Sul do Amazonas: atores sociais enumeram os principais problemas socioambientais da região

junho, 28 2018

Ordenamento fundiário, organização da piscicultura e melhoraria na infraestrutura de telecomunicações foram citados
Por Jorge Eduardo Dantas

Manicoré (AM) – Promover o ordenamento ambiental e fundiário, organizar a piscicultura e melhorar a infraestrutura de telecomunicações são algumas das demandas mais urgentes da região Sul do Amazonas, segundo um grupo de atores sociais reunidos pelo WWF-Brasil recentemente. 

Como parte da construção da Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas (leia mais sobre o assunto abaixo) um grupo de mais de 60 pessoas, de 20 instituições diferentes da calha do rio Madeira, reuniu-se neste mês de junho em Manicoré, município situado a 390 quilômetros de Manaus. 

Os representantes relembraram a história da ocupação da região e elegeram temas e ações prioritários, que podem auxiliar aquela área a alcançar o desenvolvimento social e econômico de maneira organizada e sustentável.
 
Terras não destinadas

“Não acho que seja possível fazer qualquer coisa sem promover o ordenamento fundiário”, disse Antônio Jorge Barros, titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Manicoré (Semades). 

Segundo ele, sem a devida titulação das terras e a ciência de saber quem é dono do quê, não será possível levar opções econômicas viáveis para a região. 

De acordo com o Atlas Fundiário, estudo publicado pelo Imaflora em 2017, existem no Brasil 86 milhões de hectares de “terras não destinadas”, sem dono ou proposito definidos. É uma área equivalente aos estados de São Paulo e Minas Gerais juntos. 

Cerca de 98% dessas terras estão na Amazônia, sendo que o Amazonas (62%) e o Pará (15%) são as unidades da federação com maior percentual de territórios deste tipo. São áreas que estão mais expostas às ações criminosas de grileiros e desmatadores.  

Outras demandas

A organização da piscicultura também foi outra necessidade apontada pelos representantes. Segundo eles, essa atividade econômica enfrenta uma série de dificuldades: deficiências no escoamento da produção, baixa oferta de energia elétrica e elevados preços de insumos. 

As principais espécies cultivadas no Amazonas são: Tambaqui (Colossoma macropomum), Matrinxã (Brycon amazonicus) e Pirarucu (Arapaima gigas). Mais de 21 mil toneladas de pescado foram produzidas em 2015, envolvendo 3,5 mil produtores, segundo dados da Secretaria de Produção Rural. No Sul do Amazonas, Humaitá é o município que apresenta o maior volume de produção. 

A infraestrutura de telecomunicação também foi citada como um grave problema. De maneira geral, os municípios do estado contam com uma Internet cara e ruim, que chega à população via rádio e satélite com séria perda de sinal e baixa velocidade.

Mesmo com esses problemas, o Amazonas foi um dos cinco estados brasileiros que viu, nos últimos doze meses, seu número de linhas móveis de telefonia aumentar  – foram mais de 95 mil novas linhas ativadas em 2017, o segundo maior índice do País, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). 

Esforços conjuntos

A Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas é uma iniciativa liderada pelo WWF-Brasil e pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amazonas (SEMA-AM). Ela tem o objetivo de criar um fórum e um espaço de discussão onde os atores sociais da região possam trocar experiências, desenvolver ações conjuntas, encaminhar demandas comuns e aumentar sua representatividade junto aos centros de decisão. 

A criação da Aliança será oficializada em evento que será realizado no próximo mês na cidade de Humaitá. No entanto, diversas reuniões vêm ocorrendo, nos últimos meses, para colher subsídios e propostas para essa iniciativa. O evento em Manicoré fez parte desse processo. 

“Queremos que a Aliança seja uma construção coletiva, colaborativa e participativa – por isso estamos neste processo de escuta, de colheita e de entender as realidades do Sul do Amazonas”, explicou a analista de conservação do WWF-Brasil Karen Pacheco.

Interações sociais

O presidente da Associação Agroextrativista da comunidade Terra Preta e da comunidade de São José do Uatininga, Getúlio Pereira do Nascimento, afirmou que a Aliança pode ajudar bastante a vida do homem do interior.

“O extrativista fica dentro do mato, não sabe do que acontece, o que se passa. Por isso este tipo de ação é importante: a gente entra em contato com informações que podemos repassar depois para os nossos colegas”, explicou. A Associação trabalha hoje com 225 famílias e produz farinha, castanha, borracha, copaíba e tucumã, entre outros produtos.  

Instituições que queiram contribuir com a Aliança podem fazê-lo obtendo informações por meio dos telefones (92) 3644-3844; (92) 98118-3935; (61) 99640-1512 e (61) 98165-6818.

O Sul do Amazonas

Considerada a “última fronteira” de contenção do desmatamento, o Sul do Amazonas consiste numa área de 42,5 milhões de hectares espalhada pelos municípios de Novo Aripuanã, Manicoré, Humaitá, Lábrea, Boca do Acre, Canutama, Tapauá, Apuí e Maués. 61% deste território é formado por áreas protegidas. Alguns dos problemas ambientais existentes ali são a grilagem de terras, a invasão de áreas protegidas e a conversão da floresta em áreas abertas. 

O WWF-Brasil trabalha na região há mais de uma década – mas ao longo desse tempo, tem concentrado suas ações no município de Apuí. A ideia, com a Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas, é expandir essa atuação e interagir com novos atores.

Entre diversas outras atividades realizadas na área, o WWF-Brasil publicou um estudo socioeconômico e ambiental sobre a região, promoveu um encontro entre diversos atores da área em Humaitá e, em parceria com outras instituições, instalou painéis de energia solar em duas comunidades ribeirinhas.
Participaram do encontro promovido pelo WWF-Brasil atores sociais das cidades de Humaitá, Apuí, Manicoré, Novo Aripuanã e Maués
Participaram do encontro promovido pelo WWF-Brasil atores sociais das cidades de Humaitá, Apuí, Manicoré, Novo Aripuanã e Maués
© Jorge Eduardo Dantas / WWF-Brasil
Na
Na "árvore das expectativas" os participantes colocaram o que esperam da articulação promovida pelo WWF-Brasil e pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente
© Jorge Eduardo Dantas / WWF-Brasil
O Sul do Amazonas é uma região de mais de 42,5 milhões de hectares com diversas belezas naturais
O Sul do Amazonas é uma região de mais de 42,5 milhões de hectares com diversas belezas naturais
© Zig Koch/ WWF-Brasil
Mais de 20 instituições se fizeram presentes no evento realizado em Manicoré, a 390 quilômetros de Manaus
Mais de 20 instituições se fizeram presentes no evento realizado em Manicoré, a 390 quilômetros de Manaus
© Jorge Eduardo Dantas / WWF-Brasil
Artefatos arqueológicos - pouco estudados pela Ciência - também podem ser encontrados na região
Artefatos arqueológicos - pouco estudados pela Ciência - também podem ser encontrados na região
© Zig Koch/ WWF-Brasil
Em 2017, o WWF-Brasil promoveu o primeiro Encontro do Sul do Amazonas, reunindo atores sociais da região para discutir possibilidades de desenvolvimento sustentável
© WWF-Brasil

A castanha do Brasil (Bertholletia excelsa) é o principal produto da Covema, a mais importante cooperativa de Manicoré
A castanha do Brasil (Bertholletia excelsa) é o principal produto da Covema, a mais importante cooperativa de Manicoré
© Jorge Eduardo Dantas / WWF-Brasil
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