WWF-Brasil busca valorizar a borracha nativa da Amazônia

junho, 18 2014

A borracha está presente em mais coisas no nosso dia a dia do que costumamos lembrar
Pneus, bolas, tênis, luvas domésticas, elástico... A borracha está presente em mais coisas no nosso dia a dia do que costumamos lembrar, e como é o caso da maior parte dos produtos florestais, só damos importância quando ela falta. A borracha é feita a partir do látex extraído da seringueira (Hevea brasiliensis), que hoje é encontrada em diversos países do mundo, como Malásia, Sri Lanka, boa parte da América do Sul e do continente africano tropical, mas a origem da árvore é a bacia hidrográfica amazônica, onde existia em abundância e com exclusividade.

Uma seringueira produz em média 1,7 kg de látex por mês e 4,5 litros por ano e em cada estrada de seringa – trilha de cerca de 1 ha aberta na floresta para ter acesso às seringueiras – existem aproximadamente 100 árvores de seringa. Para que as seringueiras mantenham-se vivas e saudáveis na Amazônia, é necessário que estejam em meio à floresta. As experiências locais de monocultivo são recentes, porém nada se compara ao ambiente natural das árvores.

Como forma de ajudar a manter um bilhão de árvores em pé, garantindo a sobrevivência das seringueiras e o sustento econômico dos produtores locais, o projeto Protegendo Florestas (Sky Rainforest Rescue) – parceria entre o WWF-Brasil, WWF-Reino Unido, a rede de TV britânica Sky e o Governo do Acre – tem ajudado a melhorar as condições de mercado da borracha nativa da Amazônia, assim como de outros produtos locais, como o açaí e o pirarucu. Desta forma, as pessoas podem sobreviver sem precisar desmatar grandes áreas ou causar danos à Floresta Amazônica. Porém, dentre os principais gargalos dos produtos extrativistas, encontram-se a pequena escala de produção, a sazonalidade dos produtos, a alta qualidade exigida pela demanda – onde muitas vezes é difícil manter um padrão –, bem como a falta de mercados que entendam e saibam lidar com essas peculiaridades.

No final de março, o WWF-Brasil realizou reuniões com diversos atores que podem ser potenciais parceiros na valorização da borracha nativa do Acre, como a empresa Mercur, que visitou a área do projeto em maio para elaborar um contrato de compra e venda com a Cooperativa Agroextrativista de Tarauacá. Essa estratégia visa estabelecer relações comerciais justas, onde as organizações têm autonomia e capacidade de liderar os processos diretamente com as empresas. Além disso, houve uma visita ao Centro de Tecnologia em Polímeros do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, onde foi discutida a possibilidade de elaboração de um projeto para o desenvolvimento de uma linha de produtos específicos utilizando a FDL (Folha Líquida Defumada) como matéria-prima.

Outro avanço foi a conversa com o Laboratório de Tecnologia Química da Universidade de Brasília (Lateq/UnB), que já tem estudos com cosméticos e alimentos dentro do contexto de valorização dos produtos da floresta e foi fundamental no âmbito do projeto Protegendo Florestas no desenvolvimento de tecnologias que agregam maior valor econômico à borracha amazônica (como é o caso da FDL e da Folha Semi-Artefato – FSA) e melhoram a qualidade de vida dos moradores da floresta. Alternativas tecnológicas para a diminuição do odor da borracha e melhoria da qualidade também estão sendo desenvolvidas e em breve serão disseminadas aos seringueiros. Kaline Rossi, analista de conservação do WWF-Brasil, afirma que “com a perspectiva de produção de 10 a 30 toneladas, o estabelecimento de linhas de produtos específicos e a inclusão das mulheres dentro do processo produtivo (característica forte da cadeia da FDL e FSA), o seringueiro e as comunidades garantirão sua independência e autonomia financeira nos próximos anos, além de cuidarem e manterem a floresta em pé. Essa viagem foi um importante passo nesse sentido”.

Protegendo Florestas

O projeto Protegendo Florestas (Sky Rainforest Rescue) é uma parceria entre WWF-Brasil, WWF-Reino Unido, a rede britânica de TV Sky e o Governo do Acre que busca dar alternativas aos moradores locais para viver da floresta sem precisar desmatar. Desde 2009, o projeto vem desenvolvendo ações de apoio ao Sistema de Incentivos aos Serviços Ambientais do Acre (Sisa), ao Programa de Certificação Ambiental de propriedades rurais familiares, e às cadeias produtivas agroextrativistas nos municípios de Manoel Urbano, Feijó e Tarauacá, no estado do Acre. Em 2013, o projeto foi condecorado com o prêmio de melhor parceria de caridade no Business Charity Awards, em Londres.  
Tecnologia FDL tem ajudado na melhoria das condições de mercado da borracha amazônica
Tecnologia FDL tem ajudado na melhoria das condições de mercado da borracha amazônica
© Simon Rawles / WWF UK
Extração de latex no Acre
© WWF-Brasil / Fernanda Melonio
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