Redução do Pequi preocupa comunidades extrativistas do Cerrado

maio, 22 2018

Pesquisas demonstram severa redução na abrangência da distribuição de pequi como efeito da mudança do clima, estimando um futuro calamitoso para comunidades tradicionais
Por Letícia Campos

Secas e estiagens provocadas pelas mudanças climáticas acometerão importantes espécies de frutos do Cerrado, estimando uma redução drástica (90% da distribuição atual) da mangaba (Hancornia speciosa) e a arnica (Lychnophora ericoides). As predições sobre o pequi (Caryocar brasiliensis) também são bastante ruins, trazendo implicações a milhares de extrativistas que aproveitam o fruto para complementar a renda familiar em um momento que o bioma sofre com a seca. Acesse a publicação na íntegra.

Jorge Martins é um morador da comunidade quilombola do Onça, inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Cavernas do Peruaçu, uma das 16 Unidades de Conservação que integram o Mosaico Sertão Veredas Peruaçu (MSVP), localizado no norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia. Ele é um dos agroextrativistas da região e teve sua vida melhorada quando passou a trabalhar e comercializar a produção sustentável dos frutos do Cerrado, como o pequi, de maneira mais organizada, a partir da criação da Cooperativa dos Agricultores Familiares e Extrativistas do Vale do Peruaçu (COOPERUAÇU), apoiada pelo WWF-Brasil.

“As sucessivas secas já comprometem o plantio na roça, o que torna nossa vida muito sofrida. Com a possibilidade de reduzir o pequi, as condições das comunidades da região ficarão muito duras”, lamentou Jorge. “Meu filho mais velho está na idade em que começamos a migrar para São Paulo, mas com essa renda que estamos tirando do Cerrado ele retornou, pois aqui passou a oferecer perspectiva futura de trabalho”, completou.

Árvores produzem cerca de 400 kg de pequi nessa região, e a estruturação da cadeia produtiva, que vai desde a coleta dos frutos no campo, passando pelo beneficiamento, até a comercialização dos produtos representa um ganho de mais de três mil reais para as sessenta famílias que estão diretamente ligadas ao extrativismo do fruto e 624 indiretamente.

Os produtos do Cerrados como doces e polpas, farofa e óleo de pequi, vão para cidades próximas, como Januária e Montes Claros; para destinos nacionais, como Belo Horizonte, Brasília e São Paulo*, e até mesmo para o outro lado do planeta, com exportações para o Japão, 

Além do benefício social, o WWF-Brasil acredita que o extrativismo é imprescindível para manutenção da biodiversidade e da cultura tradicional dos povos que vivem nesse bioma tão ameaçado. Veja mais em sobre o extrativismo e a conservação do Cerrado neste link.



*os produtos do Cerrado podem ser encontrados regularmente na capital paulista no box dos biomas, do Mercado de Pinheiros, por meio da Central do Cerrado.;
O pequi, importante para a renda de comunidades do Cerrado, é uma das especies mais ameaçadas pelas mudanças climáticas
© André Dib/WWF-Brasil
Agroextrativistas da região tiveram sua vida melhorada com a comercialização a produção sustentável dos frutos do Cerrado
© André Dib/WWF-Brasil
Processamento e beneficiamento de fruto do Cerrado na Cooperativa dos Agricultores Familiares e Extrativistas do Vale do Peruaçu (COOPERUAÇU)
© André Dib/WWF-Brasil
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