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IMASUL, EMERGÊNCIA AMAZÔNICA
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PROJETO PERMITE A ESTRUTURAÇÃO DE BRIGADAS ANTI-INCÊNDIO NA AMAZÔNIA CENTRAL

 

Realizada em parceria com a FVA, iniciativa do WWF-Brasil favoreceu brigadistas do Mosaico do Baixo Rio Negro com formação técnica e equipamentos, além de capacitação para elaboração de projeto

 

26 maio de 2021  
 

 

Situado na parte central da Amazônia, o Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro está bem longe do chamado "arco do desmatamento", que se estende pelos limites do bioma. Ainda assim, o fogo tem sido uma ameaça constante, nos últimos anos, para essa região de enorme importância para a biodiversidade e a sociodiversidade. Por isso, o Mosaico se tornou um dos focos das ações emergenciais do WWF-Brasil contra as queimadas. Um projeto realizado em parceria com a Fundação Vitória Amazônica (FVA) está ajudando a estruturar as brigadas locais de combate ao fogo, com equipamentos e treinamentos.

O Mosaico do Baixo Rio Negro, que possui mais de 5 milhões de hectares de unidades de conservação, abrange cinco municípios e dez áreas protegidas e suas zonas de amortecimento, sendo três federais, sete estaduais e uma municipal. Ele se insere na Reserva da Biosfera da Amazônia Central e no Corredor Ecológico Central da Amazônia, maior área de proteção ambiental contínua do mundo, cujos ecossistemas têm reconhecida importância ecológica e social.

De acordo com Fabiano Lopez da Silva, coordenador-executivo da FVA, a dinâmica das queimadas na região do Mosaico do Baixo Rio Negro - que inclui a cidade de Manaus - é diferente da que produz enormes incêndios na região sul do Amazonas, no "arco do desmatamento", onde o fogo é impulsionado pela pressão de madeireiros e da agropecuária. "No Mosaico do Baixo Rio Negro, os 'drivers' das queimadas são diferentes. O fogo está mais associado ao processo de mudança de uso e ocupação do solo, incluindo a abertura de estradas irregulares e a pressão exercida pela demanda de áreas de roçados e pastos. Os números da destruição são menores que no 'arco do desmatamento', mas a dinâmica é diferente e, se não nos atentarmos para ela, pode se tornar um novo padrão de devastação na Amazônia", diz.

A parceria com o WWF-Brasil foi iniciada em 2019, no auge da crise das queimadas que ganhou repercussão inclusive na imprensa internacional. Naquele ano, foram registrados 89 mil focos de fogo na Amazônia, um aumento de 30% em comparação ao ano anterior. A área queimada em 2019, conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi de mais de 72 mil km2, número quase 68% superior ao de 2018.

"O projeto nasceu no contexto da crise do fogo de 2019, com foco nos brigadistas. Inicialmente, tinha dois componentes: a realização de três ciclos de formação para dois grupos de brigadistas do Mosaico do Baixo Rio Negro, e dotar esses grupos dos equipamentos necessários para as atividades de combate ao fogo", diz Silva.

Mais tarde, um terceiro componente foi agregado à parceria. "O terceiro módulo é um curso de elaboração de projetos para captação de recursos. A ideia é fortalecer a capacidade desses grupos de brigadistas para buscar investimentos de forma autônoma", explica. "Quando começou a pandemia, foi preciso adaptar o projeto a esse novo contexto. Tínhamos a expectativa de que a situação poderia estar melhor no segundo semestre de 2020, possibilitando a realização de cursos presenciais. Mas isso não aconteceu e, em 2021, adotamos a opção online", acrescenta Silva.

Como a região tem baixa qualidade de acesso à internet, o terceiro e último módulo do curso foi feito inteiramente via WhatsApp. "Agora estamos planejando a criação de uma plataforma tecnológica para que possamos levar esses cursos para a região em um formato de operação offline", afirma. O projeto incluiu também, de acordo com Silva, a produção de boletins de informação sobre a situação das queimadas na região pelos membros das comunidades locais.

De acordo com Osvaldo Barassi Gajardo, especialista em conservação do WWF-Brasil, a produção dos boletins mensais sobre queimadas se insere em um trabalho de prevenção aos incêndios florestais junto aos membros das comunidades locais. "O trabalho que eles desenvolveram no âmbito da prevenção foi muito importante. A série de boletins mensais que eles produziram não só fazia um mapeamento da evolução das queimadas na região, mas também trazia alertas para o potencial de incêndios em algumas áreas. Além disso, eles elaboraram vários áudios que circularam pelas comunidades, via WhatsApp, com campanhas de prevenção de incêndios e sensibilização sobre o problema das queimadas", diz Gajardo.

Segundo ele, o contrato inicial com a FVA foi de quase R$ 180 mil. Os recursos foram investidos no apoio a ações de prevenção e preparação para o combate aos incêndios, com capacitação dos brigadistas comunitários com técnicas de combate ao fogo e de primeiros socorros, além de equipamentos e do curso de elaboração de projetos. A parceria com a FVA foi uma das primeiras iniciativas no âmbito das ações emergenciais do WWF-Brasil contra as queimadas, após a crise ambiental de 2019.

A aquisição de materiais para o projeto, de acordo com Gajardo, incluiu especialmente equipamentos de proteção individual, como capacetes, luvas e roupas adequadas para a ação dos brigadistas; além de ferramentas manuais, como abafadores, bombas costais, facões e machados; equipamentos motorizados, como roçadeiras e bombas d'água com mangueiras; e aparelhos de comunicação, como radiocomunicadores e GPS.

 

Atuação permanente

O cientista ambiental Marcos Pinheiro, consultor que deu apoio à capacitação dos brigadistas, e que ajudou a elaborar a proposta da FVA, conta que o Corpo de Bombeiros de Manaus e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) do Amazonas, que também firmaram parceria com o WWF-Brasil no contexto de combate às queimadas, ajudaram na realização dos dois primeiros módulos do projeto. "No primeiro módulo de treinamento, de formação de brigadistas, 40 comunitários participaram. O segundo módulo, um pouco mais extenso, foi dedicado às estratégias de prevenção, como campanhas de conscientização e instruções para compreensão de como surgem os primeiros focos de fogo", disse.

De acordo com ele, no segundo módulo, um grupo de brigadistas que se autodenominou "Tocando o Barco" obteve formação na elaboração de podcasts em rádio-web e produziu diversas campanhas publicitárias para auxiliar na prevenção de incêndios. "Também fizemos uma avaliação estratégica, envolvendo o Corpo de Bombeiros e a Sema, para entender quais seriam as estratégias de médio e longo prazos para manter esses brigadistas em atuação permanente. Naquela oportunidade, definimos que o terceiro módulo seria o curso de capacitação em captação de recursos", explica.

Depois da adaptação necessária do cronograma à pandemia, o terceiro módulo foi realizado em fevereiro de 2021, de forma virtual. "Foram capacitados 20 brigadistas que já elaboraram seis diferentes projetos - cada um deles com um olhar da comunidade, de acordo com suas características e seus territórios", diz Pinheiro. Os projetos, conta ele, extrapolaram o tema específico do combate ao fogo. Um deles tem um caráter de mapeamento da degradação da floresta que é produzida pela abertura de ramais rodoviários. Outro teve foco na geração de trabalho e renda. "Mas a maior parte dos projetos tinha um aspecto voltado para primeiros socorros e necessidades prementes de cada comunidade, como a aquisição de lanchas, ou o combate à Covid-19", diz.

Pinheiro destaca a importância do fundo emergencial para combate às queimadas criado pelo WWF-Brasil. "Foi uma iniciativa importantíssima, que merece aplausos. Trata-se de um tipo de urgência recorrente na Amazônia, para a qual não há muitos fundos. O Fundo Amazônia, que era uma fonte importante para o combate ao fogo, deixou de funcionar na atual gestão federal. Como consultor, há anos trabalhando com esses problemas, vejo esse fundo emergencial como uma enorme conquista, não apenas para a Amazônia no Mosaico do Baixo Rio Negro, mas para diversos biomas em várias outras regiões", conclui Pinheiro.