dezembro, 15 2021
Francisco Alves Mendes Filho, popularmente conhecido como Chico Mendes, nasceu em 1944 no seringal de Porto Rico, em Xapuri (AC), filho de Francisco e Maria Rita, migrantes nordestinos que foram para o Acre em busca de oportunidades. Passou a infância e a adolescência cortando seringa com seu pai, mas ficou conhecido por lutar pelo fim da exploração dos seringalistas, pelo direito à terra dos povos extrativistas e pela preservação da Floresta Amazônica.
No dia 15 de dezembro, Chico Mendes completaria 77 anos, se sua vida não tivesse sido interrompida à tiros em 1988, a mando do fazendeiro Darly Alves da Silva.
Alfabetizado com 16 anos, Chico Mendes começou já adulto a sua luta com os seringueiros de Xapuri pelo direito pela posse das terras em que já viviam. Mesmo que algumas famílias vivessem na região desde o chamado primeiro ciclo da borracha, nos fins do século 19, elas não eram donas das terras das quais tiravam seu principal meio de sobrevivência e ficavam à mercê dos donos das fazendas onde ficavam os seringais.
Nasce o ambientalista
Na década de 1970, com o baixo preço da borracha e sob o incentivo do governo federal, as terras de floresta do Acre passaram a ser cobiçadas por pecuaristas vindos do Sul e do Sudeste do país.
Os fazendeiros donos das terras onde ficavam seringueiras e castanheiras vendiam as terras de portas fechadas, autorizando os novos proprietários a desmatarem a floresta para transformá-la em pasto, acabando com o sustento da população extrativista, que era expulsa e tinha suas casas incendiadas.
Nesse contexto, Chico Mendes e outros seringueiros começaram a organizar os “empates”, uma prática que se destacava por confiscar motosserras e se colocar entre as árvores e os tratores para bloquear o avanço do desmatamento.
Chico então fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, ao lado de Wilson Pinheiro e, depois, o Sindicato Rural de Xapuri.
Na mesma época, filiou-se ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro), único partido de oposição autorizado a funcionar no Brasil durante a ditadura militar (1964-1985). Em 1977, foi eleito vereador de Xapuri pelo partido.
Anos depois, Chico se tornou um dos idealizadores do Projeto Seringueiros, iniciativa criada pelo Centro dos Trabalhadores da Amazônia para alfabetizar os moradores dos seringais.
Reconhecido no Brasil e no Mundo
Em 1985, Chico reuniu centenas de seringueiros no 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, na Universidade de Brasília, atraindo a atenção nacional e viabilizando a criação do Conselho Nacional dos Seringueiros, composto por 100 lideranças de todos os estados produtores de borracha natural da Amazônia.
O encontro também tornou possível a criação da Aliança dos Povos da Floresta, um movimento que unia seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco e populações ribeirinhas, para a criação de estratégias de proteção da floresta. Entre as propostas discutidas, estava a criação de reservas extrativistas, onde seriam permitidas apenas atividades extrativistas não predatórias, reduzindo os impactos ambientais gerados pelo desmatamento.
A luta de Chico Mendes o tornou referência na preservação da Natureza, inclusive internacionalmente.
Em 1987, ele foi convidado a participar de uma conferência do BID (Banco Internacional de Desenvolvimento), onde falou sobre os impactos ambientais e sociais que a pavimentação da BR-364 – entre Porto Velho e Rio Branco – poderiam causar. Após sua fala, o BID suspendeu o financiamento para a expansão da rodovia e passou a exigir do governo brasileiro estudos de impacto ambiental na Amazônia.
Já em 1988, ano de sua morte, ele foi premiado com a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society e com o Global 500 da ONU (Organização das Nações Unidas). Até o momento, Chico foi o único brasileiro a receber a honraria que homenageia personalidades que tiveram grandes contribuições na área da preservação ambiental em seus países de origem.
Morte anunciada
Enquanto seu prestígio internacional crescia, aumentava o descontentamento de ruralistas e políticos do Acre, especialmente de Xapuri, com a atuação do líder.
Os empates feitos pelos seringueiros terminavam em prisão e era notável a morosidade na regularização dos conflitos fundiários e na criação de reservas extrativistas.
As ameaças de morte contra o ambientalista se intensificaram durante ao longo de 1988, até que em 22 de dezembro, o que era ameaça virou realidade. Quando estava indo tomar banho no quintal de sua casa em Xapuri, Chico foi atingido pelos tiros que saíram da arma de Darcy Alves, filho de Darly Alves, e morreu.
Chico Mendes era casado e tinha três filhos. Seu velório levou uma multidão à cidade de Xapuri e transformou o ambientalista em uma ideia.
Herói nacional
Dois anos depois de sua morte, o sonho pelo qual tanto lutou se concretizou. Em 1990 foram criadas as primeiras reservas extrativistas, sendo uma das primeiras a Reserva Extrativista Chico Mendes. Com 970 mil hectares, a área de proteção ambiental engloba regiões de Assis Brasil (AC), Brasiléia (AC), Capixaba (AC), Epitaciolândia (AC), Rio Branco (AC), Sena Madureira (AC), Xapuri (AC).
Em 2004, Chico Mendes foi reconhecido Herói da Pátria e teve seu nome incluso no Livro dos Heróis da Pátria. Já em 2013, 25 anos após a sua morte, ele foi declarado, Patrono Nacional do Meio Ambiente.
Semana Chico Mendes
Entre os dias 15 e 22 de dezembro (datas de nascimento e morte do líder seringueiro, respectivamente) serão realizadas as atividades da Semana Chico Mendes 2021.
O evento é promovido pelo Comitê Chico Mendes, com apoio do WWF-Brasil, e traz como tema: “Crise climática: vozes da floresta em defesa do território”.
Neste ano, a Semana volta a ser presencial, no Acre, para garantir a participação e a mobilização das populações tradicionais da Amazônia, onde o acesso à internet ainda é um obstáculo. A atividades também serão transmitidas pelas redes do Comitê Chico Mendes.