Organização comunitária diferencia Xixuaú
novembro, 09 2008
A comunidade de Xixuaú é diferente de todas as outras pelas quais passamos durante estes sete dias da segunda fase da expedição, principalmente pela forma de sua organização comunitária de seus moradores.
Por Ana Cíntia GuazzelliA comunidade de Xixuaú é diferente de todas as outras pelas quais passamos durante estes sete dias da segunda fase da expedição. Não pela arquitetura de suas casas construídas com madeira e cobertas de palha, nem por sua localização, na beira de um grande lago, mas pela amabilidade de seus moradores e principalmente pela forma de sua organização comunitária.
Hoje, por exemplo, era dia do mutirão da limpeza. As mulheres das 16 famílias da comunidade já sabem: a cada 10 dias, todas se reúnem logo pela manhã e, munidas de vassouras, rastelos e uma caixa de fósforos, partem para limpar o terreiro. Algumas varrem, outras rastelam a folhagem e ateiam fogo no monte de folhas secas. Em algumas horas, todos os quintais estão limpos, inclusive a beira do rio.
Elas compõem o Grupo de Mulheres Beija Flor, nome escolhido por elas próprias, e contribuem com o aumento da renda familiar com a confecção e venda de artesanatos. Fazem brincos, colares, cintos e pulseiras principalmente de sementes da floresta. O recurso do grupo é administrado por sua diretoria. 10% do valor de cada peça é destinado a um fundo utilizado para a compra de materiais para todas.
Freqüentadores da comunidade compram os artesanatos. Ou melhor, compravam, porque há um pouco mais de um mês, técnicos do Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima) e da Fundação Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia de Roraima (Femact) estiveram no Xixuaú acompanhados por dois policiais armados (talvez os mesmos que encontramos em Itaquera) e embargaram a edificação que servia de aposentos para os turistas, a construção de novas malocas e as madeiras beneficiadas para a obra. E não foi só: multas que somam cerca de cinco milhões de reais se juntam aos embargos dirigidos nominalmente a Christopher Clark, um escocês que freqüenta a região há mais de uma década e meia, sócio fundador da ONG Associação Amazônia.
“Nosso turismo foi proibido. Eles não entendem que não queremos desmatar, nem destruir o meio ambiente e que o turismo como fazemos é a melhor forma para conservarmos essa região”, lamentou Justino Filho de Souza, vice-presidente da Associação Amazônia.
Ainda há muito a ser esclarecido sobre esta história toda.
À tarde, começamos a descer o rio Jauaperi. Dormiremos na comunidade de Samaúma e amanhã pela manhã seguimos para Gaspar. Por esta comunidade ainda não passamos.