Além disso, é possível levantar dados sobre o turismo nas áreas protegidas, com usuários de parques e as comunidades tradicionais ajudando na coleta de dados”, afirmou.
 
Responsável por ações de preservação etnoambiental na Terra Indígena Waimiri Atroari, Messias Serrão disse que a ferramenta SMART permite a ampliação de ações de proteção e vai contribuir com a melhoria da qualidade das coletas e análises de dados: “Teremos bases de dados maiores e mais claras. A ferramenta é de fácil utilização e, com os ajustes necessários ao nosso contexto, será de grande ajuda”. 
 
O analista de conservação do WWF-Brasil Felipe Spina Avino acredita que o uso de tecnologias e ferramentas pode ajudar a solucionar alguns dos desafios relacionados à conservação da natureza. “Sabemos que faltam recursos para uma efetiva gestão e proteção das áreas protegidas brasileiras, mas a tecnologia pode nos ajudar a saber onde concentrar e melhor aplicar os recursos existentes”, declarou.
 
Parceria
 
A tecnologia e a abordagem SMART são frutos de uma parceria global de diversas organizações de conservação da natureza. Estão envolvidas nesta iniciativa: Sociedade Zoológica de Frankfurt, Zoológico da Carolina do Norte, Panthera, Fundação Peace Parks, WCS, Wildlife Protection Solutions, o WWF e o Zoological Society of London. Saiba mais sobre o assunto em https://smartconservationtools.org/
 
Depoimentos dos participantes do workshop:
 
Francisca Pimentel, gestora da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Amapá:

“A ferramenta SMART traz um novo olhar em relação a uma gestão mais moderna e eficiente das áreas protegidas. Ela abarca os anseios dos gestores, técnicos e comunitários em alcançar uma gestão que não fique só na colheita e tabulação de dados. Ela permite fazer análises e priorizar a gestão. Da mesma forma, as informações levantadas contribuem na aplicação de políticas públicas para o território”. 
 
Jaime Gomes, gestor da Área de Preservação Permanente (APA) Caverna do Maroaga e da Floresta do Rio Urubu:

“A SMART, como uma ferramenta potencial para coleta, análise e gestão de dados, de maneira sistematizada e integrada com outros sistemas, pode ajudar a orientar as ações de gestão das áreas protegidas da região, envolvendo diversos parceiros”.
 
Gilmar Klein, gestor da Reserva Biológica (Rebio) do Uatumã:
 
“O ICMBio deseja há tempos melhorar a gestão de suas áreas, incorporando as tecnologias a suas atividades diárias. Apesar de já coletarmos diversos dados, as informações ficam espalhadas em várias plataformas e muitas vezes acabam não sendo usadas. A SMART é uma forma de conciliar e organizar essas informações, facilitando seu uso. Além disso, com a popularidade dos smartphones, esta tecnologia é uma chance de trabalhar com a ciência cidadã e engajar diversos atores na coleta de dados, estabelecendo vínculos com os usuários das UC’s e comunidades locais. Sei que a implantação de algo do tipo é um caminho longo, mas toda jornada começa com um primeiro passo”.
 
Osvaldo Barassi Gajardo, Analista de Conservação do WWF-Brasil:
 
“Levar a ferramenta SMART ao Amazonas é uma ação complementar e de grande relevância para contribuir com a pauta de fortalecimento da gestão das Unidades de Conservação desse estado. Junto à definição de estruturas de gestão mais eficientes, um aumento no número de guarda-parques e a adoção de outros instrumentos, será possível aumentar a efetividade de gestão daquelas áreas protegidas, beneficiando a natureza e as comunidades tradicionais”.
Trinta gestores de unidades de conservação participaram do workshop ocorrido nos arredores de Manaus (AM)
Trinta gestores de unidades de conservação participaram do workshop ocorrido nos arredores de Manaus (AM)
© WWF-Brasil/ Felipe Spina Avino
A tecnologia SMART otimiza o uso de dados e informações sobre as áreas protegidas
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© WWF-Brasil/ Osvaldo Barassi Gajardo
Os técnicos da Sema foram a Colômbia conhecer o uso que os hermanos fazem da tecnologia SMART
Os técnicos da Sema foram a Colômbia conhecer o uso que os hermanos fazem da tecnologia SMART
© WWF-Brasil/ Osvaldo Barassi Gajardo
O Amazonas possui em seu território 42 unidades de conservação que podem ser beneficiadas com a adoção da tecnologia SMART
O Amazonas possui em seu território 42 unidades de conservação que podem ser beneficiadas com a adoção da tecnologia SMART
© Drance Jésuz/WWF-Brasil
O workshop que aconteceu em Manaus (AM) foi a primeira capacitação do mundo sobre a tecnologia SMART ministrada em português
O workshop que aconteceu em Manaus (AM) foi a primeira capacitação do mundo sobre a tecnologia SMART ministrada em português
© WWF-Brasil/ Osvaldo Barassi Gajardo
O intercâmbio na Colômbia contou com uma visita ao Parque Natural Nacional Chingaza, que fornece água para Bogotá, a capital daquele país
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© WWF-Brasil/ Felipe Spina Avino
A tecnologia SMART é usada na gestão de áreas protegidas em mais de 55 países
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© Drance Jésuz/WWF-Brasil
Os colombianos usam a tecnologia SMART desde 2013, em quase 60 áreas protegidas daquele país
Os colombianos usam a tecnologia SMART desde 2013, em quase 60 áreas protegidas daquele país
© WWF-Brasil/ Felipe Spina Avino
A tecnologia SMART possibilita o registro de crimes e infrações ambientais, como os garimpos ilegais
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© Adriano Gambarini/ WWF-Brasil
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