WWF-Brasil trabalha com diversos setores para reabilitação de áreas degradadas

dezembro, 23 2022

Especialistas destacam em evento que é possível aumentar a produtividade e os ganhos da pecuária no país sem desmatar mais
Por Daniely Lima, do WWF-Brasil 

O principal uso do solo no Brasil é para pastagens. De acordo com o MapBiomas, 154 milhões de hectares no país atualmente são destinados à pecuária, o que equivale à soma dos territórios da Alemanha, Reino Unido, Espanha, Itália e Portugal ou a 6,2 vezes o tamanho do Estado de São Paulo. Com uma superfície dessa magnitude, o setor produtivo tem nas mãos possibilidades de ganhos econômicos, mas também o poder de promover equilíbrio ambiental. Com o propósito de aprofundar este assunto, o WWF-Brasil reuniu, no final de novembro, representantes de diversos setores e especialistas para debater as oportunidades e os desafios para a reabilitação de áreas degradadas. 

O evento ocorreu em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, o quinto Estado do Brasil com a maior área de pastagem e rebanho bovino. Dados apresentados durante o encontro mostraram que há 5,6 milhões de hectares de pastagens degradadas no Cerrado com potencial econômico para intensificação da pecuária de corte, 4,3 milhões de hectares para a pecuária de leite e 5 milhões de hectares para a soja. 

A série de estudos da qual esses números fazem parte foi liderada pelo Grupo de Trabalho de Áreas Degradadas no Cerrado (GTPastagens), com apoio do projeto Cerrado Resiliente (Ceres), e revela que é possível intensificar e escalonar a reabilitação de pastagens degradadas, melhorar seu rendimento econômico, implementar boas práticas de manejo da terra e de gestão da fazenda e, com isso, aumentar lucros e também reduzir a pressão por novos desmatamentos. 

A importância do envolvimento dos diversos setores 

Para que a reabilitação de áreas degradadas seja feita e todos os seus benefícios sejam alcançados, é necessário que os setores envolvidos com a atividade estejam comprometidos, como explica a analista de Conservação do WWF-Brasil, Laís Cunha.  

“Quando falamos em direcionar a expansão produtiva, precisamos trabalhar com diversos elos da cadeia, incluindo os produtores, as empresas que compram animais dos produtores e as empresas que adquirem produtos manufaturados. Além de instituições financeiras, organizações da sociedade civil e governos, tanto estaduais, quanto municipais e federal”, diz. Por isso, participaram do evento em Campo Grande representantes de empresas, universidades, ONGs, bancos, associações de produtores rurais, entre outros. 

A importância desse trabalho em conjunto tem um porquê. O Brasil tem os mais elevados números de perda de vegetação nativa do planeta. Só no Cerrado, a taxa anual de desmatamento em 2022 foi de 10.689 km², segundo o PRODES Cerrado, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Número recorde dos últimos sete anos e que representa um salto de 25% quando comparado à taxa de desmatamento do ano anterior.  

Esse alarmante cenário de desmatamento traz inúmeros problemas: como redução da biodiversidade, impactos negativos sobre os povos e comunidades tradicionais, agravamento da crise climática e repercute, inclusive, no bolso do setor produtivo, uma vez que o desmatamento aumenta os custos do agronegócio

De toda a área desmatada no Brasil, que já se aproxima de 35% do território nacional, aproximadamente 90% foram ou continuam sendo pastagens, segundo o MapBiomas.  

Em busca de soluções e possibilidades 

Mas existem soluções. “Temos inúmeras possibilidades para recuperar pastagens. Exemplos são a intensificação agropecuária (com ampliação do número de cabeças por hectare) e a conversão de pastagens para a agricultura, como para a produção de grãos”, explica a sócia-gerente da Agroicone, Leila Harfuch. Ainda segundo Harfuch, “há também a possibilidade de implementação de sistemas de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), que permitem a diversificação produtiva, aumentando a resiliência climática e econômica”.

“Hoje temos bastante tecnologia, tanto voltada para a produção agropecuária, quanto tecnologias de mapeamento”, destaca o pró-reitor da Universidade Federal de Goiás e responsável pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), Laerte Ferreira. “Podemos dobrar a produção de alimentos no Brasil sem a necessidade de desmatar um hectare sequer. Podemos ocupar melhor as áreas de pastagens, aumentar a lotação bovina e otimizar o uso dessas pastagens”, afirma.

O professor complementa dizendo que a reabilitação de pastagens representa “um ganho ambiental, pois ao recuperar áreas vamos aumentar o estoque de carbono no solo e diminuir emissões de gases de efeito estufa. É também um ganho social porque envolve pessoas e mobiliza a sociedade. E é um ganho econômico porque áreas degradadas recuperadas são mais produtivas”. 

O tema da reabilitação de áreas degradadas é parte do trabalho do WWF-Brasil, que vê no melhor uso de terras já abertas uma forma de reduzir as altas taxas de desmatamento do país. Por isso, a organização articula e desenvolve projetos e parcerias, entre outras ações, com os mais diversos setores em busca de soluções. 

Conheça os nossos estudos

Sobre o WWF-Brasil 

O WWF-Brasil é uma ONG brasileira que há 26 anos atua coletivamente com parceiros da sociedade civil, academia, governos e empresas em todo país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza. Estamos conectados numa rede interdependente que busca soluções urgentes para a emergência climática. Doe: wwf.org.br/doe 
De acordo com o MapBiomas, 154 milhões de hectares no país atualmente são destinados à pecuária
© Silas Ismael / WWF-Brasil
O tema da reabilitação de áreas degradadas é parte do trabalho do WWF-Brasil, que vê no melhor uso de terras já abertas uma forma de reduzir as altas taxas de desmatamento do país
© Adriano Gambarini / WWF-Brasil
Só no Cerrado, a taxa anual de desmatamento em 2022 foi de 10.689 km², segundo o PRODES Cerrado
© Silas Ismael / WWF-Brasil
Especialistas destacam em evento que é possível aumentar a produtividade e os ganhos da pecuária no país sem desmatar mais
© Silas Ismael / WWF-Brasil
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