Mosaico Sertão Veredas Peruaçu mostra avanços nas ações de conservação

julho, 15 2015

Resultados de estudos e projetos ressaltam foco na valorização socioambiental da região
Por Letícia Campos

Nos dias 09 e 10 de julho, o WWF-Brasil participou da 21ª reunião do Conselho Consultivo do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu (MSVP), na Chapada Gaúcha-MG, que contou com a presença de cerca de 30 representantes da sociedade civil e do governo.

Na ocasião, o WWF-Brasil apresentou os resultados de um estudo que avalia a efetividade de quatro mosaicos de Unidades de Conservação, entre eles o Sertão Veredas Peruaçu que alcançou maior número, ou seja, 80% de efetividade.

O mosaico, segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), é um conjunto de Unidades de Conservação de categorias diferentes ou não, cuja gestão deve ser feita de maneira conjunta e integrada. “Por ser um modelo inovador em termos de proteção de áreas, o real benefício do mosaico para a gestão territorial e integrada e o desenvolvimento sustentável ainda é pouco conhecido”, explicou Kolbe Soares, analista de conservação do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil.

Segundo ele, o propósito do estudo foi justamente “avaliar se o reconhecimento de mosaicos está contribuindo para ampliar a escala de conservação de forma a manter processos importantes para a funcionalidade do ecossistema, bem como fortalecer a cooperação entre as áreas protegidas e as organizações atuantes no território para o alcance de seus objetivos de conservação”.

Outro trabalho mostrado na ocasião foi o do Projeto de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) do Cerrado. A iniciativa, liderada pela ONG Funatura, tem realizado capacitações com foco na organização da cadeia produtiva do extrativismo vegetal dos frutos do Cerrado. O Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA) também falou dos avanços do Projeto de ATER Agroecologia, que da mesma maneira busca a organização da cadeia produtiva extrativista, especialmente, do Buriti, palmeira abundante nas inúmeras veredas existentes pelo território do Mosaico. Ambas organizações são conselheiras do Mosaico.

Durante a reunião o Grupo de Trabalho “Carinhanha Vivo” falou da proposta de promover uma expedição pelo Carinhanha - principal rio da região e um importante tributário do São Francisco, que de acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) aumenta em 20% de volume de água ao desaguar no São Francisco. A intenção da ação é visitar os pontos onde têm previstas as construções das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Usinas Hidrelétricas (UHEs), aproveitando a oportunidade para dialogar com as comunidades que serão impactadas a fim de alertar sobre os danos que serão causados neste rio, caso os empreendimentos sejam implementados.

O Grupo de Trabalho do Cadastro Ambiental Rural (CAR) também expôs sobre o andamento da aplicação desse instrumento para auxiliar no processo de regularização ambiental de propriedades e posses rurais do território do Mosaico.

Kolbe, que está na coordenação do GT, conta que “o CAR ainda segue como um desafio no território, já que foi cadastrado um índice baixo de propriedades rurais até o momento, apesar dos esforços das organizações integrantes do Mosaico”.

Para finalizar, o Instituto Rosa e Sertão, entidade que também é membro do Conselho, informou que mais uma etapa de oficinas foi cumprida pelo projeto de “Turismo Ecocultural de Base Comunitária” no MSVP. Esta iniciativa trata da elaboração de roteiros e identificação de pontos turísticos da região, com vistas a promoção do turismo comunitário, aliado à conservação da biodiversidade, ao desenvolvimento sustentável e à valorização da diversidade cultural.

Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas

A Chapada Gaúcha foi palco de mais um encontro de Povos do Grande Sertão Veredas neste último final de semana. O evento, que é tradicional no território do Mosaico, promove há quatorze anos apresentações de danças e músicas tradicionais com artistas locais, exposições, feiras de produtos agroextrativistas do Cerrado, exibição de filmes, debates e oficinas de capacitação sobre diversos temas.

Para Meiry Gobira, da Agência de Desenvolvimento Local e organizadora do evento “é muito interessante perceber nas apresentações o resgate da rica cultura local, uma vez que tem a participação de pessoas de 4 até mais de 80 anos de idade, numa clara demonstração da perpetuidade dos costumes e tradições dos povos do Cerrado, cumprindo com o objetivo principal do Encontro que é manter viva a chama da cultura tradicional”.

Caminho do Sertão: De Sagarana ao Grande Sertão Veredas

O primeiro dia do encontro coincidiu com a chegada dos mais de 50 caminhantes que, pelo segundo ano consecutivo, percorreram a pé 150 km de travessia entre a Estação Ecológica Sagarana em Arinos-MG e o Parque Nacional Grande Sertão Veredas em Chapada Gaúcha-MG, no período de sete dias. Eles foram recebidos com uma mesa de produtos típicos do Cerrado, preparado pela Cooperativa Agrissilviextrativista Sertão Veredas.

Foram percorridos aproximadamente 25 quilômetros por dia, sendo que eram realizadas oficinas de capacitação e intercâmbio cultural com as comunidades inseridas no roteiro da caminhada.

Entusiasmado, Almir Paraca, um dos idealizadores do Projeto, crê que a partir do esforço de entender o pertencimento daquelas comunidades ao território é possível se aproximar do escritor Guimarães Rosa. A obra dele serve para trabalhar a cultura da região, promover a autoestima pessoal e auxiliar a identificação das pessoas com a riqueza do território.

Em Sagarana, primeiro assentamento de reforma agrária da região, implantado na década de 1970, criou a Reserva Biológica de Sagarana como forma de compensação, onde ocorre anualmente o Festival “Sagarana: Feito Rosa para o Sertão”. No ponto de chegada está Chapada Gaúcha, cidade sede do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Em Chapada ocorre, todo mês de julho, o “Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas”.
Durante a reunião do Conselho do MSVP, integrantes apresentam resultados de estudos e projetos realizados na região
© Meiry Gobira/ADISC
Atração cultural no Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas
© Meiry Gobira/ADISC
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