Coletivo indígena é premiado por produção audiovisual em defesa das águas do Tapajós

junho, 26 2025

Iniciativa compõe projeto que fomenta governança das águas participativa na bacia hidrográfica do Tapajós
Por Trícia Oliveira e Khayo Ribeiro para o WWF-Brasil

O Coletivo Indígena Kiribawaitá (CIKI) foi premiado com equipamentos de comunicação por sua destacada produção audiovisual pela proteção do Tapajós, em concurso interno mobilizado no âmbito do curso Comunicação Popular para a Defesa das Águas do Tapajós. A formação foi realizada entre 28 e 31 de março e a premiação será entregue aos participantes até o fim do mês de julho.

Além do coletivo indígena, o curso reuniu vozes da floresta, das margens do rio, aldeias, e periferias urbanas em Santarém (PA) para a realização de oficinas sobre desinformação, inteligência artificial, produção de podcast, audiovisual e mobilização em rede. O lançamento do concurso interno aconteceu após a finalização do curso. E, a partir de então, as pessoas participantes da formação produziram vídeos em defesa do Tapajós.

Participante do curso e coordenadora do CIKI, Sarah Cardoso apontou que a formação foi essencial para o aprimoramento de habilidades técnicas de comunicação. Para ela, os aprendizados do curso serão indispensáveis na abordagem de temas diversos do coletivo, sobretudo quanto à proteção do território.

“Os equipamentos são de suma importância para os projetos que faremos, principalmente nas coberturas dos encontros e formações nas aldeias. O coletivo, por ter sido recentemente criado, não possui material próprio e ainda precisa recorrer a outras organizações para ter acesso aos materiais que facilitam as atividades. Então, o prêmio é muito importante para o crescimento do CIKI”, destacou.

A atividade faz parte do projeto Rumo a uma Gestão Participativa da Água na Bacia do Tapajós, que vem consolidando uma ampla articulação em defesa dos rios da região, sobretudo por meio de formações em comunicação popular. Realizado pela Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa), Instituto Centro de Vida (ICV), Movimento Tapajós Vivo (MTV) e WWF-Brasil, com apoio do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, o projeto pretende garantir que nenhuma decisão sobre a Bacia Hidrográfica do Tapajós seja tomada sem a escuta e participação das comunidades que ali vivem.

A bacia ocupa cerca de 500 mil km², 8% da bacia amazônica, e é casa de mais de 30 povos indígenas, com modos de vida hoje ameaçados pela mineração, agronegócio, hidrelétricas e pela ausência de uma governança hídrica inclusiva. Soma-se a isso o fato de o Tapajós ser o último rio da margem direita do rio Amazonas sem barramentos e que é muito visado para produção hidrelétrica e transporte de cargas.

O curso


Durante o curso, nomes como Maickson Serrão, do podcast Pavulagem, Emily Costa e Johnson Portela, do GT Infraestrutura, e a comunicadora indígena Viviane Borari conduziram oficinas com metodologias inspiradas na educação popular de Paulo Freire. “Durante muito tempo, o arco e a flecha foram nossos instrumentos de luta. Hoje, é a comunicação que nos fortalece. Contar nossas histórias é também defender nossos territórios”, afirmou Maickson.

Além de fomentar produções autorais como textos, vídeos e podcasts sobre temas como seca extrema, garimpo ilegal e racismo ambiental, o encontro também iniciou a construção coletiva de uma campanha de mobilização em defesa das águas do Tapajós, prevista para ser lançada ainda no primeiro semestre de 2025.

Esse curso de curta duração é parte de um processo mais amplo que vem ganhando força desde o início do projeto, em 2024. Uma das principais ações realizadas no ano passado foi a Formação de Defensores e Defensoras das Águas do Tapajós, uma iniciativa de longa duração com foco em incidência política e direitos democráticos. A ação, apoiada pelo WWF-Brasil e conduzida em parceria com a Escola de Militância Socioambiental da Amazônia (EMSA) e universidades públicas, contou com a participação de 25 jovens lideranças indígenas e representantes de comunidades tradicionais das regiões hidrográficas dos rios Juruena e Tapajós.

A formação promoveu um espaço de troca qualificada de conhecimentos, fortalecendo as capacidades políticas e comunicativas dessas lideranças e ampliando sua participação em agendas públicas sobre o uso da água. Com a finalização do curso em fevereiro de 2025, a iniciativa formou turmas em três estados.

Mas os impactos vão além das salas de aula. Mais de 500 pessoas já foram mobilizadas por meio das rodas de conversa nos territórios, realizadas em comunidades como a Aldeia Curva (Terra Indígena Rikbaktsa), região do Maicá (Santarém) e Floresta Nacional do Tapajós (Belterra). Esses encontros são espaços valiosos de escuta, articulação política e construção de saberes coletivos — e têm contribuído diretamente para a consolidação de uma aliança organizada em defesa das águas da bacia do Tapajós.  Além disso, uma aliança entre a sociedade civil e comunidades da bacia está sendo formada para proteger o rio por meio da participação coletiva e pela influência em políticas públicas.

“Entendemos que a luta unificada é o instrumento mais eficiente para a proteção do território e de suas águas. Juntos, vamos amplificar a voz dessas comunidades tradicionais e povos indígenas para que participem do processo de decisão sobre o uso da água da bacia e seus impactos reais”, afirmou Kamila Sampaio, do Movimento Tapajós Vivo.
Representantes de coletivos que participaram do curso de multiplicadores no projeto Rumo a Uma Gestão Participativa da Água na Bacia do Tapajós
© Khayo Ribeiro / WWF-Brasil
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