COP23: Principais resultados das negociações climáticas da ONU em Bonn
novembro, 23 2017
Já se imaginava que a COP23 deveria ser bastante técnica, já que os países continuavam a negociar os principais detalhes de como o Acordo funcionará a partir de 2020. No entanto, este também foi a primeira desde que os EUA anunciaram sua intenção de se retirar do Acordo de Paris. O Carbon Brief cobriu todos os principais resultados e pontos de discussão da cúpula.
Por Jocelyn Timperley, do Carbon BriefTraduzido por Lohana Santos de Novaes
As mudanças climáticas voltaram a ser colocadas no centro da diplomacia global nas primeiras semanas de novembro, quando diplomatas e ministros se reuniram em Bonn, na Alemanha, para a última rodada de negociações climáticas das Nações Unidas do ano.
Já se imaginava que a COP23, a segunda Conferência das Partes da ONU desde que o Acordo de Paris foi criado, em 2015, deveria ser bastante técnica, já que os países continuavam a negociar os principais detalhes de como o Acordo funcionará a partir de 2020.
No entanto, este também foi o primeiro conjunto de negociações desde que, no início de 2017, os EUA, sob a presidência de Donald Trump, anunciaram sua intenção de se retirar do Acordo de Paris. Além disso, foi a primeira COP a ser hospedada por um Estado de pequenas ilhas em desenvolvimento, com Fiji assumindo a presidência, apesar do evento acontecer em Bonn.
O Carbon Brief cobriu todos os principais resultados e pontos de discussão da cúpula. Veja abaixo:
Duas delegações dos EUA
Após a decisão de Trump em junho de que pretendia retirar os EUA do Acordo de Paris, todos os olhos estavam na delegação oficial dos EUA, para ver como eles iriam se comportar durante as negociações. Durante a primeira semana de conversas, um grupo da sociedade civil conhecido como Aliança Pan-Africana de Justiça Climática pediu que a delegação dos EUA fosse impedida de participar das negociações, devido à sua decisão de deixar o acordo de Paris.
Enquanto isso, no segundo dia da COP, chegou uma mensagem com um destino aparentemente certo: a Síria anunciou que assinaria o Acordo de Paris. Com isso, os EUA se tornam o único país do mundo afirmando que não pretende honrar o acordo histórico.
No entanto, a própria delegação norte-americana manteve uma certa discrição e barrou um evento paralelo de "combustíveis fósseis mais limpos" em que manifestantes anti-Trump interromperam durante sete minutos.
A delegação dos EUA co-presidiu com grande sucesso com a China um grupo de trabalho sobre as contribuições nacionalmente determinadas (compromissos de cada país para redução de gases de efeito estufa, conhecidos pela sigla NDCs). Vale ressaltar, porém, que muitos dos negociadores dos EUA são os mesmos funcionários que representavam o país nas COPs há anos. Assim, eles continuaram suas negociações com pouca mudança de atitude, embora possivelmente assumindo posições mais difíceis em questões como "perdas e danos" e financiamento.
O conselheiro de Trump, George David Banks, fez uma nova aparição caótica no centro de mídia, ao prometer que sua prioridade na COP23 seria lutar contra o sitema de "diferenciação" (também chamado de "bifurcação"). Essa divisão diferencia países indutrializados no "anexo 1” dos outros. Fora isso, o comportamento da delegação dos EUA não diferiu significativamente dos anos anteriores.
É importante ainda notar que a delegação oficial dos EUA não foi o único grupo dos EUA a chamar atenção na COP. Uma delegação alternativa "We Are Still In” (Nós ainda estamos participando) criou um grande pavilhão no Centro de Ação Climática dos EUA, fora do local principal das conversações.
Este grupo incluiu importantes atores subnacionais, como o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg e o governador da Califórnia, Jerry Brown, com o objetivo de provar que existem muitas vozes dos EUA contra as políticas anti-clima de Trump. Seu relatório "Promessa da América" (tradução livre) descreveu como a coalizão de cidades, estados e empresas representa mais da metade da economia dos EUA. Por isso, durante o evento de lançamento do relatório, Bloomberg argumentou que o grupo deveria receber um assento na mesa de negociação do clima.
Vídeo COP23: Donald Trump torna impossível limitar o aquecimento global em 1.5º C? Dr. James Hansen, Dr. Bill Hare, Rachel Cleetus, Catherine McKenna, Bill Peduto e Rachel Kyte respondem.
China mais forte?
Outro ponto de discussão ao longo das negociações foi como a saída dos EUA do seu papel de liderança climática, desempenhado sob Barack Obama, teria encorajado a China a assumir esse lugar.
Uma forma concreta que a China adotou para começar a desempenhar esse papel foi por meio da Coalizão Ministerial sobre a Ação Climática (MOCA), um grupo conjunto composto por UE, China e Canadá, concebido durante a COP do ano anterior após o resultado das eleições dos EUA.
Li Shuo, consultor sênior de políticas globais no Greenpeace do Leste Asiático, conta ao Carbon Brief:
Vale ressaltar que este é um dos únicos processos climáticos de alto nível de colaboração entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. É também um exemplo muito concreto do apoio que a China está dando ao processo climático internacional como parte da liderança coletiva compartilhada.
Xie Zhenhua, chefe de delegação da China na COP23 em Bonn, com funcionários. Crédito: Carbon Brief.
Há os que argumentem que a liderança não diz mais respeito a um país ou a um conjunto de países. Falando na COP, Mohamed Adow, líder mundial de Clima no Christian Aid London, diz:
“Os dias em que você olhava para um país para ser capaz de liderar a transição não existem mais. Estamos agora em uma nova era, onde estamos realmente vendo liderança distribuída compartilhada, onde 200 países contribuíram coletivamente para o esforço global”.
Eliminação do carvão
Um segundo grande evento na COP foi o lançamento da "Powering Past Coal Alliance", liderada pelo Reino Unido e pelo Canadá.
Mais de 20 países e outros atores subnacionais se juntaram à Aliança, incluindo Dinamarca, Finlândia, Itália, Nova Zelândia, Etiópia, México e Ilhas Marshall; bem como os estados norte-americanos de Washington e Oregon. O grupo pretende completar 50 membros até o próximo ano.
Embora a Aliança estabeleça em sua declaração que "a análise mostra que a eliminação do carvão é necessária até 2030 na OCDE e na União Europeia (na composição com 28 países) e, no mais tardar, até 2050 no resto do mundo" para atender ao Acordo de Paris, ela não compromete os signatários a uma data de eliminação específica. Também não compromete os signatários a acabar com o financiamento de centrais de energia de carvão intactas, em vez de "restringi-lo".
Claire Perry, a ministra do clima do Reino Unido, viajou para Bonn para lançar a iniciativa junto com a ministra da Educação do Canadá, Catherine McKenna. O Reino Unido já se comprometeu a eliminar o carvão no máximo até 2025, enquanto o Canadá tem como prazo 2030.
Os EUA não assinaram a promessa e vários outros grandes países do carvão tiveram sua ausência notada, incluindo Alemanha, Polônia, Austrália, China e Índia.
Enquanto isso, a chanceler alemã, Angela Merkel, administrava um delicado equilíbrio nas negociações para tentar manter sua liderança climática no cenário mundial e, ao mesmo tempo, discutir as conversas de coalizão que estão acontecendo entre a sua própria União Democrata Cristã (CDU), o Partido Verde e os Democratas Livres (FDP).
A eliminação do carvão tornou-se um ponto focal significativo para os ativistas nas cúpúlas da UNFCCC e as esperanças de que Merkel comprometesse Alemanha a uma data firme em seu discurso na Conferência viraram cinza.
Eenquanto isso, Michael Bloomberg usou um evento paralelo para prometer US$ 50 milhões para expandir sua campanha anti-carvão nos EUA para a Europa.
Ação Pré-2020
A conversa oficial terminou durante as primeiras horas da manhã de sábado, 18 de novembro, depois de algumas discussões de última hora sobre a crescente questão do financiamento climático. (Veja o "mapa" de financiamento dos fundos climáticos multilaterais, publicado no dia em que a COP começou.)
Um conflito-chave que emergiu nos primeiros dias da conferência, no entanto, foi a ação climática pré-2020.
Do ponto de visto de um país em desenvolvimento, isso diz respeito ao fato dos países ricos não terem feito o suficiente para cumprir os compromissos assumidos para o período até 2020. Estes compromissos são separados do Acordo de Paris, que será implementado apenas a partir de 2020.
Três coisas para conhecer das últimas conferências climáticas da ONU. Vídeos e entrevistas filmados na COP23 por Leo Hickman e Jocelyn Timperley
Havia duas grandes preocupações: em primeiro lugar, os países desenvolvidos ainda não entregaram os prometidos US$ 100 bilhões por ano de financiamento climático até 2020, conforme acordado em 2009 em Copenhague; em segundo lugar, a Emenda de Doha, um segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto para os anos prévios a 2020, ainda não foi ratificada por países suficientes para a sua entrada em vigor.
Os países em desenvolvimento, incluindo China e Índia, ficaram particularmente irritados de que a ação pré-2020 não tivesse espaço formal na agenda de negociação da COP23. Eles insistiram que deveria ser criado um espaço para discutir isso, argumentando que a reunião dos compromissos anteriores a 2020 era uma parte fundamental da construção da confiança no restante das negociações.
Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace internacional, diz que a questão da ambição pré-2020 é a respeito dos países desenvolvidos que se comprometeram a assumir a liderança na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) em 1992 estarem fazendo isso e se eles também tomaram medidas específicas para reduzir suas próprias emissões antes de 2020. Ela conta ao Carbon Brief:
“Eu acho que muitos países desenvolvidos queriam simplesmente ignorar isso e se concentrar em pós-2020, mas os países em desenvolvimento disseram ‘não’, nós realmente precisamos dos picos de emissões globais até 2020, então queremos que esse seja um grande tópico aqui.”
Inicialmente, muitos países desenvolvidos rejeitaram essas demandas. No entanto, no final, eles cederam e a ambição e a implementação pré-2020 formaram uma parte importante do texto de decisão da COP23 acordado e publicado no início da manhã de sábado.
Isso incluiu um acordo para criar sessões adicionais de inventário em 2018 e 2019 para analisar o progresso na redução de emissões, bem como duas avaliações do financiamento climático a serem publicadas em 2018 e 2020. Esses envios serão então reunidos em um relatório de síntese sobre a Ambição pré-2020 antes da COP24, que acontecerá em dezembro do próximo ano em Katowice, na Polônia.
As cartas também serão enviadas aos países inscritos no Protocolo de Quioto que ainda não ratificaram a Emenda de Doha, instando-os a depositar os seus instrumentos de aceitação o mais rápido possível. Vários países europeus ratificaram a Emenda de Doha durante a COP, incluindo a Alemanha e o Reino Unido.
A Polônia, o país que até agora tem impedido que a UE a ratifique como um todo, também anunciou seus planos de ratificar a emenda neste ano. A UE, que é tratada como uma Parte dentro da UNFCCC, também sugeriu que possa ratificar o acordo sem a Polônia.
COP de Fiji
Com as Ilhas Fiji sendo o primeiro Estado das pequenas ilhas a sediar as conversas sobre clima, havia grandes esperanças de que isso pudesse dar um impulso adicional às negociações.
Os palestrantes de alto nível na quarta-feira foram precedidos por um discurso de um aluno de 12 anos de Fiji chamado Timoci Naulusala, que lembrou aos delegados que "não é sobre como, ou quem, mas sobre o que você pode fazer como um indivíduo".
As opiniões ficaram divididas sobre a eficácia de Fiji como presidente da Conferência, mas dois resultados em que o país se empenhou foram tidos como conquistas significativas.
Trata-se do Plano de Ação de Gênero, que destaca o papel das mulheres na ação climática e promove a igualdade de gênero no processo, e a Plataforma das Comunidades Locais e dos Povos Indígenas, que visa apoiar o intercâmbio de experiências e o compartilhamento das melhores práticas em mitigação e adaptação.
Fiji também lançou a Parceria Ocean Pathway, que visa fortalecer a inclusão de oceanos dentro do processo da UNFCCC.
Diálogo Talanoa
Os países acordaram há dois anos em Paris que deveria haver um momento único em 2018 para "fazer um balanço" de como a ação climática estavam progredindo. Esta informação será utilizada para informar a próxima rodada de NDCs, prevista para 2020.
Esta forma de reconhecer a "ambição melhorada" - um termo que se ouviu muito nas COP - foi vista como um importante precursor do "ratchet mechanism” (mecanismo para aumento de ambição) de longo prazo do Acordo de Paris, que visa aumentar a ambição em um ciclo de cinco anos.
Originalmente chamado de "diálogo facilitador", o nome deste processo que acontecerá apenas uma vez, em 2018, foi alterado neste ano, sob a presidência da Fiji na COP, para "Diálogo Talanoa". A mudança de nome buscou refletir uma abordagem tradicional das discussões usadas em Fiji, como um processo "inclusivo, participativo e transparente".
[VÍDEO???]
Vídeo COP23: O que precisa acontecer na COP24 para manter o Acordo de Paris no bom caminho? Rachel Cleetus, Li Shuo, Manuel Pulgar-Vidal e Carlos Rittl estão entre aqueles que respondem.
A abordagem final do diálogo Talanoa foi incluída como um anexo de quatro páginas na principal decisão de resultados da COP23.
Ele será estruturado em torno de três perguntas - "Onde estamos? Onde queremos ir? Como chegamos lá?", mas também inclui novos detalhes, como a decisão de aceitar contribuições de outros atores, além das Partes, uma decisão de configurar uma plataforma online para receber insumos e uma nova ênfase nos esforços sendo feito no período anterior a 2020.
Ele também diz claramente que o diálogo "não deve levar a discussões de natureza conflituosa", com identificação das partes individuais. Naoyuki Yamagishi, chefe de clima e energia no WWF Japão, diz ao Carbon Brief:
“O Diálogo Talanoa deve ser uma espécie de conversa construtiva, orientada para a oportunidade e para a solução. Esses tipos de processos que suscitam conversas de aumento de ambição tendem a serem muito duras no contexto da UNFCCC. O diálogo Talanoa é uma tentativa de superar isso e criar um espaço para tentar ser positivo sobre isso.”
O Diálogo Talanoa também foi referido no principal resultado da COP23:
Este texto foi sujeito a alterações até muito tarde na COP23, uma vez que as partes negociaram o quanto queriam estar comprometidas com o processo Talanoa. A escolha final de "welcomes with appreciation” (recebe com apreciação) é significativa - um rascunho anterior tinha os "endossos" mais fortemente redigidos, mas também não iniciou oficialmente o diálogo Talanoa como o texto final fez. As propostas para uma linguagem ainda mais fraca também estavam na mesa.
De acordo com Yamagishi, "um equilíbrio cuidadoso" parece ter sido atingido entre as Partes. Ele observa, no entanto, que o texto final torna difícil para os signatários desafiar a forma como o diálogo é organizado, uma vez que o "recebem com apreciação” e também o "lançam" oficialmente. Vale ressaltar que as mudanças de última hora também incluíram o "começou" em Janeiro de 2018 e não na própria COP23, de acordo com os rascunhos anteriores.
A fase preparatória do Diálogo Talanoa começará agora no próximo ano, antes da fase política conduzida pelos ministros na COP24 na Polônia. Um momento-chave para o diálogo Talanoa também será a publicação do relatório especial 1.5ºC do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em setembro de 2018.
Figura que mostra a "fase preparatória" do diálogo Talanoa. Fonte: UNFCCC.
A COP24 verá a conclusão do diálogo Talanoa com uma "fase política", como ilustrado com este diagrama da UNFCCC.
Figura de "fase política" do diálogo Talanoa a ser realizada na COP24. Fonte: UNFCCC.
Livro de regras de Paris
Como foi o caso da COP22 em Marraquexe no ano passado, as negociações nesta sessão centraram-se em tentativas de fazer progressos significativos no desenvolvimento do "Livro de Regras" de Paris. Isto estabelecerá as regras e processos mais técnicos necessários para cumprir a ambição do Acordo de Paris.
Essas discussões são supervisionadas pelo Grupo de Trabalho Ad-hoc sobre o Acordo de Paris, ou APA. O seu trabalho abrange várias áreas, incluindo a definição do quadro de promessas dos países (conhecidas como contribuições nacionalmente determinadas, ou NDCs), relatórios dos esforços de adaptação, relatórios transparentes das ações tomadas em uma "bolsa global" em 2023 e como monitorar a conformidade com o Acordo de Paris.
O prazo para este trabalho é a COP do próximo ano na Polônia, que será realizada em dezembro de 2018. Mas o objetivo em Bonn foi criar um rascunho dessas diretrizes de implementação, com opções e desentendimentos esboçados de forma tão clara quanto possível para mostrar o que ainda precisa ser resolvido.
O texto final da COP23 reconhece que uma interseccional de negociação adicional pode ser necessária em 2018 entre o período entre maio e a COP24, em dezembro, para garantir que o Livro de Regras de Paris seja concluído a tempo. Isso será decidido durante a reunião agendada do período de sessões de maio, embora os primeiros rascunhos do texto sugerissem "agosto / setembro de 2018" como o tempo preferido para essa sessão adicional.
NDCs; Item 3 da agenda
Um documento de 179 páginas que reuniu as posições das Partes sobre as informações necessárias para comunicar os planos nacionais de ação climática (NDCs) foi lançado no início da semana.
O tamanho do texto indicava diferenças significativas ainda na forma como as NDCs deveriam ser organizadas, entregues e atualizadas. Isso levou a um desapontamento.
Yamide Dagnet, diretora de projeto de ação climática internacional no World Resources Institute, diz que a comunicação da NDC foi a área do livro de regras de Paris com o menor progresso até o momento. Ela diz ao Carbon Brief:
Os países ficaram travados porque não havia acordo sobre como abordar a questão do alcance e diferenciação, bem como a flexibilidade. Então, é dessa forma que chegamos com um documento de 180 páginas que inclui os pontos de vista de todos os países. Deve haver uma simplificação. Precisamos traduzir esses pontos de vista para algum tipo de opções para cada questão.
Estoque Global (item 6 da agenda)
Mais progressos foram feitos no exercício do balanço global de estoque de carbono - uma versão mais formal do Diálogo Talanoa de 2018 - que está inserida no Acordo de Paris e que acontecerá em 2023 e a cada cinco anos depois. As discussões centradas na equidade, bem como o escopo da produção - por exemplo, incluirão perdas e danos.
Transparência (item 5 da agenda)
As negociações de transparência dentro do Livro de Regras de Paris abrangem a forma como o cumprimento será acompanhado, de acordo com o "quadro de transparência reforçada" estabelecido pelo Acordo de Paris.
Dagnet diz que essas conversas fizeram progressos significativos, resultando em um conjunto de texto, ainda com 46 páginas. Ela diz ao Carbon Brief:
“Obviamente, o formato e o formato final provavelmente serão uma conversa política. Precisamos manter esse equilíbrio no próximo ano, mas, pelo menos, podemos realmente assistir a um bom progresso na transparência”.
(Observe que o artigo do Carbon Brief sobre o período entre a interseccional de Bonn em maio de 2017 explicou o que se referem a todos os diferentes "itens da agenda").
Disputas a respeito de financiamento
A resolução de várias questões durante o último dia da COP23 deixou muitos esperando que a reunião (de forma excepcional) terminasse no horário. No entanto, as disputas sobre duas questões financeiras impediram que isso acontecesse e a conferência terminou às 5h30 no sábado de manhã.
As tensões de último minuto se desenrolaram sobre o Artigo 9.5 do Acordo de Paris, que pede aos países desenvolvidos que relatem seus fluxos de financiamento climático para países em desenvolvimento.
Artigo 9.5 no Acordo de Paris. Fonte: UNFCCC.
O ponto chave do Artigo 9.5 é melhorar a previsibilidade dos fluxos financeiros para os países em desenvolvimento, fornecendo informações para ajudá-los a desenvolver seus planos climáticos.
No entanto, com as tensões sobre o "pré-2020" discutidas acima, não houve espaço formal na agenda da COP23 para discutir como desenvolver as diretrizes para o período, com os países desenvolvidos argumentando que as demandas estavam além do que havia sido originalmente acordado.
No final, os negociadores decidiram permitir um tempo extra para discutir esta questão nas reuniões entre os períodos de reuniões intersecionais de agora até a COP24, em dezembro.
Representantes do Brasil, África do Sul, Índia e China reafirmam seu compromisso com os tratados climáticos da ONU durante uma entrevista coletiva na COP23. Um segundo ponto crítico sobre o financiamento foi o Fundo de Adaptação (Adaptation Fund), um fundo multilateral relativamente pequeno, mas politicamente significativo, para projetos de pequena escala. As Partes concordaram anteriormente que isso “pode” (should, em inglês) servir o Acordo de Paris, mas as especificidades disto não foram decididas.
No final da noite, no último dia da COP23, os países membros do Protocolo de Quioto, que o fundo atualmente atende, finalmente acordaram formalmente que o fundo "deve" (shall, em inglês) servir o Acordo de Paris.
O Fundo de Adaptação também recebeu mais de US$ 90 milhões (incluindo US$ 50 milhões da Alemanha) em novas promessas durante a COP. O mesmo montante também foi prometido ao Fundo dos Países Menos Desenvolvidos (LDCF).
Separadamente, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse aos delegados da COP23 durante seu discurso que a Europa irá cobrir qualquer déficit de financiamento para o IPCC. Isso é uma resposta à decisão dos EUA de retirar seu financiamento do corpo científico. "Não vai perder um único euro", disse Macron. O Reino Unido também anunciou que estava comprometendo-se a dobrar sua contribuição.
Perdas e danos
O Acordo de Paris inclui uma seção que reconhece a importância de evitar - e resolver - as perdas e danos causados pelas mudanças climáticas. Ele também diz que as partes devem melhorar a "compreensão, ação e suporte" sobre este tema-chave, que se tornou um pouco problemático nas negociações nos últimos anos.
Para alguns, perdas e danos tornou-se o "terceiro pilar" da ação climática, ao lado de mitigação e adaptação. Mas, ao contrário do que acontece com mitigação e adaptação - com seus prometidos US$ 100 bilhões por ano no financiamento do clima -, atualmente não há fontes de financiamento para perdas e danos.
O fluxo de trabalho para criar o livro de regras de Paris atualmente não inclui perdas e danos como ponto da agenda, o que significa esse assunto não possui um grande espaço no processo político da UNFCCC. Isto é, apesar das demandas dos países em desenvolvimento, de que serão necessários financiamentos adicionais para isso.
Manifestantes em roupas de fantasia de ursos polares depois de uma marcha no sábado, perto do local da COP23 em Bonn, na Alemanha. Crédito: Carbon Brief.
A COP23 incluiu discussões sobre perdas e danos como parte de um processo técnico separado, de menor nível, denominado Mecanismo Internacional de Varsóvia (ou "WIM"). Originalmente acordado em 2013, na COP19 na Polônia, este é um fluxo de trabalho separado da UNFCCC para o Acordo de Paris, com o seu próprio comitê executivo.
O WIM concordou com um novo "plano de trabalho de cinco anos" para o mecanismo, finalizando uma proposta a partir de outubro. No entanto, o WIM ainda não apresentou qualquer plano concreto sobre financiamento - a principal dificuldade em discussões de perdas e danos. Um único "diálogo especializado" também foi definido para o período das interseccionais de maio de 2018, que informará a próxima revisão do WIM em 2019.
Sven Harmeling, coordenador de advocacy para mudanças climáticas na CARE internacional, diz ao Carbon Brief que mudar a discussão de financiamento para 2019 é "totalmente inadequado", tendo em vista os impactos crescentes que tantas pessoas enfrentam.
É urgentemente necessária uma maior ênfase no aprimoramento da ação e do suporte, bem como a identificação de novas fontes de financiamento adicional, para perdas e danos, diz ele, ao lado de iniciativas como a nova Parceria Global InsuResilience, lançada nas negociações deste ano.
Agricultura
Um dos resultados notáveis, ainda que discreto, da conferência deste ano foi o fim de um impasse que durou anos na agricultura.
As Partes concordaram em trabalhar nos próximos anos sobre uma série de questões que ligam mudanças climáticas e agricultura. Eles concordaram em reunir duas discussões técnicas separadas sobre esse assunto em um único processo.
Os países agora foram convidados a apresentar suas opiniões sobre o que deve ser incluído no trabalho até 31 de março de 2018, com opções, incluindo como melhorar o carbono e a fertilidade do solo, como avaliar a adaptação e a resiliência e a criação de melhores sistemas de gerenciamento de gado.
Jason Funk, diretor associado para uso da terra no Center for Carbon Removal, diz que a decisão em si, diferentemente do que se diz, é a parte mais significativa do acordo. Ele diz ao Carbon Brief:
“Eu vi as Partes deliberarem e negociarem sobre as questões da agricultura desde 2011 e eles estiveram perto muitas vezes. Mas esta é a primeira vez que chegaram a um consenso sobre como trabalhar na agricultura. As apostas são muito altas e testemunhei as divisões profundas entre as Partes sobre questões que ligam agricultura e mudanças climáticas. Da forma como vejo, esta decisão indica que eles alcançaram um nível de confiança e um entendimento comum sobre os pontos de vista uns dos outros, e essa confiança e esse entendimento irão abrir caminho para que eles trabalhem com êxito juntos aqui”.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) saudou o resultado da agricultura, chamando-o de "um passo importante" para atender a necessidade de adaptar a agricultura às mudanças climáticas e atender a uma crescente demanda global de alimentos.
Enquanto isso, no início da semana, durante as discussões sobre o Conselho Consultivo Científico e Tecnológico (SBSTA) na COP23, houve uma discussão sobre a melhor maneira de explicar o impacto de aquecimento de fontes e reservas de gases de efeito estufa.
Diplomatas e políticos se reúnem no plenário principal para um estudo de balanço informal no meio da COP23 Crédito: Carbon Brief.
O argumento centra-se em como a métrica comumente usada Potencial de Aquecimento Global (GWP) contabiliza o metano o metano para o efeito de aquecimento. Brasil, Argentina e Uruguai formaram uma nova aliança para dizer que a métrica GWP atualmente supercontabiliza o metano, prejudicando-os injustamente devido às suas grandes indústrias de gado. O Brasil também fez este ponto em sua contribuição de Paris em 2015, onde calculou suas emissões tanto no GWP quanto no Global Temperature Potential (GTP).
No entanto, nenhuma resolução clara foi alcançada e a discussão foi adiada para junho de 2019. Os observadores dizem que isso é algo a ser observado em futuras reuniões.
O “gateway”
Uma proposta apresentada pela República Democrática do Congo (RDC) e seis outros pediram um novo item da agenda para considerar um novo caminho (“gateway”, em inglês). Isso criaria uma plataforma de comércio de emissões aprovada pela ONU, projetada para "incentivar, medir, relatar, verificar e responder a uma maior ambição de entidades corporativas, investidores, regiões, estados / províncias, cidades e organizações da sociedade civil". Porém, isso trouxe para alguns a preocupação que isso poderia aumentar a influência corporativa sobre as negociações da ONU.
Ocorreram preocupações semelhantes durante a primeira semana na COP23, com uma proposta da Ucrânia para aproximar as empresas de energia no processo climático da ONU, incorporando multinacionais de energia em uma "camada intermediária" entre a UNFCCC e os governos nacionais.
O processo continua em 2018
Com a conclusão da COP23, o relógio realmente começa a marcar os principais prazos e eventos em 2018. Com o processo para o diálogo Talanoa agora essencialmente acertado e acontecendo ao longo do próximo ano, ainda resta muito trabalho a fazer antes de acordar O livro de Regras de Paris na COP24 na Polônia.
Abaixo estão algumas datas-chave no diário para o próximo ano ...
Por fim, o Brasil oficializou uma candidatura para sediar COP25 em 2019, que está programada para ser sediada na América Latina e no Caribe (a Argentina e a Jamaica também disseram que estão na disputa). A oferta do Brasil foi inicialmente "recebida com apreciação", sugerindo que é uma vantagem. No entanto, uma intervenção de último minuto significou que isso agora foi colocado para consulta.
Enquanto isso, a Turquia e a Itália sinalizaram o interesse de acolher a COP26 em 2020 - outro ano-chave, quando a próxima rodada de NDCs devem ser enviadas.
Este texto foi publicado originalmente no dia 19 de novembro de 2017 no site Carbon Brief. As opiniões contidas aqui não necessariamente representam as mesmas do WWF-Brasil. Para ter acesso ao conteúdo em inglês, no site do Carbon Brief, clique aqui.