julho, 15 2025

O combate à emergência climática de nosso planeta requer transformações de todos os setores da economia e demanda ação significativa dos setores público e privado. Assim, Finanças, além de ser parte do sistema econômico que precisa ser transformado, também pode ser um facilitador fundamental. No entanto, ainda existe uma enorme lacuna de financiamento para o clima e a natureza, e as finanças de carbono têm um papel crucial em preenchê-la. 

Em termos simples, finanças de carbono são um subconjunto de finanças climáticas, envolvendo o financiamento de resultados mensuráveis de atividades que reduzem, evitam ou removem gases de efeito estufa da atmosfera. O WWF-Brasil, em linha com a Rede WWF global, apoia uma abordagem para as finanças de carbono que se concentra na transformação dos setores e mercados emissores de carbono, promovendo reduções de emissões reais e duráveis, e maximizando a ação climática global de uma maneira que beneficie a natureza e as pessoas. 

Para maximizar o impacto das finanças de carbono e a ação climática, líderes e tomadores de decisão do governo e do setor privado podem recorrer a cinco medidas: 

Priorizar a transformação de mercado – As empresas contribuem mais para resolver a crise climática ao investir e reduzir emissões de gases de efeito estufa dentro de suas cadeias de valor.É onde elas geralmente têm o maior incentivo para agir e onde a maioria das finanças de carbono do setor privado ocorre. Investimentos em ações transformacionais nas empresas trazem benefícios para os negócios, como resiliência e continuidade, mitigação de riscos, preparação para o futuro e aumento da certeza de oferta e demanda a longo prazo – enquanto também proporcionam uma transformação durável da economia global que tanto precisamos. Os governos podem apoiar a transformação de mercado e aumentar as finanças por meio de uma combinação de instrumentos econômicos que colocam um preço no carbono e outras ferramentas políticas que estimulam a inovação e mudanças nos sistemas de mercado. 

Investir além das cadeias de valor – Embora reduzir emissões nas cadeias de valor seja central para uma ação climática eficaz, também há um papel crítico dos investimentos que vão além delas, no sentido de inovar e escalar soluções climáticas, proteger e restaurar sumidouros naturais de carbono e apoiar uma transição energética justa. Para determinar a escala desse investimento, as lideranças empresariais devem definir e divulgar um preço interno do carbono, que reflita o verdadeiro custo ambiental e social de suas emissões remanescentes, e que sirva como sua contribuição justa para os esforços climáticos globais. Um preço do carbono que reflita o custo total de uma intervenção de mitigação climática de alta qualidade é fundamental para garantir que os investimentos entreguem as reduções de emissões prometidas, proteções dos direitos humanos e repartição equitativa de benefícios com povos indígenas e comunidades tradicionais . 

Construir soluções de mercado de maior integridade – Finanças de carbono devem potencializar o impacto da mitigação climática. Líderes do setor público e privado têm um papel importante na garantia de que as finanças de carbono entreguem as reduções em emissões e remoções de gases de efeito estufa que prometem, de uma maneira a também beneficiar o planeta e  as pessoas. As empresas podem aprimorar suas  ações climáticas por meio do uso direcionado de mecanismos de mercado, incluindo certificados de energia renovável, commodities certificadas, insets e créditos de carbono de alta qualidade para neutralizar emissões residuais e como investimentos além da cadeia de valor. Líderes governamentais podem desempenhar um papel crítico na concepção e implementação de regulações que garantam que as finanças de carbono sejam transparentes, bem planejadas, implementadas e monitoradas – e promovam ativamente os direitos humanos além do impacto ambiental positivo. Por sua vez, os líderes do setor privado têm a responsabilidade de realizar processos robustos de due diligence para garantir que os investimentos corporativos em carbono beneficiem simultaneamente o clima, a natureza e as comunidades locais. Essa responsabilidade não pode ser delegada. 

Aproveitar o poder da natureza – Ao mesmo tempo em que é essencial para resolver a crise climática, a natureza também é essencial para os negócios. Aproximadamente metade do PIB mundial total, ou cerca de US$ 44 trilhões, dependem de alguma forma da natureza, então conservar esses recursos é um bom negócio. Empresas e governos reconhecem a importância de ecossistemas saudáveis para a economia global e integram a natureza em suas estratégias climáticas, compromissos e investimentos, tanto dentro quanto além de suas cadeias de valor. Empresas e governos têm um papel a desempenhar na ampliação das finanças para Soluções Baseadas na Natureza robustas, que protejam e restaurem ecossistemas naturais e também proporcionem benefícios tangíveis para as comunidades, removam gases de efeito estufa da atmosfera, aumentem a resiliência climática e apoiem o desenvolvimento sustentável. 

Implantar as soluções certas – Com tanta atenção focada nas promessas e potenciais armadilhas dos mercados de carbono, é importante lembrar que eles são apenas uma maneira de aumentar as finanças de carbono. Uma ampla gama de mecanismos financeiros inovadores é necessária, tanto dentro quanto além das cadeias de valor corporativas. Essas soluções podem incluir ferramentas como pagamentos por serviços ecossistêmicos, acordos de compra de energia, fundos para tecnologias de remoção de carbono, commodities certificadas e uma série de outros instrumentos. Uma das chaves para desbloquear as finanças de carbono está em simplificar processos, esclarecer padrões e regulamentos, e fornecer caminhos pragmáticos e baseados na ciência para líderes do setor público e privado investirem em (e obterem crédito por) intervenções com  impacto mais material. 

Atender à necessidade global de finanças para o clima e a natureza exige uma mudança sistêmica para que o financiamento possa ser viabilizado – e uma forte liderança dos setores público e privado para desbloquear investimentos que sejam ambientalmente sólidos, socialmente justos e economicamente eficazes.