#OcupaPanda: Caminhos para eliminar o desmatamento das cadeias produtivas

outubro, 20 2025

Evento é encerrado com dia dedicado à produção sustentável e ao lançamento da Aliança pela Resiliência das Cabeceiras do Pantanal

Por Fábio de Castro, especial para o WWF-Brasil

Realizado pelo WWF-Brasil como preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), o Ocupa Panda foi encerrado na sexta-feira, 17 de outubro, na sede da organização em Brasília, com um dia dedicado às cadeias Livres de Desmatamento e Conversão (DCF). Em cinco painéis, representantes da sociedade civil, do setor privado e do poder público discutiram caminhos para ampliar a contribuição do setor produtivo para a agenda climática a partir da eliminação do desmatamento nas cadeias de suprimentos de commodities. 

Com intensa programação desde a última segunda-feira (13), o Ocupa Panda mobilizou a comunidade engajada na COP30, trazendo à tona discussões essenciais para o êxito da primeira Conferência do Clima sediada na Amazônia. O encerramento, dedicado às cadeias produtivas livres de desmatamento e conversão, reforçou a relevância desse caminho para acelerar a queda nos índices de devastação ambiental no Brasil e no mundo, rumo à meta de desmatamento zero. 

Os painéis discutiram temas como o comércio verde, com foco na nova relação entre Brasil e China; a rastreabilidade das cadeias de commodities como vantagem competitiva para as empresas e os impactos positivos e desafios relacionados a compromissos setoriais como a Moratória da Soja e o termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público Federal (MPF) e frigoríficos, conhecido como “TAC da Carne”. 

Foram debatidas também as inovações em modelos de financiamento verde para a cadeia de recuperação de pastagens degradadas, envolvendo o fomento à produção da sociobiodiversidade e pagamentos por serviços ambientais. No encerramento do evento, foi lançada a Aliança pela Resiliência das Cabeceiras do Pantanal. 

Durante o evento, os participantes destacaram a formação de um novo eixo verde no comércio internacional, protagonizado pelo Brasil e pela China. Como maior importadora de commodities brasileiras, a China demonstra crescente preocupação com os efeitos da crise climática na produção agropecuária do Brasil, que podem comprometer a segurança alimentar e causar instabilidade nos preços dos alimentos no país do Extremo Oriente. 

“Está acontecendo uma redistribuição dos polos de poder na política climática mundial. Enquanto os Estados Unidos abandonaram as discussões climáticas e a Europa retroagiu em seu protagonismo como grupo mais progressista nessas discussões, o Brasil e a China estão ocupando um espaço importante, de forma inteligente e consistente”, comentou Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil. 

A China está eliminando cada um dos seus gargalos tecnológicos, mas não encontrou saída ainda para garantir a segurança alimentar nos próximos 20 anos. Isso pode ser uma oportunidade para o Brasil, de acordo com André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). 

“Há uma nova geopolítica que pode representar uma forma diferente de se relacionar com a natureza, e o Brasil e a China podem ser precursores disso. Temos que fazer isso dentro de um novo modelo, que pressupõe a floresta em pé”, disse Guimarães. 

 

Rastreabilidade na agropecuária 

Representantes do setor privado e do poder público brasileiros expuseram, durante o evento, casos de sucesso de modelos de rastreabilidade das cadeias produtivas, como a plataforma de monitoramento da pecuária  SRBIPA, do Pará, o Sistema de Fiscalização e Monitoramento do Agronegócio e da Vegetação Nativa (SIFMA-SELO VERDE), do Maranhão, e o programa SouABR, da ABRAPA, que usa tecnologia blockchain, em conjunto com a cadeia têxtil, para rastrear peças de roupa, desde o plantio do algodão certificado até a venda do produto final. 

“As apresentações foram inspiradoras. O caso do algodão, por exemplo, mostra como a iniciativa privada pode atuar e que é possível ter uma commodity rastreada de ponta a ponta, dando transparência a todos os processos e agregando valor ao produto”, comentou Daniela Teston, diretora de Relações Corporativas do WWF-Brasil. 

Para Daniela, porém, apesar das iniciativas exemplares, ainda há muitos desafios em relação à rastreabilidade das commodities. Um exemplo disso foi dado por Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade da MBRF, uma das maiores produtoras e exportadoras de carne do Brasil.  

“Temos mais de 1.100 frigoríficos no Brasil que se dedicam à pecuária bovina e apenas 20% deles têm selo do sistema de inspeção federal - e elas têm 75% do mercado. Cerca de 75% da produção de carne fica no mercado doméstico, com grau zero de exigência socioambiental”, declarou Pianez. 

 

Pactos setoriais e financiamento para restauração

Debatedores envolvidos com a implementação de dois dos acordos multissetoriais mais importantes para deter o desmatamento causado pela produção de commodities - a Moratória da Soja e a TAC da Carne - analisaram o histórico e os impactos positivos dessas iniciativas. De acordo com Pablo Majer, líder de Conversão Zero do WWF-Brasil, as exposições mostraram como esses acordos trouxeram muitos avanços para a agenda ambiental e muitos benefícios aos produtores, frigoríficos, traders e ao mercado nacional, com grande reconhecimento internacional. 

“Estamos vivendo um momento desafiador. Por um lado, temos o contexto da COP30, falando de uma série de ações ambientais, da tentativa de fortalecer a agenda ambiental e climática, por outro lado, temos ataques diários à Moratória da Soja. É um momento delicado e complexo. Temos aqui um caminho muito claro para seguirmos juntos. É muito importante que todos os atores estejam envolvidos, o setor privado, o setor público, a sociedade civil e o setor produtivo, que é essencial para as nossas metas climáticas”, disse Majer. 

Com mais de 100 milhões de hectares de pastagens degradadas, o Brasil detém um dos maiores potenciais do mundo para restaurar produtividade, reduzir emissões e aumentar a resiliência climática, destacou Laís Ernesto Cunha, analista Sênior de Conservação do WWF-Brasil, em um painel que discutiu políticas e instrumentos de financiamento verde já disponíveis e apresentou experiências de campo que conectam crédito, conservação e produtividade. 

O painel contou com a participação de membros de bancos, representantes de órgãos públicos envolvidos em políticas de financiamento verde e executores de atividades produtivas sustentáveis. Segundo Laís, o debate demonstrou que é possível transformar em ativo o passivo das pastagens degradadas, integrando políticas públicas, instrumentos financeiros e experiências práticas de campo. “Hoje, falar em aumento da produção com desmatamento é perder credibilidade. Não é preciso derrubar nenhuma árvore para se produzir mais e melhor. A boa notícia é que há um caminho para isso”, afirmou. 

 

Recuperação das Cabeceiras do Pantanal 

Durante o lançamento da Aliança pela Resiliência das Cabeceiras do Pantanal, os debatedores mostraram a importância da região para a segurança hídrica e climática do Brasil e celebraram a união de empresas e organizações que atuaram sob a coordenação do WWF-Brasil para fortalecer a governança e a restauração dessa enorme área de Cerrado que abastece o Pantanal. 

“Atuar na recuperação das Cabeceiras do Pantanal é fazer a coisa certa. Se estamos tirando recursos de lá, temos que devolver na mesma mediada”, afirmou Gabriel Serber, vice-presidente de Impacto Social e Sustentabilidade da Arcos Dorados, empresa que opera os restaurantes McDonald's na América Latina e faz parte da parceria no Cerrado. 

Maíra Sugawara, coordenadora de Sustentabilidade Ambiental do Instituto Aegea, comentou a importância de os trabalhos serem baseados em dados científicos e da colaboração entre setores para fazer a diferença no território. A empresa atua há três anos em parceria com o WWF-Brasil na elaboração de estudos e projetos relacionados à restauração da paisagem na área das Cabeceiras do Pantanal, trazendo soluções para o enfrentamento dos desafios impostos ao saneamento na região. 

“A parceria com o WWF-Brasil trouxe ciência e dados para nossa abordagem e atuação no território. Não é fácil aprovar grandes projetos de restauração em uma diretoria de empresa. O setor privado gosta de previsibilidade e segurança jurídica - e isso se constrói com dados”, declarou Maíra. 

 

FIQUE DE OLHO! 

Daniela Teston, diretora de Relações Corporativas do WWF-Brasil 

“O setor empresarial tem um papel importantíssimo, fortalecendo a cadeia produtiva regenerativa, como as redes de sementes e a bioeconomia local, apoiando a tecnologia de impacto, mantendo o engajamento em coalizões multissetoriais. Mais que responsabilidade ambiental, estamos falando de estratégia inteligente de negócios. Regenerar as Cabeceiras do Pantanal não é só agenda ambiental, é justiça climática e inclusão social. Essa estratégia só será bem-sucedida se for construída com quem vive e cuida da terra: as comunidades tradicionais, os produtores rurais e os empreendedores comprometidos. Investir na regeneração é investir no futuro das nossas empresas, do nosso país e do nosso planeta.” 

 

Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade da MBRF 

“A ciência mostra que, para mitigar o risco do alto grau de degradação atual no Pantanal, é preciso cuidar das Cabeceiras, no Cerrado. Um caminho fundamental para fazer a recuperação de áreas degradadas nas Cabeceiras do Pantanal, tornando-as produtivas novamente, é fazer com que sejam rentáveis e que o produtor consiga mesclar sua atividade econômica com a cadeia de restauração, que também vai gerar renda. Não existe produção sustentável se ela antes não for rentável.” 

 

Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil 

“Muita gente acha que a China nunca vai incorporar critérios ambientais em suas decisões de compra de commodities. Mas começamos a aprender que a China olha com muita atenção os estudos científicos sobre os impactos do desmatamento e como isso pode prejudicar os negócios. Grandes compradores chineses de carne e soja do Brasil começaram a entender os impactos e passaram a incorporar critérios ambientais, ou ao menos exigir soja e carne livres de desmatamento. Toda essa questão sobre comércio verde é uma tendência colocada na relação diplomática entre Brasil e China - e os chineses virão à COP30 afirmar que essa é a tendência”. 

 

André Guimarães, diretor-executivo do IPAM 

“As prioridades na COP30 serão os debates sobre o multilateralismo, como avançar na implementação e como aproximar a agenda do clima da vida das pessoas. Quando falamos de floresta, segurança alimentar, trade, commodities, estamos falando de clima. Já mexemos demais com o planeta e chegamos a um momento no qual não há mais dúvidas, o caminho é um só: acabar com o desmatamento. Cuidar da floresta é manter a capacidade produtiva e também os preços dos alimentos. Nós vamos ter que produzir mais alimentos para uma população crescente, em menos áreas. Essa é a equação que se impõe”.  

 

COMO O WWF-BRASIL ATUA  

O WWF-Brasil tem o compromisso de contribuir para a construção de um futuro sustentável, em que o país avance rumo à neutralidade de emissões, com sua biodiversidade conservada e impulsionado por um modelo de desenvolvimento justo, inclusivo e responsável. Nossa estratégia está estruturada em quatro pilares:  

  • Zerar o desmatamento e fomentar Soluções Baseadas na Natureza.  
  • Fortalecer a conservação da biodiversidade.  
  • Proteger direitos e promover o bem-estar de povos e comunidades tradicionais.  
  • Promover um desenvolvimento de baixo impacto.  

 

NOSSAS AÇÕES NA AGENDA DE CADEIAS LIVRES DE DESMATAMENTO E CONVERSÃO (DCF)

O WWF-Brasil atua em parceria com diversos setores e partes interessadas para alcançar a meta de desmatamento zero nos ecossistemas naturais — um passo fundamental para manter a temperatura global abaixo do limite crítico de 1,5°C. Para isso, além de incentivarmos a criação de Unidades de Conservação e a demarcação de Terras Indígenas, fomentamos o engajamento do setor privado, pois a crescente demanda por alimentos e a expansão das áreas agrícolas e de pastagens são alguns dos principais motores do desmatamento. 

Baseamos nosso trabalho na ciência para substituir o desmatamento por estratégias eficazes de recuperação de pastagens degradadas, promovendo uma agropecuária sustentável e responsável. Também apoiamos o desenvolvimento das chamadas “finanças verdes”, buscando influenciar positivamente o mercado financeiro ao evidenciar os impactos econômicos, sociais e ambientais do desmatamento.  

Outra frente estratégica é fortalecer a agenda de cadeias produtivas livres de desmatamento e conversão (DFC), para destravar o potencial do setor privado na contribuição à agenda climática, eliminando o desmatamento em suas cadeias de suprimentos de commodities.

Com intensa programação entre 13 e 17 de outubro, o Ocupa Panda mobilizou a comunidade engajada na COP30, trazendo à tona discussões essenciais para o êxito da primeira Conferência do Clima sediada na Amazônia.
© Jacqueline Lisboa / WWF-Brasil
“As apresentações foram inspiradoras. O caso do algodão, por exemplo, mostra como a iniciativa privada pode atuar e que é possível ter uma commodity rastreada de ponta a ponta, dando transparência a todos os processos e agregando valor ao produto”, comentou Daniela Teston, diretora de Relações Corporativas do WWF-Brasil.
© Jacqueline Lisboa / WWF-Brasil
“Temos mais de 1.100 frigoríficos no Brasil que se dedicam à pecuária bovina e apenas 20% deles têm selo do sistema de inspeção federal - e elas têm 75% do mercado. Cerca de 75% da produção de carne fica no mercado doméstico, com grau zero de exigência socioambiental”, declarou Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade da MBRF, uma das maiores produtoras e exportadoras de carne do Brasil.
© Jacqueline Lisboa / WWF-Brasil
“Está acontecendo uma redistribuição dos polos de poder na política climática mundial. Enquanto os Estados Unidos abandonaram as discussões climáticas e a Europa retroagiu em seu protagonismo como grupo mais progressista nessas discussões, o Brasil e a China estão ocupando um espaço importante, de forma inteligente e consistente”, comentou Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.
© Jacqueline Lisboa / WWF-Brasil
“Há uma nova geopolítica que pode representar uma forma diferente de se relacionar com a natureza, e o Brasil e a China podem ser precursores disso. Temos que fazer isso dentro de um novo modelo, que pressupõe a floresta em pé”, disse André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
© Jacqueline Lisboa / WWF-Brasil
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