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Reforço na proteção do povo Tenharim
01 de junho de 2020
Entre as terras indígenas mais ameaçadas na Amazônia pelo desmantelamento de políticas de proteção ambiental, a Tenharim / Marmelos é uma das mais expostas. Sua própria localização representa um risco: o Sul do Amazonas é uma região especialmente pressionada pelo crescimento de atividades como desmatamento para entrada de gado, extração ilegal de madeira e mineração de ouro.
O primeiro grande impacto para o povo Tenharim foi a construção da BR-230, a Rodovia Transamazônica, durante o regime militar (1964-1985). A estrada corta a Terra Indígena (TI) bem ao meio, dividindo a Aldeia Central. Após a construção da rodovia, os indígenas foram expostos a conflitos fundiários.
A TI é banhada pelo rio Marmelos, um afluente do Madeira. A área é conhecida por ser rica em metais preciosos, o que a torna vulnerável à ação de mineradores ilegais de pequena escala. Essa atividade causa grandes danos ambientais ao utilizar materiais que contaminam o solo e os rios.
PECUÁRIA, MONOCULTURA E PESCA PREDATÓRIA
Por estar em uma região conhecida como "arco do desmatamento", o território Tenharim é suscetível à pressão de grandes fazendeiros, interessados em expandir pastagens para gado e ampliar a monocultura. Essa é a principal razão para o aumento das queimadas, que geralmente começam em propriedades vizinhas depois do desmatamento.
Segundo Márcio Tenharim, coordenador-geral da Associação dos Povos Indígenas Tenharim Morogitá (APITEM), um relatório do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontou que 60 mil hectares dentro da TI foram consumidos pelo fogo nos últimos anos.
Os Tenharins têm no rio Marmelos uma de suas principais fontes de sobrevivência. Além de fornecer peixe, o rio também traz renda. Em parceria com empresas de turismo, os indígenas permitem a pesca esportiva em alguns meses do ano. O problema é que o suprimento de peixe está ameaçado por conta da pesca predatória praticada por pessoas que invadem a TI.
"Seria essencial construir uma base de vigilância bem no acesso ao nosso território para impedir que essas pessoas entrassem", diz Márcio. Paralelamente, com a destruição da floresta pelo fogo, muitos animais desapareceram. Quando não são mortos, eles procuram outros habitats longe das áreas de risco, reduzindo o suprimento de alimentos para as aldeias. Espécies vegetais que servem de alimento e renda para os indígenas também estão ameaçadas.
Embora ainda seja um dos estados mais bem preservados da Amazônia Legal, o Amazonas vê sua porção Sul sofrer com os impactos crescentes do desmatamento e do fogo. Grileiros aproveitam a baixa presença do poder público para abrir novas áreas, apresentando-se como proprietários de terras ocupadas ilegalmente. Esse tipo de situação afeta as populações indígenas e tradicionais que vivem lá, incluindo o povo Tenharim.
Mas, apesar das intensas pressões, a TI Tenharim /Marmelos é vista como um importante obstáculo ao avanço do desmatamento. Seus 2 mil moradores são os principais responsáveis por garantir a integridade da reserva de quase meio milhão de hectares espalhados pelos municípios de Humaitá e Manicoré.
Espalhados por 13 aldeias, os 2 mil Tenharins vêem seu território sendo cobiçado por atividades de alto impacto ambiental, colocando em risco a segurança alimentar e econômica dos indígenas
Fotos: APITEM / WWF-Brasil
PARCERIA COM O WWF-BRASIL
Graças ao projeto com o WWF-Brasil, a APITEM fortalecerá a gestão territorial na TI, com a aquisição de equipamentos de monitoramento, como drone, GPS, computadores e rádios de comunicação. Também incrementará o trabalho da brigada formada pelos próprios indígenas para combater queimadas com a compra de itens como bombas-costais e abafadores.
De acordo com Márcio, essa aproximação ocorre em um momento importante. Com a reforma da sede da brigada, contemplada no projeto, e os equipamentos, os Tenharins poderão enfrentar melhor a temporada de fogo. “É a primeira vez que temos uma parceria com o WWF-Brasil, e esperamos que isso possa ser repetido no futuro para fortalecer mais nossa comunidade”, diz.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, de janeiro a dezembro de 2019, a TI Tenharim /Marmelos registrou 55 focos de queimadas - o terceiro maior número entre as terras indígenas do Amazonas.