Um visitante inesperado...

novembro, 07 2008

Ao contrário da expectativa geral dos integrantes da equipe da expedição, a penúltima reunião marcada no rio Jauaperi transcorreu em clima amistoso na comunidade Samaúma. Cerca de 25 pessoas da comunidade compareceram.
Por Ana Cíntia Guazzelli

Ao contrário da expectativa geral dos integrantes da equipe da expedição, a penúltima reunião marcada no rio Jauaperi transcorreu em clima amistoso na comunidade Samaúma. Cerca de 25 pessoas da comunidade se fizeram presentes, além de um representante do Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima) e da Fundação Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia de Roraima (Femact).

Seguindo a metodologia utilizada em todas as reuniões realizadas durante esta semana, Jasylene Pena de Abreu, técnica do WWF-Brasil, abriu os trabalhos pedindo que todos se apresentassem. Em seguida, o senhor José Dionísio, da Reserva Extrativista do Rio Unini, Amazonas, falou sobre a atual situação da unidade de conservação onde mora, criada em 2006. Ele garante que ainda há muito o que fazer para beneficiar os ribeirinhos, mas não tem dúvidas de que a vida da maioria dos comunitários está muito melhor do que antes da criação da reserva extrativista.

Por volta das 9h15, todos os olhares dos participantes da reunião se voltaram para a mesma direção. Eu estava de costas e, quando me virei, me deparei com um dos policiais militares que acompanham funcionários do governo de Roraima chegando vagarosamente. Com um fuzil em punho e um revólver no coldre, ele estava uniformizado e ficou a postos durante todo o evento.

Não houve tumulto, nem discussões acirradas. Alguns comunitários fizeram perguntas sobre a criação da Reserva Extrativista Baixo Rio Branco-Jauaperi, enquanto outros preferiram se calar. Em praticamente duas horas a reunião estava encerrada. Os funcionários do governo presentes também optaram pelo silêncio, mas não se negaram a conversar com nossa equipe antes de voltar ao barco.

Fabrício Nunes de Freitas, agente ambiental da Femact, explicou que o governo de Roraima está iniciando a implementação da área de proteção ambiental, com projetos voltados principalmente para ordenamento territorial, segurança e busca de alternativas econômicas. Ele garantiu que a força policial não tem o objetivo de intimidar os ribeirinhos, nem de gerar tumultos. “Esta região é perigosa, com a presença constante de tartarugueiros (traficantes de quelônios), que andam sempre muito armados. Não podemos arriscar”, disse Nunes.

Às 14h, Fabrício e sua comitiva se reuniram com os mesmos comunitários para falarem sobre os projetos da APA. Nós partimos para a última comunidade a ser visitada pelo grupo, a de Xixuaú. Segundo alguns relatos, foi a conservação deste local e a conseqüente aproximação de turistas para conhecer e contemplar a natureza que lhes serviu de exemplo para que dessem início ao movimento de criação da Resex Baixo Rio Branco-Jauaperi.

O lugar é realmente lindo, mas ainda não tivemos tempo para caminhar e conhecê-lo melhor. Amanhã, a reunião será às 8h e então registraremos em vídeo e fotos este pedacinho conservado da Amazônia.

No final da tarde, tivemos um visitante inesperado muito perto do nosso barco: um jacaré açu (Melanosuchus niger). O lago parece cheio deles, pois em poucos minutos pudemos avistar mais dois bichões um pouco mais longe. Estes animais integram o dia a dia das crianças que, divididas em canoas bem pequenas, se divertiam com a pescaria de final de tarde, no mesmo lago de onde os bichos emergiam de quando em quando.
Representantes do governo de Roraima chegam armados
© WWF-Brasil / Zig Koch
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