De volta à cachoeira do Desespero

agosto, 18 2005

Em seu retorno pelo rio Jari, a expedição que o Ibama e o WWF-Brasil protagonizam dentro do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque se depara novamente com a cachoeira do Desespero, um obstáculo que impõe grande risco aos participantes. Marisete Catapan, com o apoio de Marcelo Creão, técnicos do WWF-Brasil, relatam como foi a operação para atravessá-la.
Nosso dia de trabalho começou antes do amanhecer, como na maioria dos dias, depois de uma noite com chuva intensa. Ficou definido na noite anterior que não tiraríamos nenhum material de dentro dos barcos, exceção das redes, em função do local em que acampamos ser muito alagado. Ainda estava amanhecendo quando saímos para o nosso maior desafio - a descida da cachoeira do Desespero, também chamada Macacoara.

A viagem até a cachoeira foi de grande ansiedade. A cada momento perguntávamos se estávamos longe. O rio estava mais largo, com curvas mais suaves e a vegetação ao redor chamava a atenção pela variedade de espécies de bombacáceas, entre elas a sumaúma e mucubeira. Esta última, com frutos vermelhos e em processo de dispersão das sementes de três formas: anemocórica (pelo vento), zoocórica (por animais, neste caso periquitos) e hidrocórica (pela água).

Navegamos até aproximadamente às 11 horas, quando chegamos à cachoeira do Desespero, considerado o obstáculo mais difícil a ser transposto. Juntamente com a cachoeira de Santo Antonio, ainda no baixo Jari, é considerada como uma "porta fechada" para a colonização do alto Jari. Como o pessoal já tinha experiência com os procedimentos para atracar através das pedras e correntezas da cachoeira, a operação foi mais ágil, mas não menos perigosa e tensa.

O trecho por terra para transportar as embarcações foi de aproximadamente 300 metros, com um desnível de uns 30 metros entre a parte alta e baixa do rio, segundo Marcela Marins, da equipe do Ibama. A vegetação da ilha é exuberante, principalmente em epífitas (plantas que vivem sobre outras plantas), com o aparecimento de várias espécies de orquídeas, como a baunilha.

Todo o material dos batelões e da catraia foi retirado e transportado morro abaixo até o ponto de reembarque, abaixo da cachoeira. A exceção foi o material da cozinha, que foi arrumado rapidamente na parte alta da cachoeira, no mesmo local onde havia sido montada a cozinha na viagem de subida do rio. Bernadete começou a fazer o almoço.

Depois de passarmos todo o material, iniciamos o processo de descida do primeiro batelão, operação relativamente rápida. Porém, não imaginamos que haveria problemas em não amarrarmos a proa do barco com corda em uma árvore. Na primeira parte do trecho, o batelão Flávia tomou um embalo na descida e por muito pouco não bateu em uma das duas árvores da segunda parte plana. Foi um momento de muita apreensão.

Pausa para o almoço e, logo depois, iniciamos a descida da catraia. Nosso maior obstáculo estava vencido. Nossa meta do dia era chegar à aldeia do Mukuru, na Terra Indígena Waiãpi, fronteira com o parque nacional, onde já havia estrutura toda montada, deixada na viagem de subida do rio. Ao anoitecer, chegamos ao Mukuru, uma chegada muito festejada, pois estávamos cansados, molhados e com frio, depois de percorrer mais de 100 quilômetros.
Do alto, a imponência e beleza da cachoeira do Desespero, no rio Jari
© Ibama / Christoph JASTER
A transposição da cachoeira do Desespero, no rio Jari, requereu persistência e determinação dos participantes da expedição
© Zig KOCH
Batelão é transportado por dentro da floresta, na altura da cachoeira do Desespero
© WWF-Brasil / Marisete CATAPAN
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