© Daniela Venturato / WWF-Brasil

Parceria para combater o fogo no Pantanal

22 outubro 2020    

Doação feita pelo WWF-Brasil para o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) em novembro de 2019 contribui para o trabalho do Corpo de Bombeiros no estado


Corumbá, em Mato Grosso do Sul, é o município que soma o maior número de queimadas no país em 2020. Responde por 12,7% de todos os focos de fogo detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre 1o de janeiro e 15 de outubro - e por impressionantes 38% dos 20.796 focos registrados no Pantanal brasileiro. A situação na região ficou tão dramática que o principal acesso a Corumbá, pela BR-262, chegou a ser interditado devido à fumaça. Não por acaso, cenas de animais carbonizados e das chamas que destruíram cerca de 23% do bioma chocaram o mundo.

Com a falta de ação do governo federal, que  limitou a atuação adequada das brigadas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), boa parte do trabalho de combate ao fogo em Mato Grosso do Sul foi conduzida por órgãos estaduais, sob a coordenação do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul). “Estamos há um ano lidando com as queimadas, saindo de uma situação e entrando em outra. Só em fevereiro tivemos uma pequena trégua”, destaca Leonardo Tostes Palma, gerente de Unidades de Conservação do Imasul.

Para ajudar a debelar as chamas, em novembro de 2019, o WWF-Brasil doou para o Imasul três kits compostos por lança jato com capacidade de armazenamento de 600 litros d’água. Instalados em carrocerias de caminhonetes, esses equipamentos permitem que bombeiros possam combater o fogo em locais de difícil acesso para grandes viaturas. Neste ano, eles foram empregados, por exemplo, em incêndios nos municípios de Corumbá e Aquidauana. “O nosso foco hoje são as unidades de conservação”, afirma Palma. Entre as mais ameaçadas no Pantanal sul-mato-grossense estão os parques do Pantanal do Rio Negro, das Várzeas do Rio Ivinhema e da Serra da Bodoquena.

O WWF-Brasil integra o Comitê Interinstitucional de Prevenção a Incêndios Florestais. “Atuamos junto aos governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, apoiando a elaboração de uma campanha de combate e prevenção, além da doação de equipamentos”, explica Julia Boock, analista ambiental do WWF-Brasil. “Entendemos que são necessárias ações de curto a longo prazo, desenvolvendo trabalhos emergenciais e preventivos, como treinamentos e sensibilização da sociedade quanto ao manejo do fogo”.

Mas o fogo foi tão intenso neste ano que em algumas regiões nem mesmo as caminhonetes conseguiam chegar. Segundo o Inpe, o número de focos de queimadas no Pantanal brasileiro saltou 222% de 1o de janeiro a 15 de outubro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2019. Um recorde. Tanto que o Imasul contratou 400 horas de voos para o combate aéreo às chamas. “A gente nunca usou tanta hora de voo como desta vez”, frisa Palma. Em setembro, Mato Grosso do Sul tinha 1.050 pessoas atuando diretamente no enfrentamento às queimadas. Bombeiros do Paraná e de Santa Catarina reforçaram as equipes.

Espécies endêmicas de animais e de plantas podem ter sido perdidas para sempre no Pantanal. Foi uma reprise do que já havia ocorrido no ano passado, uma tragédia anunciada por especialistas em um cenário de altas temperaturas, seca histórica, desmatamento e desobediência às leis ambientais. Os focos de calor começaram a crescer no bioma antes da temporada seca - a partir de março. E, mesmo com a proibição de uso do fogo decretada pelo governo no início do segundo semestre, os números de focos só cresceram. Parte desses incêndios criminosos, de acordo com investigação da Polícia Federal no âmbito da Operação Matáá, foi provocada por pecuaristas.