Sem a natureza, os ODS da ONU e o "Compromisso de Sevilha" fracassarão
julho, 04 2025
O WWF reconhece o "Compromisso de Sevilha" como um passo à frente para uma arquitetura financeira global menos desigual, mas sem clima e natureza, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU não podem ser alcançados
Por WWF-BrasilO WWF reconhece que o Compromisso de Sevilha, documento final da Quarta Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4), é um passo importante em direção a uma arquitetura financeira global mais inclusiva e sustentável. No entanto, a menos que o financiamento para os compromissos climáticos e para a natureza seja urgentemente ampliado, as ambições estabelecidas no documento não poderão ser alcançadas.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) podem contribuir para conter o aquecimento global e promover a estabilidade dos ecossistemas. Para isso, precisam somar forças com a agenda de clima e natureza, e não competir por recursos, ampliando o financiamento disponível para ações necessárias e urgentes.
“A cooperação internacional em matéria tributária é essencial para enfrentar a evasão fiscal, ampliar o espaço fiscal dos países e canalizar recursos para a ação climática e a proteção da sociobiodiversidade, garantindo bens públicos concretos à população”, afirmou Tatiana Oliveira, especialista em clima e líder de estratégia internacional do WWF-Brasil.
"Não há caminho para erradicar a pobreza, garantir alimentos e água ou construir economias resilientes sem proteger e restaurar o meio ambiente e reconhecer o papel dos povos indígenas e das comunidades locais como guardiões da natureza", afirmou Rebecca Stringer, Diretora de Parcerias do Setor Público do WWF. “O Compromisso de Sevilha prepara o cenário, mas governos e instituições financeiras precisam agir agora, cumprindo os compromissos de Paris e do Fundo Global de Desenvolvimento Econômico (GBF), e canalizando financiamento real para o clima e a natureza.”
O documento final do Compromisso de Sevilha destaca um déficit de financiamento anual de US$ 4 trilhões para alcançar o desenvolvimento sustentável — e admite que o mundo está "aquém" em ações climáticas, para a proteção da biodiversidade e contenção da desertificação. Por isso, será necessário um grande esforço para reorganizar as prioridades de alocação de recursos no mundo, privilegiando a paz e a vida no planeta.
Embora o documento faça referências importantes a processos globais como o "Roteiro de Baku a Belém", no âmbito da UNFCCC, e ao Acordo da OMC sobre Subsídios à Pesca, o WWF preocupa-se com o fato de não pedir a eliminação gradual de subsídios à atividades econômicas predatórias e não ter a urgência necessária para mobilizar novos financiamentos adicionais para o clima e a natureza.
O WWF insta todos os Estados-Membros, instituições financeiras e parceiros de desenvolvimento a:
- Integrar plenamente as soluções baseadas na natureza e a resiliência climática na agenda de financiamento do desenvolvimento;
- Comprometer-se a mobilizar novos financiamentos adicionais para o clima e a natureza, particularmente para os países vulneráveis mais impactados pela degradação ambiental;
- Garantir que as políticas e os investimentos estejam alinhados com uma transição econômica justa e inclusiva, positiva para a natureza e com emissões líquidas zero.
- Facilitar o acesso direto ao financiamento para povos indígenas e comunidades locais que atuam como guardiões da natureza.
O WWF apresentou um conjunto de nove recomendações para ajudar a fortalecer a ambição ambiental do documento final. A organização defende um alinhamento mais forte entre o financiamento do desenvolvimento e os resultados positivos para o clima e a natureza, e está pronta para apoiar os parceiros na concretização desses objetivos.
“O resultado da Conferência sobre Financiamento ao Desenvolvimento reafirma que sem justiça fiscal e financiamento climático adequado, não haverá transição justa nem desenvolvimento sustentável”, afirmou Tatiana.