“O Parque Nacional do Jaú se consolidou como um lugar privilegiado para a realização de pesquisas”, diz cientista

outubro, 27 2016

Entre 1990 e 2014, foram geradas 196 publicações técnico-científicas sobre o Parque
Por Jorge Eduardo Dantas

Manaus (AM) - O Parque Nacional do Jaú, uma das maiores e mais importantes unidades de conservação da Amazônia, “se consolidou como uma unidade de conservação privilegiada para a implantação de pesquisas científicas”, de acordo com o pesquisador Sérgio Henrique Borges, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

A fala do cientista ocorreu nesta terça (25), em Manaus, durante o primeiro dia do seminário de revisão do plano de manejo do Parque Nacional. Sérgio foi um dos palestrantes convidados e falou sobre a produção científica que vem ocorrendo naquela área protegida desde a década de 90.

Como parte de uma das maiores florestas tropicais da Terra, o Parque Nacional do Jaú auxilia na regulação climática do planeta; é fonte de alimentos e suprimentos para populações tradicionais; fornece água limpa e potável para a bacia do Rio Negro; e estoca carbono em suas árvores, bichos, plantas e solos – ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Números

De acordo com levantamento feito pela pesquisadora Simone Iwanaga, da Fundação Vitória Amazônica (FVA), entre 1990 e 2014 foram produzidas 196 publicações técnico-científicas sobre o Parque Nacional do Jaú. Foram 69 artigos, 38 resumos, 32 dissertações/teses e 28 capítulos de livros. Foram registrados ainda, em menor número, livros, anais, documentos técnicos e cartilhas.  

Excluindo os resumos de eventos, ficam 158 publicações técnico-científicas – uma média de 6 publicações por ano. 44% delas trataram sobre biodiversidade; 20% tocaram em questões sociais, voltadas principalmente aos estudos das comunidades tradicionais existentes na área; e 17% trataram da gestão daquela unidade. Também foram registrados estudos sobre manejo de recursos (8%), meio físico (6%) e saúde (5%).

“Esses dados mostram que o Jaú se consolidou como uma área privilegiada para a implementação de pesquisas científicas multidisciplinares, que tratam não só das ciências naturais”, contou o pesquisador.

Janelas para a biodiversidade

Ainda segundo o levantamento, a maior parte da produção científica ocorrida naquela área aconteceu entre 2000 e 2004, durante a vigência do projeto Janelas para a Biodiversidade – neste período, 63 trabalhos foram publicados. 

Entre 1990 e 1999, foram 26 trabalhos, focados em diagnósticos iniciais – que tinham como finalidade conhecer mais sobre o interior do Parque Nacional do Jaú. Entre 2005 e 2014, foram publicados 59 trabalhos, com foco no monitoramento da biodiversidade já conhecida.

Entre 2007 e 2016, 160 licenças foram emitidas pelo Sisbio para a realização de pesquisas no Parna Jaú. O Sisbio é o sistema, mantido pelo governo federal, que emite licenças para que os cientistas possam coletar material biológico em unidades de conservação brasileiras. A maior parte dessas licenças visava a pesquisa sobre biodiversidade (58% delas) e cerca de 16 autorizações do tipo são emitidas por ano. Contudo, só em 2016, este número já chega a 31 licenças. 

Lacunas

Apesar dos bons números, segundo o pesquisador ainda existem muitas lacunas na pesquisa feita dentro do Jaú. “Hoje muita gente só quer trabalhar com monitoramento. Mas ainda existe bastante coisa desconhecida dentro do Parque, então precisamos voltar a trabalhar com inventários”, disse. No linguajar científico, os inventários são “listas” em que são descritos, por exemplo, os tipos de insetos, plantas ou aves que existem em determinada região.

Sergio disse ainda que o Rio Carabinani, um dos marcos geográficos mais importantes da região, também é pouquíssimo pesquisado e precisa ser mais visado por pesquisadores. “Não é à toa que ele é chamado de ‘o rio esquecido”, contou.

O cientista falou também que, embora veja com bons olhos os números apresentados pelo Parque Nacional do Jaú, é muito difícil fazer comparações entre ele e outros parques nacionais brasileiros – tanto por conta da falta de uma base de dados unificada sobre esse assunto quanto por conta das distintas realidades e contextos que envolvem cada um dos parques. “Esta comparação, para ser feita, precisa de uma investigação profunda que rende, sozinha, uma grande tese de mestrado”, afirmou Sérgio. 

Seminário

Até o final desta semana, diversos pesquisadores, gestores, representantes de comunidades tradicionais e servidores públicos de vários órgãos - federais e estaduais - estarão em Manaus para iniciar o processo de revisão do plano de manejo do Parque Nacional do Jaú. 

A expectativa é que o novo plano de manejo – o documento que ordena o uso dos recursos naturais do Parque - esteja pronto em junho de 2017.

Histórico

O Parque Nacional do Jaú, que fica entre os municípios amazonenses de Barcelos e Novo Airão, foi criado em setembro de 1980 para proteger um território de 2,3 milhões de hectares na região do médio Rio Negro. Seu objetivo é proteger a bacia inteira de um rio de águas doces e pretas, o rio Jaú. 

Este parque foi a primeira área protegida brasileira a incluir, no planejamento e gestão de florestas extensas, as populações tradicionais. Aquela área possui cachoeiras, trilhas e pinturas rupestres que lhe valeram o reconhecimento como Sítio do Patrimônio Mundial Natural e Reserva da Biosfera - dois títulos que reconhecem a necessidade e importância de proteger e manter aquele lugar para as próximas gerações.
Foto da foz do rio Carabinani, no Parque Nacional do Jaú
O rio Carabinani precisa ser mais conhecido e pesquisado, segundo cientistas
© Marcos Amend/ ICMBio
A gestora do PN do Jaú, Mariana Leitão, afirmou que o seminário é o
A gestora do PN do Jaú, Mariana Leitão, afirmou que o seminário é o "pontapé inicial" do processo de revisão do plano de manejo da UC
© Jorge Eduardo Dantas / WWF-Brasil
Paisagem da
A "Praia da Velha" é uma das paisagens mais belas do Parque Nacional do Jaú
© Josângela Jesus / ICMBio
retrato do pesquisador Sérgio Henrique Borges
O pesquisador Sérgio Henrique Borges: "Ainda existe bastante coisa desconhecida dentro do Parque Nacional do Jaú"
© Jorge Eduardo Dantas / WWF-Brasil
A Trilha do Itaubal é uma das mais bonitas atrações existentes no Parque Nacional
A Trilha do Itaubal é uma das mais bonitas atrações existentes no Parque Nacional
© Marcos Amend/ ICMBio
A pesquisadora Muriel Saragoussi, da Fiocruz, concede entrevista a jovens comunicadores do Parque Nacional do Jaú
A pesquisadora Muriel Saragoussi, da Fiocruz, concede entrevista a jovens comunicadores do Parque Nacional do Jaú
© Jorge Eduardo Dantas / WWF-Brasil
Seminário ocorre essa semana em Manaus e discute o passado e o futuro do PN do Jaú
Seminário ocorre essa semana em Manaus e discute o passado e o futuro do PN do Jaú
© Jorge Eduardo Dantas / WWF-Brasil
Criada em 1980, o Jaú é uma das mais antigas unidades de conservação da Amazônia
Criada em 1980, o Jaú é uma das mais antigas unidades de conservação da Amazônia
© Josângela Jesus / ICMBio
Mais de 50 pessoas - entre pesquisadores, gestores, representantes de populações tradicionais - participaram do seminário ocorrido esta semana
Mais de 50 pessoas - entre pesquisadores, gestores, representantes de populações tradicionais - participam do seminário
© Jorge Eduardo Dantas / WWF-Brasil
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