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Redução de danos a animais silvestres impactados pelas queimadas é tema de evento realizado pela SOS Amazônia

Seminário sobre resgate de fauna no foco

11 de agosto de 2020

Imagens de animais mortos, feridos e acuados pelas queimadas na Amazônia correram o mundo no ano passado, evidenciando mais um entre os graves problemas decorrentes do fogo no bioma: a perda da fauna. Quando conseguem fugir das chamas, muitos bichos perdem a vida atropelados em estradas de terra e vias urbanas – ou mesmo atacados por animais domésticos.

A cada “verão amazônico”, período entre junho e setembro, a preocupação cresce. Dados divulgados na sexta-feira (7) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que os alertas de desmatamento na Amazônia Legal, de 1o de agosto de 2019 a 31 de julho de 2020, chegaram a 9.205 km2, alta de 33% na comparação com os 12 meses anteriores. Quanto mais floresta é derrubada, maior é a probabilidade de queimadas, no tradicional e perverso ciclo de corte e queima no bioma.

Para mitigar os efeitos das chamas sobre os animais, a ONG SOS Amazônia realizou, com o apoio do WWF-Brasil, o seminário online “Cuidados e Procedimentos de Resgate de Fauna Afetada pela Atividade do Fogo no Estado do Acre”. Entre junho e julho, durante um mês, integrantes de organizações da sociedade civil, da academia, de órgãos de proteção e de fiscalização ambiental debateram essa questão para estabelecimento de protocolos.

A atividade faz parte de uma série de ações decorrentes de uma parceria firmada entre a SOS e o WWF-Brasil no ano passado. No âmbito desse contrato, por exemplo, também foi criada uma brigada de combate ao fogo para atuar em unidades de conservação nos vales do Juruá e Tarauacá/Envira, no Acre. 

Naquela região, a instituição que trabalha mais diretamente no resgate de fauna silvestre é o Corpo de Bombeiros. As espécies mais capturadas são o tamanduá-mirim, a preguiça-real, jiboias, tatus, corujas e outras aves. Entre 1o de janeiro e 21 de julho deste ano, a corporação atendeu 1.596 ocorrências de resgate de animais, quase 30% a mais do que no mesmo período de 2019. Historicamente, o pico se dá na temporada de fogo.

De acordo com o major Cláudio Falcão, chefe da Divisão de Comunicação do Corpo de Bombeiros, 90% desses atendimentos estão relacionados a espécies silvestres. “São animais que fogem das queimadas, vão para as ruas e adentram nos quintais das casas. Fazemos tanto a captura quanto o resgate. O resgate é quando ele precisa de cuidados e levamos para tratamento, e a captura é quando ele aparenta boas condições e o devolvemos para a natureza”, explica. “Também encontramos animais mortos, geralmente quando estamos combatendo queimadas, mas esses não contabilizamos”, acrescenta o oficial. 

Os que necessitam de cuidados veterinários são levados pelos bombeiros para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Há 23 Cetas em atividade no Brasil. Além dos Bombeiros, os animais podem chegar ao Cetas por meio de operações de fiscalização do Ibama, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Polícia Militar ou outros órgãos de segurança, além da própria comunidade. 

Após passar por todas as avaliações veterinárias e ficar em quarentena, os bichos podem voltar para a natureza ou ser direcionados para criadores particulares cadastrados e zoológicos. Para esses lugares vão os que ficam com sequelas, como queimaduras graves ou perda de algum membro. “Os animais são recebidos, precisam ter uma identificação de espécie, porque a partir disso é preciso ter uma alimentação adequada. Fazemos o registro e a triagem: se é ave, réptil, mamífero”, salienta Elaine Oliveira, chefe do Cetas Acre. “Avaliamos a condição física. Se o animal está saudável, vai para a soltura imediata. Quanto menos tempo passar com a gente, melhor para a sobrevivência do bicho”. 

Entre as espécies mais comuns que vão para a soltura imediata estão as jiboias, as preguiças e os tamanduás-mirins. No Acre, 200 animais silvestres foram recebidos pelo Cetas em 2019 – um aumento de 43% na comparação com 2018. O período com a maior quantidade de recebimento se dá justamente entre junho e setembro, os meses das queimadas na Amazônia.

A partir do seminário, a proposta foi construir um relatório metodológico para padronizar as técnicas de resgate e captura de animais silvestres durante as queimadas. “Nossa intenção foi capacitar os agentes envolvidos no combate ao fogo para que, ao encontrarem animais, saibam a forma correta de fazer a captura e, assim, reduzir os danos à fauna. É preciso evitar estressar mais ao animal para que ele possa chegar ao centro de triagem da melhor forma possível, ser tratado e, no momento certo, ser devolvido à natureza”, resume Luiz Henrique Medeiros, biólogo e consultor da SOS Amazônia. 

Ameaça nas Unidades de Conservação  

Quase 75% das 265 espécies de animais e vegetais que correm o risco de extinção na Amazônia estão em Unidades de Conservação (UCs). Mas um estudo do WWF-Brasil mostra que nem nesses locais, que foram concebidos para proteger a fauna e a flora, a segurança é completa. Sucessivos aumentos de desmatamento e fogo são as principais preocupações de especialistas.
 
De acordo com esse trabalho, 39 espécies de fauna e 16 de flora ameaçadas ocorrem nas 10 UCs da Amazônia que registraram os maiores índices de focos de queimadas entre setembro do ano passado e junho de 2020.

Entre as espécies animais, as cinco que estão em situação mais delicada são: tico-tico-de-máscara-negra, azulona, tatu-canastra, tamanduá-bandeira e caiarara. Elas são as mais vulneráveis justamente porque são altamente afetadas pelo fogo e seus habitats estão sendo destruídos. “Combater as queimadas é fundamental”, alerta Gabriela Moreira, ponto focal para espécies ameaçadas de extinção no WWF-Brasil. “Se nem nas Unidades de Conservação há segurança, qual é a garantia que teremos sobre a aplicação de políticas públicas construídas nas últimas décadas para a proteção de espécies?”, acrescenta. Organizações da sociedade civil estão agindo, o que falta são ações mais efetivas por parte dos governos para coibir crimes ambientais.