Soja adota salvaguardas ambientais

maio, 28 2009

Encontro da Mesa Redonda da Soja Responsável termina em Campinas.
Por Gadelha Neto

Campinas, Brasil – Representantes dos setores de produção, industrialização e comercialização da soja deram, hoje, um passo importante para a adoção de boas práticas socioambientais de produção, buscando reverter um passado de desmatamento, concentração de terras, desalojamento de comunidades tradicionais e destruição de habitats naturais em todo o mundo.

Nesta quinta-feira (28), participantes da Mesa Redonda Internacional sobre Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês) aprovaram, por unanimidade, a implementação de um programa voluntário de adoção de critérios para a redução de impactos negativos da soja sobre o meio ambiente e as comunidades, em todo o mundo, em especial na América Latina.

As medidas de proteção ambiental incluem a proibição do desmatamento de áreas de alto valor ecológico, o que contribuirá para a redução da emissão de gases de efeito estufa e do uso de agrotóxicos na produção daquela commodity.

“Nós comemoramos a decisão dos membros da Mesa Redonda, mas agora começa o trabalho difícil de aprimoramento dos padrões durante os próximos 12 meses”, disse Cássio Moreira, coordenador do Programa Agricultura e Meio Ambiente do WWF-Brasil e membro da Mesa Diretora da RTRS. “Todos devem se envolver a fundo neste processo, especialmente os compradores, que precisam demonstrar seu compromisso de apoio à implementação destes critérios, remunerando melhor a soja produzida de acordo com os padrões da RTRS.

O acordo é resultado de anos de diálogo entre o WWF e outras organizações não-governamentais, produtores e a indústria da soja, que culminou com a quarta Conferência Anual, esta semana, em Campinas (SP). A RTRS conta, hoje, com mais de 100 membros, incluindo alguns dos principais representantes da iniciativa privada com interesse na cadeia de produção da soja, como esmagadoras, agricultores, indústria alimentícia, atacadistas, varejistas, instituições financeiras e organizações da sociedade civil – sociais e ambientais.

O programa baseia-se no estabelecimento de padrões – princípios e critérios – para a melhoria da produção da soja. Os critérios temporários serão avaliados em programas-piloto entre vários produtores e, depois, revisados, antes da próxima conferência da Mesa Redonda, em 2010, quando os membros da RTRS votarão um texto final de longo prazo para estes padrões.

Alguns dos padrões temporários exigem dos produtores:

- O cumprimento da legislação e a adoção de boas práticas de comércio.

- A manutenção de boas condições de trabalho e pagamento justo de salários e encargos aos trabalhadores.

- O estabelecimento de uma relação amigável e justa com as comunidades, em especial em relação às questões envolvendo posse de terras.

- Utilização de boas práticas agrícolas, tais como a redução de erosão, do uso de água e da poluição, bem como a redução ao mínimo e uso adequado de defensivos agrícolas.

A RTRS precisa, agora, manter o ritmo, para desenvolver um sistema de verificação do cumprimento das exigências e estabelecer métodos de acompanhamento da soja.

A expansão da produção de soja tem conduzido a uma perda dramática de habitats, especialmente em florestas e savanas (como o Cerrado brasileiro), principalmente na América do Sul. Sua expansão também ameaça o modo de vida das comunidades tradicionais. Lavouras de soja já substituíram parte considerável de savanas e Cerrados e começam a se alastrar pela Amazônia. A agricultura como um todo já contribuiu para o desaparecimento quase completo da Mata Atlântica – restam apenas 7% deste bioma – desde o Brasil até o Paraguai, cenário que poderia se repetir em outras regiões com o aumento da demanda, podendo dobrar até 2050.

A soja é utilizada na produção de óleos comestíveis, alimentos e na alimentação animal. Mais recentemente, cresce a demanda pelo óleo de soja na produção de biocombustíveis para atender à crescente necessidade de energia.