Governo de Roraima chega armado para reunião com comunitários

novembro, 06 2008

Hoje o dia foi de folga no trabalho para os integrantes da expedição. Sem qualquer reunião marcada, a maior parte da equipe aproveitou o tempo para lavar roupa, andar pela praia ou tomar banho de cachoeira para recompor as energias e recomeçar amanhã.
Por Ana Cíntia Guazzelli

Hoje o dia foi de folga no trabalho para os integrantes da expedição. Sem qualquer reunião marcada, a maior parte da equipe aproveitou o tempo para lavar roupa, andar pela praia ou tomar banho de cachoeira para recompor as energias e recomeçar amanhã. Atracamos no porto da comunidade de Samaúma, no rio Jauaperi, por volta das 11h. Ainda descansávamos do almoço, quando ao lado do nosso barco atracou uma lancha branca, de dois andares, com adesivo do governo federal (Brasil para Todos) na lateral, mas sem identificação do nome.

A grande surpresa de todos foi quando homens uniformizados, com calça comprida azul e camiseta branca, aparentemente da polícia militar, desceram da lancha com revólver no coldre e metralhadora nas mãos. Aguardamos. Apesar de a embarcação deles estar ao lado da nossa, algumas árvores altas do barranco dificultavam nossa visão. Não sabíamos se eles entrariam em nosso barco ou não.

Eles subiram para a comunidade. Carlos Durigan, da Fundação Vitória Amazônica, e Samuel Tararan, do WWF-Brasil, também subiram. Houve cumprimentos e soubemos que eles se reunirão com os comunitários de Samaúma hoje à noite. Não fomos convidados. Nossa reunião está marcada no mesmo local para amanhã, às 14h. Não sabemos ainda se eles participarão.

A notícia de que uma equipe do Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima) e da Fundação Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia de Roraima (Femact) estava no rio Jauaperi chegou ontem a nós, durante a reunião na comunidade Itaquera. Alguns moradores lamentaram a ausência do instituto, que prometera, por telefone, esclarecer-lhes, frente à nossa equipe, todas as dúvidas que ainda pairam entre os comunitários sobre a criação da Resex Baixo Rio Branco-Jauaperi.

O governo de Roraima é contrário à criação desta Resex, sob alegação de que ela retrocederia o desenvolvimento do estado. Por isso, decretou na área proposta para a Resex a criação de uma área de proteção ambiental (APA), com o argumento de que estaria garantindo a preservação ambiental e ao mesmo tempo garantindo o desenvolvimento econômico dessa região.

Projetos de 11 assentamentos rurais na área proposta para a reserva extrativista e em seu entorno (Decreto Estadual nº 6345 de 05.05.2005); abertura de estrada ligando Santa Maria do Boiaçu (margem do rio Branco) a Rorainópolis (BR-174); proposta de implantação de fábrica de gelo; de fábrica de beneficiamento de castanha e de açaí são algumas ações do governo de Roraima, que trazem esperanças de melhoria de vida aos moradores locais.

O mesmo governo também tem distribuído autorizações de concessão de uso de terras aos moradores das comunidades e doação de 250 mil hectares para exploração de madeira na região. Esse documento condiciona o direito de uso às regras definidas pelo governo, e aqueles que não o fizerem estarão sujeitos à perda da terra.

O título definitivo das terras é um dos maiores desejos dos ribeirinhos. “Queremos garantir nosso direito sobre a terra onde vivemos. O problema é que estamos sempre sendo enganados. Muitos não sabem em quem acreditar e acham que o governo não iria mentir jamais. Eu entendo que a criação da Resex é a melhor solução para este problema ser resolvido para todos nós”, disse Rozan Dias da Silva, morador da comunidade de Itaquera, sócio da Associação dos Artesãos do Rio Jauaperi (AARJ).
Barco do governo de Roraima chega à comunidade de Samaúma
© WWF-Brasil / Zig Koch
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