Corredeiras, calafrios e borboletas na descida pelo Jari

agosto, 20 2005

Acampada em uma pequena ilha nas proximidades das corredeiras do Andiroba, local onde naufragou a voadeira do Ibama na subida da expedição, a expedição continua a enfrentar os obstáculos existentes na viagem de retorno pelo rio Jari. Além das corredeiras e cachoeiras, febres começam a fazer parte da rotina de alguns de seus integrantes. É o que relatam os técnicos do WWF-Brasil, Marisete Catapan e Marcelo Creão.
Após o café da manhã, o grupo de busca voltou ao trabalho, à procura do barco do Ibama. Foi estipulado que as buscas seriam limitadas até às 10 horas, já que ainda teríamos um grande obstáculo a transpor hoje. Os pescadores tiveram sorte e pegaram um surubim e um trairão, que foram preparados e servidos no almoço, acompanhados por arroz com carne.

Parte do grupo permaneceu no acampamento, aproveitando o tempo para reconhecer melhor a ilha, organizar os relatos, fazer contatos e principalmente cuidar dos equipamentos que estavam úmidos. Pontualmente às 10 horas o grupo de busca ao barco do Ibama encerrou os trabalhos. Os esforços foram infrutíferos, visto que a forte correnteza impossibilitou a localização da voadeira. Está em planejamento uma nova missão de resgate para final de outubro, quando o rio deve estar mais baixo e a correnteza, menor.

Partimos ainda de dia, com o objetivo de acampar num local chamado Jabuti. Alguns quilômetros adiante e várias pequenas corredeiras ultrapassadas, paramos em um pequeno canal do rio entre as ilhas, momento em que o grupo decidiu almoçar mais cedo para iniciar a empreitada de transpor os barcos pela cachoeira Mukuru.

Após essa pausa, o grupo formado por Marcelo, Marisete, Benedito, Alcemira, Cristiano, Marcela, Kempers e Bernadete pegaram suas redes e alguns pertences pessoais e partiram por uma trilha pela floresta, de aproximadamente um quilômetro, até um ponto combinado para o encontro. A trilha era relativamente fácil de caminhar, já que a floresta era muito alta, com árvores de 40 metros de altura, típicas de floresta de terra firme. Chamaram nossa atenção as árvores imensas com caules tabulares para a sustentação da sua altura.

Enquanto isso, o restante da equipe enfrentava o desafio de transportar os barcos pela cachoeira do Mukuru, operação difícil e delicada, já que os batelões e a catraia estão carregados com equipamentos e provisões. O percurso vencido foi de aproximadamente quatro quilômetros, sendo passado um barco de cada vez por pequenos trechos, amarrados em árvores para garantir que não se soltassem e batessem nas rochas ou fossem levados pela forte correnteza.

Quando já achávamos que teríamos de acampar esse noite no Mukuru, eles chegaram felizes por terem conseguido vencer mais este desafio. Como costuma dizer Orlando Índio, sempre que passamos por mais uma corredeira, "morreu!"

Embarcamos para atravessar mais uma corredeira e alcançar nosso objetivo: acampar no Jabuti. Rapidamente chegamos nesse ponto, onde desembarcamos para percorrer uma pequena trilha e alcançar nosso acampamento, já demarcado na viagem de subida. A catraia ficou para os comunitários do Iratapuru poderem pescar.

O local do acampamento era um ponto com deposição de areia e pedras sobre o qual já havia uma pequena estrutura com varas para armar as redes e com muitas árvores adequadas para estendê-las. Ao anoitecer, pudemos observar que na árvore sob a qual foi montado o "escritório" várias borboletas negras com listras vermelhas começaram a chegar para dormir, formando um espetáculo que chamou atenção dos fotógrafos amadores da expedição.

Chegaram os pescadores com a "safra" da noite, peixes como pirarara e barbaxara, que obviamente foram nosso jantar. Marcelo novamente teve febre durante toda a tarde e no anoitecer ficou mais forte, fazendo com quê o Benedito passasse a utilizar medicamento injetável, buscando controlá-la. Como de costume, após o jantar, a maioria foi dormir, ficando alguns numa conversa animada até mais tarde. Percorremos hoje apenas uns seis quilômetros, o menor até agora, sendo um quilômetro a pé e cinco de barco.
Diante de um dos mais de 300 obstáculos naturais existentes no Jari, embarcações aguardam enquanto um dos membros (ao fundo) avalia o melhor local para a travessia
© WWF-Brasil / Marisete CATAPAN
Pausa para o almoço próximo à cachoeira Mukuru
© WWF-Brasil / Marisete CATAPAN
Borboletas fotografadas no acampamento do Jabuti
© Ibama / Cristiano FERREIRA
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