No Mukuru, índios e técnico da expedição com febre

agosto, 19 2005

Leia relato enviado pelos técnicos do WWF-Brasil, Marisete Catapan e Marcelo Creão, sobre a chegada da expedição à aldeia Mukuru, na Terra Indígena Waiãpi.
Na chegada ao acampamento próximo à aldeia Mukuru, Marcelo Creão foi o primeiro a descer e estender sua rede, pois estava febril e sentindo dores pelo corpo. Logo um barco com os Wajãpi Aracu e Marãte e quatro crianças veio dar boas vindas e fazer um convite para jantarmos carne de anta, caçada naquele dia pelo filho de 12 anos do cacique Piriri.

Formou-se uma comitiva para o jantar na aldeia. Orlando, Edivaldo, Oziel, Vemar e Manoel não demoram muito a voltar com um naco de anta e com um pedido de ajuda para o nosso enfermeiro, o Benedito. Piriri e o filho de um ano e meio de Marãte estavam com febre. Uma comitiva formada pelo Benedito, pela cabo Alcemira e outros foram para aldeia, a fim de fazer os atendimentos solicitados.

Fomos dormir sob chuva, mas o amanhecer foi com o sol raiando, diferentemente dos demais dias. O cheiro de café se expandiu pelo acampamento e o pessoal começou a se levantar e a iniciar a rotina de desmontar as redes e arrumar as bagagens nos barcos. Após o café, um grupo foi resgatar o batelão deixado na subida da expedição, nas proximidades do rio Inipucu, por ter apresentado defeito no motor.

Nossos vizinhos wajãpi voltaram ao acampamento. O cacique Piriri apresentava fortes dores no peito, sendo medicado logo em seguida pelo enfermeiro Benedito. Ficaram conversando com o pessoal da vila São Francisco, do Ibama e do batalhão ambiental. Nessa conversa, o chefe wajãpi manifestou alegria pelo nosso retorno. Disse que após a partida da equipe da expedição , na subida pelo Jari, tudo ficou muito triste. Também falou das necessidades que a aldeia está passando, pela falta de coisas simples como panela, carote para transporte de combustível, entre outras coisas.

Fomos nos despedir dos índios wajãpi, na aldeia Mukuru, e conhecer a forma como o chefe faz o aproveitamento da carne de caça: depois de assada, ela ficando defumando por horas e é consumida em torno de cinco dias. Mais despedidas e seguimos o nosso rumo. O objetivo era alcançar as corredeiras da Andiroba e iniciar as buscas de um barco do Ibama que naufragou na subida do Jari.

Durante um longo trecho do rio observamos um fenômeno que nos chamou muito a atenção: a travessia de centenas de borbotas de coloração amarela clara, sempre no mesmo sentido, da margem direita para a esquerda do rio. Já nosso maior obstáculo foi a travessia das corredeiras do Melé, onde tivemos que desembarcar e fazer a transposição do maior salto com cordas e muito cuidado. Aí, foi possível observar com detalhes as exuberantes plantas aquáticas que se desenvolvem nesses locais.

Após o almoço, continuamos alguns quilômetros até chegarmos às corredeiras do Andiroba, por volta das 13h. Passando as primeiras corredeiras, o pessoal posicionou os barcos para iniciar as buscas à voadeira do Ibama. Um grupo logo se organizou, comandado pelo sargento René, e foram utilizadas técnicas de localização, como arrastão e mergulho. Mas a correnteza era muito forte, dificultando a operação.

A busca foi sem sucesso. Resolvemos dar prosseguimento às buscas na manhã do dia seguinte, por isso, decidimos acampar em um local próximo. Lá pelas 16h30, antes que pudéssemos encontrar um local adequado para montar o acampamento, desabou uma tempestade que nos obrigou a ficar numa pequena ilha, com nossas redes. A rede do Marcelo foi a primeira a ser montada, pois sua febre piorou muito com chuva, chegando em torno de 39,7° C. Foi medicado pelo Benedito e cercado de cuidados por todos.

Com o anoitecer, já estávamos instalados e os pescadores de plantão foram tentar a sorte no rio, já fora do parque nacional. Diferentemente do dia anterior, nosso percurso foi de apenas 16 quilômetros, conseqüência dos cuidados especiais ao navegar por longos trechos com pedras e corredeiras.
Marãte Wajãpi, na aldeia Mukuru
© WWF-Brasil / Claudio MARETTI
Operação de busca à voadeira de alumínio do Ibama que naufragou nas correideiras do Andiroba durante a subida do rio Jari
© WWF-Brasil / Marisete CATAPAN
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