outubro, 30 2025
Por WWF-Brasil
A taxa anual de desmatamento da Amazônia Legal para o ano 2025 foi de 5.796 km2, uma queda de 11,08% em comparação ao período anterior - a menor em 11 anos. Já no Cerrado, houve também uma redução de 11,49%, com uma taxa de 7.235,27 km2, a menor em cinco anos.
Os dados são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), sistema responsável por medir as taxas oficiais de desmatamento. Os números se referem ao período entre 1º de agosto de 2024 e 31 de julho de 2025 e foram divulgados nesta quinta-feira, 30, a poucos dias do início da COP30, a conferência do clima que será realizada em Brasília no mês que vem.
“Os números mostram que a retomada dos planos de combate ao desmatamento, como o PPCDAm e o PPCerrado, está dando resultado. Depois de anos de retrocesso, o Brasil volta a trilhar uma trajetória de liderança ambiental e demonstra que é possível combinar desenvolvimento econômico com proteção dos biomas. É importante que o setor privado acompanhe esse movimento, avançando na implementação de compromissos reais de desmatamento zero em suas cadeias produtivas”, afirma Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil.
Na Amazônia, as taxas de desmatamento vêm caindo desde 2022, depois de um período de aumentos sucessivos entre 2018 e 2021. No Cerrado, as taxas vinham aumentando de forma gradual, mas persistente, até a reversão dessa tendência em 2024. A redução acumulada entre 2023 e 2025 foi de 34,29%.
A redução recente do desmatamento nos dois principais biomas do país está associada aos esforços de controle da devastação de áreas naturais que foram realizados a partir de 2023, com o lançamento de iniciativas como a criação de uma secretaria federal específica para o controle de desmatamento, a expansão do crédito rural com restrições ambientais e a retomada da fiscalização, com a reativação das instâncias de controle e governança ambiental que haviam sido submetidas a um desmonte sem precedentes no período de 2018 a 2022.
Outras iniciativas que contribuíram de forma decisiva para a redução da devastação nos dois biomas foram o lançamento do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado) e a retomada do o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAM).
Ferramenta historicamente eficaz na redução da devastação, o PPCDAM havia sido paralisado entre 2018 e 2022. A quinta fase do programa, elaborada em poucos meses após a retomada, contribuiu de forma decisiva para a queda recente do desmatamento no bioma, sendo responsável pela redução de mais de 4 gigatoneladas de emissões de CO2.
Às vésperas da COP30, o anúncio da queda do desmatamento é uma boa notícia para o Brasil e para o mundo, mostrando o caminho para futuros benefícios da conservação das florestas e áreas de vegetação natural que podem ser ampliados por iniciativas como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, ou TFFF (Tropical Forest Forever Facility), um mecanismo financeiro inovador proposto pelo governo brasileiro para angariar fundos para a proteção de florestas tropicais em mais de 70 países. O fundo, que deve ser lançado oficialmente em Belém durante a Cúpula de Líderes que antecede a COP30, ainda prevê a destinação de pelo menos 20% dos seus recursos diretamente para os povos indígenas, reconhecendo seu papel fundamental na conservação das florestas nativas.
Caso se consolide ao longo do tempo, essa tendência de queda no desmatamento na Amazônia e no Cerrado poderá contribuir para uma melhora da imagem do Brasil em um mercado internacional cada vez mais exigente em relação à produção sustentável. “Com a COP30 se aproximando, este é o momento ideal para que empresas e governo reforcem, juntos, uma agenda consistente para enfrentar as mudanças climáticas, implementando nacionalmente o compromisso de eliminação do desmatamento até 2030", acrescenta Prado.
Ameaças
Apesar dos avanços, será preciso enfrentar diversas ameaças de retrocessos em relação à sustentabilidade da produção e do uso da terra. Entre as principais ameaças estão o projeto de lei da Devastação (PL 2.159/2021), que enfraquece o licenciamento ambiental, e os ataques em escala sem precedentes, nos últimos anos, à Moratória da Soja.
A Moratória da Soja foi um dos mais eficazes instrumentos para redução na velocidade do desmatamento da Amazônia, com reconhecimento internacional. As iniciativas legislativas para enfraquecê-la ou extingui-la, em âmbito federal e estadual, podem levar à perda de um esforço de quase 20 anos que levou a produção brasileira de soja a conquistar a confiança dos mercados internacionais, com aumento das exportações, mas reduzindo a sua pegada de desmatamento.
A devastação da floresta também prejudica as atividades produtivas, gerando um custo adicional às mudanças climáticas, com quedas de safras cada vez mais frequentes. Por isso, é fundamental que o poder público siga atuante na fiscalização e fortalecimento do sistema de proteção ambiental, mas também em engajar o setor privado para que tornem suas cadeias produtivas sustentáveis e livres de desmatamento.
O setor produtivo, portanto, deve buscar mecanismos financeiros para valorizar a produção sustentável e alavancar recursos para boas práticas, implementando os compromissos empresariais para eliminar o desmatamento das cadeias produtivas de commodities.
Menos corte raso, mais fogo
A área desmatada entre agosto de 2024 e julho de 2025 na Amazônia foi a mais baixa no bioma nos últimos 11 anos. De acordo com o Inpe, houve uma mudança na característica da destruição da Amazônia nos últimos anos, com um aumento da proporção do desmatamento causado por "degradação progressiva", associado à presença de fogo, em relação ao corte raso. Dos quase 5,8 mil km2 desmatados no bioma no último período, 60% corresponde a corte raso (3.6 mil km2) e 38% (2,2 mil km2) à degradação progressiva. Em 2022, o corte raso correspondia a 92% e a degradação progressiva a 7%.
Os estados da Amazônia que se destacaram em termos de redução do desmatamento em 2025 foram Roraima, com -37,39% (de 468 para 293 km2), Rondônia, com -33,61% (de 360 para 239 km2), Acre, com -27,62% (de 449 para 325 km2) e Maranhão, com -26,06% (de 307 para 227 km2). O Amazonas e o Pará reduziram em -16,93 e -12,40%, (registrando 207 e 297 km2, respectivamente). O Mato Grosso foi o único estado com aumento do desmatamento: 25,05%(de 1.257 para 1.572 km2).
O Cerrado teve, em 2025, a menor taxa de desmatamento em cinco anos. Foi a segunda queda consecutiva no bioma, depois de quatro anos de alta. Nos estados do MATOPIBA, no Cerrado, as taxas de desmatamento tiveram redução de -26,20% no Tocantins (de 2.019 para 1.489 km2), -19,30% no Maranhão (2.487 para 2006 km2), mas houve aumento de 33,10% no Piauí (1.014 para 1.350 km2) e 9,30% na Bahia (723 para 790 km2). O MATOPIBA é a mais recente fronteira agrícola do país, o que evidencia a relação entre o avanço da produção de commodities e a destruição ambiental.