agosto, 16 2005
Uma imensidão amazônica, verde, mas nada homogênea. Vista de cima, são várias manchas, como um mosaico árabe, entre tons de verde mais escuro, outros muito mais claros, algumas manchas amareladas, outras alaranjadas. São as folhas, e às vezes as flores, variadas, muito variadas. Mas também, o olhar mais atento pode notar que as formas de cada um desses pontos ou manchas são bem distintos, pois algumas árvores têm folhas mais largas, outras são muitas e miúdas, algumas "árvores secas", seja porque mortas, seja porque têm as folhas caducas.
Há árvores, como um tipo de taxizeiro que após a floração seca todo e vem a perecer. As formas das copas também variam muito, com algumas mais em formato de árvore prototípica, com um caule sobre o qual se situa uma semi-esfera com a convexidade para cima, outras formando uma copa quase horizontal, algumas mais esgalhadas, além das palmeiras, entre outras formas.
Geomorfologicamente, predominam as colinas, mas rio Jari acima há pequenas montanhas, incluindo a zona dos inselbergs. No entanto, novamente com o olhar atento, pode se perceber que há zonas mais úmidas no meio da floresta, mesmo sem diferenças topográficas marcantes, onde as árvores maiores já não predominam e os açaizeiros são muito numerosos.
De tempos em tempos, há manchas importantes de taquarais. Aparentemente ocorrendo prioritariamente em encostas, não raro no pé de encostas das colinas, morrotes ou das pequenas montanhas, que podem representar um evento ecológico - como um deslizamento, ou mesmo a queda de uma grande árvore, ou até a ocorrência um pouco mais duradoura de solo menos profundo ou menos fértil, "estimulando" a ocupação por pioneiras, no caso as gramíneas taquaras.
O fato é que, assim como em outros ecossistemas, inclusive florestais como a Mata Atlântica, o taquaral luta agressivamente pelo seu espaço, deixando poucas oportunidades para as demais espécies recolonizarem a área. Com isso, ocupam manchas relativamente reduzidas em termos de proporção comparativamente com a floresta, mas cada uma com área em si significativa. Parece que só há duas formas de evolução ou sucessão: pelas bordas, com as outras espécies, sobretudo de árvores aproveitando o "terreno preparado" pelas pioneiras; ou quando há floração conjunta do taquaral, que seca inteiramente, permitindo ocupação na maior parte da área por outras espécies, novamente sobre o "terreno preparado".
Junto ao rio Jari não foi difícil notar os tipos de vegetação antes descritos, quais sejam, a floresta mais alta, de terra firme; a floresta mais baixa, de planície fluvial; a vegetação mais rasteira, de um a três metros, com predomínio de lianas e uma ou outra árvore, típica de planície de inundação freqüente; e a vegetação praticamente aquática, entrando para dentro do rio.
Curiosa também são algumas formas, não esperadas em um relevo relativamente menos acidentado como este, onde algumas nascentes chegam a escavar as colinas ou morrotes, formando anfiteatros muito pronunciados, com verdadeiros paredões junto à elevação principal.
Se subir o rio Jari por mais de 20 dias dentro do PNMT é uma boa demonstração da imponência deste parque nacional, entre os maiores do mundo, sobrevoá-lo por cerca de duas horas revela sua grandeza, em tamanho e importância.
Lá embaixo, acrescida novamente do Marcelo Creão, do WWF-Brasil, que reassume o comando da expedição; de Cristiano Ferreira e Marcela Marins, ambos da equipe do Ibama que trabalha no parque nacional; e da Marisete Catapan, do WWF-Brasil, que junto com Marcela ingressaram na expedição há poucos dias - e desfalcada de Christoph Jaster, chefe do parque, e deste relator -, a expedição agora enfrenta o regresso pelo rio Jari, até a confluência com o rio Iratapuru, onde fica a comunidade de São Francisco. Serão mais alguns dias, que prometem ser menos penosos que os da subida. Boa viagem de regresso, colegas da expedição pelo rio Jari!