Que Brasília está completando 50 anos de vida, todo mundo já sabe. Mas o que poucos sabem é que a região da cidade é a única a abrigar uma espécie de peixe muito peculiar: o pirá-Brasília (Simpsonichthys boitonei).

A espécie foi descoberta durante a construção da capital, quando a terra vermelha revolvida com as obras ainda se destacava no verde do Cerrado do Planalto Central. O peixinho foi encontrado em brejos próximos ao riacho Fundo, um dos afluentes do lago Paranoá, no local em que hoje fica o Jardim Zoológico.

Na verdade, o pirá-Brasília vive em lagoas rasas que se formam uma vez por ano, durante o período das chuvas, e secam com a estação seca, que em Brasília é longa e acentuada. Quando as lagoas secam, os peixinhos morrem, mas deixam escondida embaixo da terra a garantia de seu retorno assim que voltar a chover.

Mas como foi que eles chegaram aqui?

Antes de morrer, o pirá-Brasília deposita seus ovos no solo da lagoa. Esse é um trabalho compartilhado pelo macho e pela fêmea.

Os ovos ficam sob a terra seca, esperando a chuva, num estado chamado de diapausa. Até que, depois das primeiras chuvas, o contato com a água faz os ovos eclodirem. Os filhotes de peixe, chamados alevinos, se desenvolvem rapidamente, já que o ciclo de vida do pirá-Brasília é muito curto.

Em cerca de dois meses o pirá-Brasília atinge a maturidade. Um desavisado que encontrar os peixinhos dentro de uma lagoa recém-formada pode se perguntar: como foi que eles chegaram aqui?

Agora você já sabe: o pirá-Brasília não cai do céu, ele brota da terra!

Por que eles estão ameaçados?

O pirá-Brasília é endêmico do Distrito Federal, ou seja, ele só existe nesse local. As lagoas em que vive o peixinho se formam em veredas de buritis ou em brejos próximos às matas de galeria.

Com o crescimento urbano e populacional do Distrito Federal, as matas que formam as lagoas em que vive o pirá-Brasília estão ameaçadas. O assoreamento, resultante do desmatamento e a poluição dos rios e lagoas representam a principal ameaça a essa espécie. Se as lagoas não voltam a se formar com a chegada da chuva, os ovos depositados antes da seca não vão eclodir, e o pirá-Brasília corre o risco de desaparecer.

Para piorar a situação, além das matas estarem sendo poluídas ou transformadas em áreas urbanas e agrícolas, o pirá-Brasília atrai criadores de peixes ornamentais por sua beleza. Os aquaristas, como são conhecidos, pescaram tanto o peixinho que ele quase não existe mais.

Por isso, a espécie está nas listas de animais ameaçados de extinção da União Mundial para a Natureza e do Ministério do Meio Ambiente.

Atualmente, o pirá-Brasília só é encontrado na Reserva Ecológica do IBGE, uma unidade de conservação inserida na zona de vida silvestre da Área de Proteção Ambiental Gama – Cabeça de Veado.
O pirá-Brasília (Simpsonichthys boitonei) vive em lagoas rasas que se formam uma vez por ano, ... 
© Pedro de Podestà
O pirá-Brasília (Simpsonichthys boitonei) vive em lagoas rasas que se formam uma vez por ano, durante o período das chuvas.
© Pedro de Podestà

O pirá-Brasília (Simpsonichthys boitonei) vive em lagoas rasas que se formam uma vez por ano, durante o período das chuvas.

Vermelho com bolinhas prateadas

As fêmeas do pirá-Brasília são castanho-claras e têm uma ou duas pintas pretas no corpo.
© As fêmeas do pirá-Brasília são castanho-claras e têm uma ou duas pintas pretas no corpo. © Pedro de Podestà

Os machos e fêmeas da espécie são bem diferentes um do outro. As fêmeas medem cerca de dois centímetros, são castanho-claras e têm uma ou duas pintas pretas no corpo. Suas nadadeiras são quase transparentes.

Os machos, por sua vez, medem mais ou menos 2,5 centímetros e são bem mais enfeitados do que as fêmeas. Eles têm cor avermelhada e faixas e pintas azul-metálicas espalhadas pelo corpo, inclusive nas nadadeiras.

Eles se alimentam de pequenos insetos, algumas algas e até mesmo vegetais.

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