Inspiração e inovação marcam 1º encontro dos Diálogos Energéticos
07 julho 2015
O futuro é sustentável! Foi com essa ideia em mente que 15 palestrantes, entre representantes do governo, da sociedade civil organizada e de empresas, se reuniram em São Paulo para o primeiro Diálogos Energéticos, um ciclo de três encontros organizado pelo WWF-Brasil.
O futuro é sustentável! Foi com essa ideia em mente que 15 palestrantes, entre representantes do governo, da sociedade civil organizada e de empresas, se reuniram dia 29 de junho em São Paulo para o primeiro Diálogos Energéticos, um ciclo de três encontros organizado pelo WWF-Brasil. O próximo encontro acontece em 31 de agosto e as inscrições estão abertas,Durante quatro horas foram compartilhadas experiências do que está acontecendo no Brasil e no mundo, o que ainda pode ser feito e quais as expectativas para o setor energético brasileiro. O encontro teve ainda o lançamento dos estudos Desafios e Oportunidades para a energia eólica e solar no Brasil: recomendações para políticas públicas (disponível em wwf.org.br/publicacoes) e foi transmitido ao vivo pela internet.
De acordo com André Nahur, coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, responsável pelo evento, cada seminário tem um tema diferente, mas que se relaciona com os demais. “Esse primeiro encontro tinha como objetivo abrir o diálogo, trazendo diferentes visões do que tem sido feito na área de energia renovável. Em seguida, traremos um foco maior para a micro e minigeração de energia e, por fim, financiamento, buscando contribuir ativamente para a ampliação do setor”.
O próximo Diálogos Energéticos acontece dia 31 de agosto em São Paulo e terá como tema “Geração de energia sustentável descentralizada – potencial e novos mercados”. As inscrições estão disponíveis pelo link wwf.org.br/dialogosenergeticos.
Destaques do evento
(veja galeria de fotos)
O superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Mauro Armelin, abriu o ciclo de seminários reafirmando o desejo da entidade em buscar a diversificação de fontes de energia no país e promover diálogos entre os diferentes setores da sociedade. Junto com ele, João Carlos Meirelles, Secretário de Energia do Estado de São Paulo, apresentou projetos energéticos, a maioria baseada em energia fóssil ou gás natural, mas pediu ajuda do WWF-Brasil para pensar em possibilidades de transição para uma matriz mais limpa no estado, que é o mais industrializado do país e por isso demanda mais energia.
Em seguida, na sessão Falas Inspiradoras, o diretor executivo da WTT Foundation, Valdemar de Oliveira (conhecido como Maneto), afirmou que o planeta está entrando numa fase de aceleração brutal em novas tecnologias e citou o surgimento comercial da supercondutividade (em que a produção de energia ocorre sem perda) como um dos destaques desse novo momento. “Outras inovações desse sistema estão baterias de até 10 MW, controladores de falhas na corrente, condensadores sincrônicos, além de equipamentos que podem trazer maior estabilidade e eficiência para os sistemas de distribuição”, comenta Maneto, que citou ainda a existência de projetos de biotecnologia e bioenergia para etanol a partir da celulose e até a substituição do elétron como forma primária de energia.
Fazendo um contraponto às novidades trazidas por Maneto, Eugenio Scannavino, do Projeto Saúde e Alegria (Santarém/PA) retratou “a realidade das comunidades da beira do Tapajós, que nem luz têm”. Segundo ele, ali, foi criada a microcentral hidrelétrica Aruã, de baixo impacto ambiental pelos próprios moradores e que sistemas assim, aliados à energia solar e diesel, manteriam as comunidades. No entanto, estão programadas quatro grandes hidrelétricas na região e isso é motivo de muita preocupação: “quem não conhece a praia do Tapajós vá logo, porque as usinas poderão acabar com isso”. De acordo com o Scannavino, o preço dos sistemas solares, sobretudo das baterias, impede que os ribeirinhos façam uso dessa iniciativa.
Ainda dentro da questão da sociedade, o procurador da República João Akira Omoto citou exemplos como o dos prejuízos que barragens trazem para as populações ribeirinhas para ressaltar a importância de trabalhar a participação social na área de energia. “É necessário fazer políticas ambiental e econômica casadas para que isso impacte positivamente nas questões ambientais e sociais, como um garantidor de direitos”, diz ele, acrescentando que o nosso grande desafio é que as próximas decisões possam resultar em ações mais conformes com direitos fundamentais.
Na segunda parte do evento, Adalberto Maluf, diretor de Marketing da chinesa BYD Company, trouxe um pouco da história e experiência dessa empresa, cujo sonho é criar tecnologias que pudesses gerar energia limpa e armazenar de forma eficiente. Segundo ele, “hoje já existem baterias com mais de 30 anos de duração, sendo 15 anos em veículos e mais 15 anos em sistema de energia”. Maluf citou ainda que a meta do governo chinês é que 30% da frota do país seja elétrico até 2020 e a BYD selecionou o mercado brasileiro como o 2º em investimento da China. O desafio, então, seria “um programa bem estruturado do BNDES de nacionalização dos painéis, com taxas competitivas”, completa.
No debate sobre o cenário nacional, José Henrique Gabetta, representando a Renove (Rede nacional de Organizações da Sociedade Civil para Energias Renováveis) e Maury Garret da Silva, Coordenador de Desenvolvimento de Negócios da Tractebel Energia, falaram sobre legislação para microgeração (como a resolução 482) e novas iniciativas para produção limpa, como uma usina de ondas no Ceará, um aerogerador nacional no sul de Santa Catarina e a substituição de combustíveis fósseis por casca de arroz em usinas termelétricas, citados por Maury. A crise no sistema energético foi apontada por ambos como um incentivador à microgeração, mas que ainda precisa de muita divulgação, financiamento e incentivos fiscais. “Motivadas pelo aumento da eletricidade, as pessoas têm perguntado como fazem para produzir sua energia, mas isso não é mais que 15%. Hoje, 80% da população não sabe que isso é possível”, diz Gabetta.
Para fechar o encontro, André Nahur mediou a mesa do lançamento dos estudos Desafios e Oportunidades para a energia eólica e solar no Brasil: recomendações para políticas públicas, promovidos pelo WWF-Brasil, em parceria com ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) e Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), respectivamente, e de autoria de Fernando Camargo, da LCA Consultores.
Segundo André, a intenção das publicações é desmistificar algumas situações sobre energia solar e eólica no Brasil. “Por meio dos estudos queremos mostrar que a situação é real, tem viabilidade econômica e gera empregos”, diz ele. Em seguida, fazendo um panorama geral dos dois estudos, Fernando Camargo trouxe dados dos setores. Primeiro, mostrou a viabilidade financeira da energia solar para microgeração: “só com economia de tarifa, atualmente se consegue pagar o equipamento solar em 13 anos. Ou seja, hoje, tirar dinheiro da poupança para investir num sistema solar pode ser boa ideia”. Em seguida, trouxe exemplos da indústria eólica, em que é necessário haver infraestrutura para construir um parque, mas que pode gerar renda de arrendamento de R$6 mil a R$12 mil anuais por lote: “há casos de famílias que tinham renda de R$500 por mês e passaram a receber com o arrendamento quatro vezes mais”.
Sandro Okamoto, da ABEEólica, comentou que a associação tem hoje 93 associados e 6,6 GW instalados, contribuindo para amenizar o cenário atual de energia. “Com a crise hídrica do ano passado, se não tivéssemos o atual parque instalado, o custo seria muito maior”, diz ele, acrescentando que as mudanças de regra ao longo do processo de instalação e as dificuldades de infraestrutura (como a falta de estradas duplicadas) dificultam a evolução do setor: “com as mudanças de regra, hoje, dos sete fabricantes de aerogerador presentes no Brasil, somente um atende totalmente às exigências do governo".
Encerrando a mesa, Rodrigo Sauaia, da Absolar, comentou que o Brasil tem que decidir se vai fazer a diversificação da matriz por um caminho de fontes renováveis, ou manter as fontes atuais, que trazem impactos sociais e ambientais. “Qualquer energia gera impacto. É preciso avaliar quais são os impactos positivos e negativos de cada fonte e fazer um balanço de qual o mais adequado para o nosso país”. Segundo ele, o trabalho faz um detalhamento de quais são os grandes gargalos, como questões tributária, de financiamento, a qualidade e certificação de equipamentos. Agora precisamos levar essa informação de qualidade para os tomadores de decisão, para a população brasileira”, comenta.