Esforço conjunto para recuperar o rio Peruaçu
Afluente do rio São Francisco no norte de Minas Gerais e maior curso d´água do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu está secando, pelo uso excessivo de suas águas e pelo assoreamento
por Aldem Bourscheit e Warner Bento Filho*
Um esforço conjunto entre WWF-Brasil, Agência Nacional de Águas, Fundação Banco do Brasil e Banco do Brasil foi consolidado para recuperar o rio Peruaçu, principal afluente do rio São Francisco no norte de Minas Gerais e maior curso d´água do impressionante Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.
Dar sobrevida ao combalido rio exigirá ações em todos os municípios tocados por sua bacia hidrográfica – Itacarambi, Januária, Bonito de Minas e Cônego Marinho -, incluindo a difusão de técnicas sustentáveis de produção agropecuária, ampliação do extrativismo e educação ambiental.
“Vamos entrar aqui em uma fase de metamorfose. Todos aqui já perceberam que devemos arrumar uma forma de produzir sem degradar. Isso aqui é nossa fonte e nosso projeto de vida”, comentou o agricultor Mosar Gonçalves de Lima (65) em reportagem do Correio Braziliense (confira no atalho ao lado).
O especialista em conservação do WWF-Brasil, Ricardo Novaes, explica que o alvo principal das ações para recuperação do rio será seu trecho médio, onde vive a maioria das famílias da bacia. Na região, a renda familiar mensal é inferior a R$ 70 por pessoa, e o Peruaçu é a principal fonte de sobrevivência.
“É importante fortalecer a conservação do rio frente às comunidades. Mostrar que, mudando o rumo, é possível uma agricultura sustentável, sem degradar esse rio que ainda tem vida em muitas partes”, disse Novaes.
Os moradores da bacia comentam que a história do rio Peruaçu começou a mudar, para pior, nos anos 1980. Na época, contam, uma leva de máquinas agrícolas aportou em pequenas e médias propriedades, cujos donos mal sabiam operá-las. Plantações de soja desmataram e começaram a drenar as nascentes do manancial. Seguindo o curso do rio, queimadas e mais desmatamento mudaram a paisagem regional.
Conforme o coordenador do Programa Cerrado-Pantanal do WWF-Brasil, Michael Becker, a tragédia anunciada na bacia do Peruaçu poderia ter sido evitada com maior atenção para regiões tão sensíveis e importantes como as nascentes do Peruaçu. O mesmo vale para outras áreas de cabeceira, em todo o Cerrado.
“A bacia está inserida no Mosaico de Unidades de Conservação Sertão Veredas-Peruaçu, criado justamente para que a região tenha um modelo de desenvolvimento mais equilibrado, mais sustentável. Esse espírito integrador e mantenedor das riquezas socioculturais precisa estar presente nas estratégias regionais de crescimento econômico”, ressaltou.
O Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu foi decretado pelo governo federal em abril de 2009, reunindo doze unidades de conservação federais, estaduais e particulares, além de uma terra indígena. São 1,5 milhão de hectares destinados à proteção da natureza distribuídos em onze municípios do norte e noroeste de Minas Gerais e sudoeste da Bahia.
Na região, atuam há anos entidades como a Funatura (Fundação pró-Natureza), Instituto Rosa e Sertão, Cooperativa Grande Sertão, Instituto Sociedade, População e Natureza, Instituto Chico Mendes, Cáritas, Funai, órgãos estaduais de meio ambiente e tantas outras dedicadas à implantação sustentável do Mosaico.
"A parceria entre WWF-Brasil, Agência Nacional de Águas, Fundação Banco do Brasil e Banco do Brasil vem justamente apoiar o esforço dessas entidades", completou Michael Becker.
* com informações do Correio Braziliense