© Odair Leal / WWF-Brasil

DRONES REFORÇAM O POLICIAMENTO AMBIENTAL NA AMAZÔNIA

Agentes receberam treinamento do WWF-Brasil e replicaram os conhecimentos para policiais e bombeiros do Acre, ampliando os trabalhos de monitoramento territorial e combate ao crime no estado

 

22 de setembro de 2020 

 

Tornar os trabalhos de conservação, vigilância e monitoramento territorial mais fáceis e práticos é um dos grandes desafios das organizações que atuam na Amazônia – que lidam com grandes distâncias, infraestrutura precária, áreas muito remotas e pouca gente para fazer atividades complexas e exaustivas.

Usar a tecnologia para facilitar esses processos é uma das saídas disponíveis. Por isso, desde o ano passado, o WWF-Brasil vem investindo na utilização de veículos aéreos não tripulados, os drones, para ajudar organizações da sociedade civil e de governos na defesa da Amazônia.

Essa iniciativa surgiu como uma resposta aos altos índices de desmatamento e queimadas registrados em 2019 – uma tendência que ainda não terminou: apenas nas duas primeiras semanas deste mês, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) contabilizou mais de 20 mil focos de queimada na Amazônia, o que significa um aumento de 86% quando comparado ao mesmo período de 2019. 

Parcerias estratégicas

O WWF-Brasil vem trabalhando o uso dos drones com 18 organizações diferentes, em seis estados: Rondônia, Pará, Amazonas, Acre, Maranhão e Goiás (que, apesar de não estar no bioma amazônico, também vem fazendo trabalhos de vigilância territorial). Neste projeto, foram doados 19 drones e vários outros equipamentos, cujo objetivo é ajudar na análise dos dados trazidos pelos veículos aéreos não tripulados - como GPS, telefones celulares e notebooks. Nas ferramentas e em ações de capacitação, foram investidos R$ 350 mil.

Entre as organizações que receberam esse apoio estão a Associação do Povo Indígena Tenharim Morõgwitá (Apitem), no Sul do Amazonas; o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA-AC) e a Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes em Xapuri (Amoprex), ambos no Acre; o Instituto Kabu, no Pará; as prefeituras dos municípios amazonenses de Boca do Acre, Apuí e Humaitá; a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e a Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. 

O major Kleison Albuquerque, comandante do BPA-AC, afirma que uma das grandes vantagens da parceria foi o fato de que o BPA não recebeu apenas os drones - foram enviados também dois tablets, uma impressora térmica, computadores, dois notebooks, dois celulares, aparelho de GPS e dois projetores. “Se fosse só o drone não ia adiantar muito. Pouco adiantaria ter apenas os drones e poucas condições de processar as imagens que ele produz. Então, ter recebido outros equipamentos nos deixou em uma condição diferenciada”, contou.

No início da temporada de fogo na Amazônia, as operações feitas com o uso dos drones no Acre ajudaram na notificação de 81 pessoas, na prisão de outras sete e na emissão de mais de R$ 850 mil em multas por crimes ambientais

Autoria e materialidade

A parceria com o BPA-AC apoia diretamente o trabalho de 57 policiais e ajuda na defesa de sete áreas protegidas: a Floresta Estadual do Chandless, a Terra Indígena do Alto Rio Purus, a Floresta Estadual do Antimary, as três unidades integrantes do Mosaico Complexo de Florestas Estaduais do Rio Gregório e a Floresta Estadual do Afluente do Complexo do Seringal Jurupari (Gleba Afluente).

Na Floresta Estadual do Antimary e no Complexo de Florestas do Rio Gregório, por exemplo, operações feitas com os drones nas últimas semanas ajudaram na prisão de sete pessoas e na aplicação de mais de 20 multas que, somadas, chegam a R$ 300 mil. Em junho, em operações realizadas nas florestas estaduais do Rio Gregório e na Gleba Afluente, 81 pessoas foram notificadas por ocupações irregulares e as multas aplicadas ultrapassaram R$ 550 mil.

A tecnologia é importantíssima para qualificar as denúncias de crimes ambientais, afirmou Kleison. “Os equipamentos ajudam bastante na comprovação da materialidade dos crimes. Dar as coordenadas, trazer fotos e vídeos. Isso é essencial para a produção de provas, você consegue estruturar a autoria e materialidade dos delitos. Com eles, conseguimos fazer com que os dados sejam realmente úteis para a Justiça e para o Ministério Público”, disse o major.

Outro ponto importante, ressaltou Albuquerque, é que os drones “não tiram só fotos”. “Esse trabalho conjunto está ajudando várias instituições a sair da era do papel e entrar na era da informática. Agora temos equipamentos e materiais que nos permitem dar esse salto. A coleta de dados em campo, por exemplo, está sendo feita com os materiais novos. É outro nível, isso nos coloca muito à frente em termos de capacidade do que podemos fazer”, comentou.

Conhecimentos replicados

Em dezembro de 2019, o WWF-Brasil reuniu integrantes de várias das instituições parceiras desta iniciativa para um treinamento em pilotagem de drones que aconteceu em Porto Velho, capital de Rondônia. Quarenta pessoas foram capacitadas, incluindo o major Albuquerque e outros dois agentes do BPA-AC.

Entre o final de julho e o início de agosto de 2020, o BPA fez um treinamento que capacitou outros nove agentes – sete do próprio Batalhão e dois do Corpo de Bombeiros do Acre. No minicurso, foram estudados temas como legislação para uso de drones, planejamento e operação de voo e geoprocessamento. 

“Aos poucos, esse trabalho do WWF está ajudando diversos órgãos e está alcançando mais gente”, disse o sargento Márcio Brasil. Segundo ele, a Embrapa e o Corpo de Bombeiros do Acre vêm trabalhando junto ao BPA -AC para compartilhamento de conhecimento e métodos.  

“Na parte prática do nosso curso, fomos até o projeto de assentamento Walter Arce vistoriar uma área de 50 hectares. Com o drone, fizemos isso em 40 minutos. É muito diferente se tivéssemos que ir andando até lá, numa operação que com certeza levaria um ou dois dias. Existe uma facilidade no uso desse equipamento que é enorme”, disse Brasil. 

Para o analista de conservação sênior do WWF-Brasil, Osvaldo Barassi Gajardo, a replicação de técnicas e processos é um dos maiores benefícios trazidos por essa iniciativa. “As ferramentas tecnológicas estão contribuindo de forma muito positiva e significativa no aprimoramento das ações de conservação dos recursos naturais. De maneira geral, elas ajudam os atores sociais locais a serem mais eficientes e melhoram os processos de tomada de decisão”, disse Gajardo.

© Odair Leal/WWF-Brasil
O major Kleison Albuquerque, comandante do BPA-AC, salienta que o uso de drones ajuda a comprovar a materialidade dos crimes ambientais