outubro, 16 2025
Por Solange Azevedo, do WWF-Brasil
Nesta quarta-feira, 15 de outubro, a sede do WWF-Brasil, em Brasília, recebeu o “Workshop Mutirão Azul: Acelerando Soluções Climáticas Baseadas no Oceano”, iniciativa que marca um passo importante rumo à COP30, que será realizada em Belém, no Pará, a partir de 10 de novembro. O evento reuniu cerca de 70 representantes de mais de 50 organizações da sociedade civil, povos indígenas, comunidades tradicionais, pesquisadores e autoridades governamentais.
Organizado pela Enviada Especial da COP30 para os Oceanos, pelo Governo Federal e pelo WWF-Brasil, com apoio da Fundação Oceano Azul, o encontro teve como foco principal a apresentação e o debate do Plano de Aceleração de soluções climáticas do Objetivo-Chave 7: “Esforços para preservar e restaurar os oceanos e ecossistemas costeiros”. A iniciativa busca transformar soluções existentes em ações coordenadas e de grande escala, que contribuam diretamente para a mitigação, adaptação, resiliência e justiça climática.
O workshop aconteceu em um momento crucial. Nos preparativos para a COP30, o Brasil propõe ajustes na Agenda Global de Ação Climática para alinhar compromissos nacionais e internacionais ao Acordo de Paris. Entre esses ajustes, os Planos de Aceleração surgem como ferramentas-chave para superar barreiras na implementação de soluções concretas. O “Pacote Azul”, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e pelos High Level Climate Champions, foi o destaque do dia.
“Desenhamos este evento para trazer a sociedade civil, a academia e órgãos de governo para preenchermos as lacunas da Agenda de Ação que está sendo construída pela presidência brasileira da COP30 Brasil no âmbito de Oceano e Clima e levarmos as demandas necessárias para a COP30”, afirmou Ana Paula Prates, diretora de Oceano e Gestão Costeira do MMA. Ela destacou que, embora o Oceano seja o principal regulador climático do planeta, historicamente ficou relegado a segundo plano por não estar contemplado na Convenção do Clima. “Pela primeira vez, o Brasil incluiu ações baseadas no Oceano na sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). Isso já é um avanço enorme. Estamos levando essa ‘onda azul’ fortalecida para a COP30, com o Oceano aparecendo de forma transversal em várias pautas. Nosso objetivo é que, até a COP31 ou 32, ele se torne um item de agenda efetivo nas negociações globais.”
Durante o dia, os participantes mapearam sinergias entre iniciativas que atuam na proteção dos oceanos, discutiram mecanismos de financiamento e cooperação técnica, e buscaram caminhos para remover entraves à implementação das soluções. Também foram abordadas as prioridades das comunidades tradicionais brasileiras, além da necessidade de garantir transparência e monitoramento dos avanços.
“Foi um exercício muito importante entender quem são os atores envolvidos nesse processo e como nós, populações das marés e das águas, conseguimos fazer a incidência necessária para que nossas demandas estejam presentes nos diálogos e documentos que estão sendo construídos para a COP30”, salientou Gesiane Leite, da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos e Comunidades Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos (Confrem). “Conseguimos organizar a nossa pauta e elaborar um documento coletivo. Agora, o desafio é fazer com que essa pauta chegue com força à mesa de negociações. Estar na COP não é só estar presente, é estar preparado, com recursos e estrutura para incidir de verdade.”
“Esse espaço é importante porque abre caminho para que possamos trazer as propostas das comunidades das águas, dos homens e mulheres que historicamente se relacionam com o Oceano. Mas ele ainda não é suficiente. Precisamos ampliar a escuta, garantir a presença da juventude, das mulheres, e sobretudo reconhecer essas comunidades como guardiãs dos territórios marinhos”, frisou Andréa do Espírito Santo, do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP). “Espero que a COP30, realizada no território sagrado da Amazônia, seja de fato um processo de escuta e compromisso com os povos das águas. Que seja um grande mutirão, uma grande ciranda de construção coletiva, onde os saberes tradicionais sejam reconhecidos e valorizados como caminhos para enfrentar a crise climática.”
O Mutirão Azul visa fortalecer o diálogo entre diferentes setores e ampliar a visibilidade de soluções nacionais e internacionais baseadas no Oceano, impulsionando a ação climática global. A expectativa é catalisar alianças e compromissos concretos para que a COP30 seja um marco na integração entre Oceano e Clima, com o Brasil desempenhando um papel central nessa agenda global.
“Muitas vezes, o oceano é visto apenas como uma imensidão azul. Mas, na verdade, ele é repleto de vida, abriga diversas atividades industriais e pesqueiras — e, acima de tudo, sustenta comunidades inteiras que dependem dele para viver”, destacou Marina Corrêa, ponto focal da agenda de Oceano no WWF-Brasil. “Por isso, é fundamental que a voz dessas pessoas seja ouvida quando falamos de soluções climáticas, para que possamos construir o futuro que desejamos como sociedade.”
“Desde que a COP30 foi confirmada no Brasil, entendemos que teríamos um papel fundamental em elevar a importância da agenda oceânica. Por isso, temos apoiado ativamente o governo federal e a enviada especial de oceanos da COP30, , e também temos atuado para socializar o entendimento dos processos da convenção do clima com a sociedade civil e comunidades tradicionais”, acrescentou Marina. “Só com todas essas vozes juntas, em rede, conseguiremos formar essa onda — ou melhor, essa corrente marinha — que vai nos levar fortalecidos para a COP30.”
Gesiane Leite, da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos e Comunidades Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos (Confrem)
"Nós, populações das marés e das águas, somos os primeiros a sentir os impactos das mudanças climáticas — mas também somos os primeiros a responder. Precisamos ser reconhecidos como aliados estratégicos, guardiões de um conhecimento tradicional que é essencial para um oceano saudável."
Andréa do Espírito Santo, do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP)
“As comunidades tradicionais pesqueiras seguem invisibilizadas. Elas existem em territórios hoje altamente ameaçados por empreendimentos como petróleo, mineração e energia eólica. O oceano virou a nova fronteira do desenvolvimento. E, para esses projetos avançarem, é preciso invisibilizar quem vive e protege esses espaços.”
Marina Corrêa, ponto focal do WWF-Brasil para o Oceano
“Enquanto o oceano não for reconhecido como um dos pilares centrais da solução climática — ao lado das florestas — continuaremos ignorando soluções que estão em 70% do planeta. Nossa expectativa é que a COP30 seja um marco para fortalecer a ambição dessa agenda, tanto pelos países quanto pela sociedade civil e setor privado.”
Ana Paula Prates, diretora de Oceano e Gestão Costeira do MMA
“O oceano finalmente entrou no debate climático, mas o sucesso real da COP30 será medido pelo nível de engajamento dos países nas metas climáticas. Sem uma ação global concreta, especialmente dos grandes emissores, estaremos fadados ao fracasso.”
O WWF-Brasil tem o compromisso de contribuir para a construção de um futuro sustentável, em que o país avance rumo à neutralidade de emissões, com sua biodiversidade conservada e impulsionado por um modelo de desenvolvimento justo, inclusivo e responsável. Nossa estratégia está estruturada em quatro pilares:
- Zerar o desmatamento e fomentar Soluções Baseadas na Natureza.
- Fortalecer a conservação da biodiversidade.
- Proteger direitos e promover o bem-estar de povos e comunidades tradicionais.
- Promover um desenvolvimento de baixo impacto.
Em 2024, o WWF-Brasil reformulou sua estratégia para a proteção dos oceanos, ampliando ações e elevando o tema nas pautas governamentais e em fóruns internacionais. A nova abordagem concentra esforços em quatro frentes principais: criação de áreas protegidas, proteção de espécies, transição energética e incidência em políticas públicas — todas voltadas a enfrentar os impactos da crise climática.
Na criação de novas áreas marinhas protegidas, a organização, em parceria com outras instituições, trabalha na região dos montes submarinos das cadeias de Fernando de Noronha e Norte Brasileira, e dosdos Abrolhos — reconhecida como o ponto de maior biodiversidade do Atlântico Sul.
O WWF-Brasil também atua na conservação e restauração de corais no litoral nordestino, além de fomentar pesquisas científicas em ecossistemas marinhos. Na transição energética, defende o phase-out da exploração de oleo e gas e avanço de fontes renováveis com salvaguardas, apoiando o Planejamento Espacial Marinho, instrumento que organiza as atividades na zona costeira de forma sustentável.
Na frente política, a instituição participou ativamente de eventos globais como o G20, no Rio de Janeiro, a COP29 do Clima, no Azerbaijão, e a COP16 da Biodiversidade, na Colômbia. Ainda em 2024, foi eleita representante da sociedade civil na Comissão Nacional da Biodiversidade (CONABIO), onde acompanhará a implementação das metas do Marco Global da Biodiversidade no Brasil.