Organizações do Peru, Bolívia e Brasil farão zoneamento conjunto da bacia do Rio Acre
novembro, 24 2015
Trabalho tem como objetivo ajudar no ordenamento territorial e aperfeiçoar políticas públicas
Rio Branco (AC) - Uma série de organizações do Peru, Brasil e Bolívia acordaram, nos últimos dias, a realização de um novo zoneamento para a bacia do Rio Acre. Desta vez, porém, a ideia é realizar o processo considerando toda a extensão do rio e sua bacia hidrográfica – e não apenas nas regiões e países específicos, como foi feito anteriormente. A bacia do Rio Acre possui 310 mil quilômetros quadrados que se estendem pelos três países na Amazônia Sul Ocidental.
A ideia da mobilização é ajudar no ordenamento do território daquela área, auxiliando os governos da região a implementar políticas públicas mais eficientes.
Para isso, faz-se necessário levar em consideração os serviços ecossistêmicos e a vocação natural de determinadas áreas. Também é necessário identificar as estratégias de uso da terra que sejam mais eficientes para promover a melhoria econômica das populações locais e garantir a conservação da biodiversidade da região.
Assim será possível manter a resiliência daquela bacia hidrográfica e ajustá-la aos planos de desenvolvimento de cada país. “Resiliência” é um termo utilizado para explicar a capacidade de certos corpos de voltar à forma original depois de alguma pressão ou deformação. Aplicado às ciências naturais, ele diz respeito a capacidade que um ambiente tem de resistir a mudanças ou alterações.
Projeções de cenários
De acordo com o analista de conservação do WWF-Brasil Kennedy Souza, a primeira etapa deste trabalho será a reunião de informações. “Precisamos saber, entre outras coisas, como recursos naturais, vias de acesso, regimes de propriedade, populações e atividades econômicas estão distribuídas”, afirmou. Por isso, é preciso ter dados sobre florestas, água, estradas, ramais, áreas protegidas e reservas indígenas, por exemplo.
Em seguida, esses dados serão inseridos num software específico, que vai gerar mapas com projeções de cenários para a bacia do Rio Acre. Esses mapas serão analisados junto com os atores sociais locais - governos, sociedade civil e setor privado – e ajudarão a definir estratégias para conciliar a conservação dos recursos naturais e os ganhos econômicos locais. “Queremos que os tomadores de decisão usem essa informação como subsídio para melhorar e aperfeiçoar as políticas públicas”, disse Kennedy.
Outro diferencial desse trabalho é o de realizar o zoneamento considerando não só uso da terra, mas também os serviços ecossistêmicos. “Qual é a quantidade de chuva gerada pela bacia do Rio Acre? Quanto de carbono temos guardado nesta região? Quais os nutrientes existem no solo dessa área? Temos noção da biodiversidade que se estende por esses três países? Tudo isso precisamos e devemos saber”, questionou o especialista.
Investigação
O coordenador da Estratégia de Combate ao Desmatamento e de Incentivo à Economia Florestal da Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF, André Dias, lembrou que o Rio Acre já possui zoneamentos realizados – um em sua porção acriana e outro na região de Madre de Díos, no Peru. “Mas ainda precisamos de um enfoque regional e integrado, tratando toda essa área como uma única unidade de manejo”, explicou.
André disse também que os dois zoneamentos foram realizados há alguns anos, quando certos conceitos e capacidades técnicas não eram muito difundidos. “Essa região da bacia do Rio Acre ainda carece de investigação. Não há uma base de dados unificada e não sabemos ainda o impacto das atividades humanas na provisão de serviços ecossistêmicos e na qualidade de vida de toda aquela população da região transfronteiriça”, disse.
Parcerias
Uma agenda de trabalho está sendo definida para levar a cabo a iniciativa, que deve ser concluída nos próximos seis meses. O processo vai contemplar compilação de dados e informações oficiais disponíveis, confecção de mapas, avaliação e apresentação desses mapas e capacitações de servidores de governos, prefeituras e representantes da sociedade civil no Peru, na Bolívia e no Brasil.
De acordo com Kennedy Souza, a participação de atores sociais dos três países é importantíssima nesta empreitada. “É fundamental, desde o início do planejamento das atividades, a participação dos governos das regiões de Pando (Bolívia), de Madre de Díos (Peru) e do Acre (Brasil), assim como algumas prefeituras desses estados subnacionais e da sociedade civil”, explicou.
Mobilização
Este pacto de ação trinacional para a bacia do Rio Acre foi definido na décima edição do Fórum MAP – Madre De Díos, Acre e Pando. Organizado por governos, universidades e sociedade civil desde 2000, o fórum reúne políticos, representantes de órgãos públicos, cientistas, movimentos sociais e ativistas dos três países para discutir os grandes desafios e oportunidades relacionadas àquela região trinacional.
Em 2015, o Fórum ocorreu em Rio Branco (AC), no campus da Universidade Federal do Acre. Como parte da programação, o WWF-Brasil, a Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF e os escritórios WWF do Peru e da Bolívia promoveram grupos de trabalho sobre planejamento e gestão territorial ecossistêmica.
Representante da Iniciativa Amazônia Viva, André Dias comentou que a troca de informações e a definição de próximos passos foram muito importantes. “Queremos evitar que o impacto dos eventos climáticos extremos que a região tem experimentado se agravem no futuro. Para isto é importante manter a resiliência do bioma amazônico, fortalecer as capacidades locais, apoiar cadeias produtivas e consolidar os zoneamentos já existentes”, declarou.
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