De Bonn a Belém: avanço das negociações climáticas ainda é lento

junho, 26 2025

WWF afirma que as reuniões preparatórias em Bonn, na Alemanha, indicam avanços,mas um caminho árduo para a COP30 em Belém, em novembro
Por WWF-Brasil

As negociações preparatórias para a COP30 encerraram-se hoje (26) em Bonn, na Alemanha, com resultados aquém dos esperados. Realizadas durante o agravamento do cenário diplomático mundial, as conversas trouxeram sinais de avanço em temas relevantes, como o de transição justa, onde chegou-se a opções que podem responder bem aos desafios enfrentados por comunidades e trabalhadores afetados pelas transições sistêmicas e sociais necessárias para responder à crise climática, incluindo a transição dos combustíveis fósseis.

Por outro lado, grandes impasses marcaram as discussões em torno de pontos-chave, como adaptação, financiamento e implementação dos compromissos relacionados à energia e à natureza adotados em 2023. Países desenvolvidos, que na mesma semana aprovaram o aumento da dotação orçamentária para armamentos, adotaram posições intransigentes nas conversas sobre adaptação - tema extremamente caro às nações em desenvolvimento, que já enfrentam as piores consequências do aquecimento do planeta que elas não causaram. Apesar disso, o saldo final das conversas preliminares de Bonn deste ano foi mais produtivo do que o alcançado nos dois anos anteriores, que também foram afetados por um cenário diplomático adverso.

“As Reuniões Climáticas de Junho, que preparam o terreno para a COP30, não começaram bem aqui em Bonn. De início, esperávamos que o Brasil, que é reconhecido pelo bom relacionamento com outros países em geral, ajudasse a destravar algumas agendas, mas isso não aconteceu. A Convenção do Clima não está isolada do resto do mundo, e reflete o ambiente de desconfiança que vemos fora daqui. Na segunda semana, as partes começaram a ter uma postura mais proativa de diálogo, de escuta e de flexibilidade, e alguns textos avançaram, como o de transição justa e de mitigação, que chegaram a um final importante para Belém”, analisa Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil.

“De modo geral, os esforços ainda estão aquém do que precisamos para combater as mudanças climáticas, mas acho positiva, por exemplo, a proposta da Presidência da COP30 de trazer na 4ª carta a ação climática, com atores da sociedade civil e do setor privado, mais próxima dos temas de negociação. É o sentido do ‘mutirão’ que tanto precisamos para encarar o problema com a urgência e a seriedade que ele exige”, afirma.

Financiamento e adaptação

A questão central do financiamento climático pairou como uma sombra sobre as negociações na SB62. “Saímos de Bonn com uma sensação ambígua, porque observamos avanços e retrocessos de temas caros para a sociedade civil. É bem-vindo o avanço na agenda de transição justa e as mudanças na agenda de ação para ampliar a participação, além de a vincular à implementação do Acordo de Paris. Ao mesmo tempo, enquanto a urgência por definições só aumenta, o financiamento climático continua muito aquém do necessário e enfrenta retrocessos por parte dos países desenvolvidos. Agora, depositamos alguma esperança na Cúpula do BRICS+ como espaço de cooperação, que possa destravar caminhos até Belém e envolver outros países em um processo negociador mais fluido. O desafio é grande, mas não impossível. A política dirá”, afirma Tatiana Oliveira, líder de estratégia internacional do WWF-Brasil.

O mundo levou 10 anos para chegar a um marco sobre a meta global de adaptação. Em Bonn, era necessário avançar em direção a acordos sobre indicadores claros e, mais importante, sobre financiamento para a adaptação. Mas as partes não conseguiram se alinhar sobre pontos essenciais. Se essas questões não forem resolvidas na COP30, o mundo corre o risco de falhar com as comunidades e regiões mais vulneráveis aos impactos climáticos.

“A adaptação climática é uma urgência, não mais uma escolha. Estamos vendo, em tempo real, o aumento de desastres como enchentes, secas e ondas de calor, que afetam especialmente as populações mais vulneráveis, e muitas cidades não têm infraestrutura para lidar com isso. Por isso, vimos com otimismo o avanço nos últimos dias da discussão de indicadores globais da Meta Global de Adaptação em Bonn. Porém o travamento na reta final nos adverte que este não será um caminho sem percalços. Esses indicadores são fundamentais para monitorar o avanço da implementação de ações de adaptação nos diferentes países”, diz Flávia Martinelli, especialista em mudanças climáticas do WWF-Brasil.

Este ano, todos os países devem apresentar novos planos climáticos nacionais, mas até agora apenas 25 países o fizeram — e a maioria são países em desenvolvimento.O WWF está convocando todos os países a intensificarem seus esforços e entregarem planos climáticos alinhados com a meta de 1,5°C nos próximos meses.

O progresso geral em Bonn significa que será necessário um esforço ainda maior em Belém para entregar a virada climática que o mundo precisa com urgência. 
Grandes impasses marcaram as discussões em torno de pontos-chave, como adaptação, financiamento e implementação dos compromissos relacionados à energia e à natureza
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