Produção sustentável: comunidade recebe equipamentos para incrementar sua produção de castanha
11 abril 2019
Doação contempla mais de 4 toneladas de equipamentos e investimentos de mais de R$ 219 mil
Por Jorge Eduardo DantasCom o objetivo de fomentar a produção de castanha na comunidade da Barra de São Manoel – um pequeno vilarejo ribeirinho situado às margens do rio Tapajós, na Amazônia – o WWF-Brasil realizou, nas últimas semanas, a doação de equipamentos para as famílias extrativistas daquele local.
O WWF-Brasil desenvolve, desde 2013, projetos de produção sustentável na comunidade. Esta doação é o mais recente gesto tomado na direção de promover, naquele local, a geração de renda para famílias extrativistas aliada à conservação da natureza.
A lista de produtos doados chega às dezenas e inclui: grupo gerador para aumentar a oferta de energia para a comunidade, três freezers, estufa para exposição de itens, geladeira, materiais e equipamentos de copa e cozinha (como pratos, copos, talheres, panelas), equipamentos para beneficiamento e embalagem de castanha - mesas, fogão, botas, caixas organizadoras, espátulas e formas de aço - e máquina de embalar a vácuo.
Constam ainda neste “pacote” itens voltados para o centro de atendimento aos turistas da comunidade, como uma tevê de 55 polegadas.
Aumento de renda
O total de equipamentos doados soma 4 toneladas de carga e investimentos de mais de R$ 219 mil. Essa é uma das maiores doações de patrimônio feitas pelo WWF-Brasil a uma única comunidade.
Esse gesto beneficia diretamente as 60 famílias da Barra de São Manoel. A previsão é de que, nos próximos anos, esse reforço na produção de castanha aumente a renda das famílias extrativistas à razão de R$ 1 mil por ano até 2022. Além disso, espera-se que os benefícios indiretos desta atividade cheguem a 1,2 mil famílias ribeirinhas da região situada entre os estados do Amazonas, Mato Grosso e Pará. Hoje, a comunidade tem condições de trabalhar com até 30 toneladas de castanha nos quatro meses de safra.
Seis dias
A Barra de São Manoel é uma comunidade bastante remota. Saindo de Manaus (AM), por exemplo, um dos trajetos mais usuais prevê uma hora de viagem de avião, duas a três horas de estrada na BR-230, a Transamazônica (dependendo das condições da estrada e do período do ano); e quatro horas de barco pelo Tapajós. Leva-se praticamente um dia inteiro para chegar lá.
Por isso, o translado deste equipamento teve contornos de aventura: eles foram comprados todos em Brasília (DF) e levaram 6 dias para chegar até a Barra: foram quatro dias de Brasília a Humaitá, no Sul do Amazonas, passando pelas rodovias BR-364 e pela BR-319; e mais dois dias de Humaitá até o "Ramal do Bena", um ponto da BR-230, a Transamazônica, que funciona como ponto de embarque e desembarque fluvial para algumas comunidades ribeirinhas das redondezas. A partir de então, o trajeto é feito pelo rio Tapajós - são mais 4 horas de viagem de barco até, enfim, a chegada à Barra. No total, foram mais de 3 mil quilômetros percorridos.
Segundo o presidente da Associação Agroextrativista e Turística da Barra do Tapajós, Lucivaldo Batista dos Santos, o “Ximbau”, as melhorias na produção da castanha que vão ocorrer após a doação são “muito importantes”.
“Os castanheiros da comunidade estão empolgados. Há uma oportunidade de melhoria da qualidade da nossa produção, e isso é fundamental. Muita gente que abandonou a atividade está pensando em retornar, e isso é outro ponto positivo. Estamos agradecidos, vai sobrar trabalho para mais pessoas e a vontade de empreender tem se espalhado entre as famílias extrativistas, isso é bom”, declarou.
Venda na entressafra
Segundo o técnico em conservação do WWF-Brasil, Izac Theobald, a doação dos equipamentos busca melhorar a vida daquela comunidade.
“A ideia é agregar valor à castanha produzida por estas famílias e possibilitar que os extrativistas vendam o produto por um preço maior. Assim, eles aumentam sua margem de lucro e enfraquecem a figura do atravessador”, disse.
Ciclo da borracha
A Barra de São Manoel é uma comunidade que surgiu em 1892, resultado dos fluxos migratórios ocorridos na Amazônia durante o ciclo da borracha, no início do século XX. A comunidade fica no município de Apuí (AM) mas, devido à distância em relação a esta cidade, também recebe assistência de Jacareacanga, município do sudoeste do Pará.
Ela fica entre o Parque Nacional do Juruena e o Mosaico do Apuí – dois territórios protegidos que, somados, ajudam a proteger mais de 4,3 milhões de hectares de floresta amazônica. O WWF-Brasil desenvolve projetos de conservação da natureza naquela área há mais de uma década.
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