outubro, 20 2025
Por WWF-Brasil
Contra os melhores interesses dos brasileiros, a Petrobras segue avançando em seus planos para explorar petróleo na Foz do Amazonas, região que se estende do Amapá até a Bacia Potiguar, na costa do Rio Grande do Norte. Acreditamos que esse caminho representa um equívoco estratégico para o Amapá, para o Brasil e para o futuro do planeta.
O primeiro e mais urgente motivo para sermos contra essa exploração é que os combustíveis fósseis são a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE), responsáveis por entre 66% e 75% das emissões globais. Esses gases estão mudando o clima em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde enchentes, deslizamentos e secas estão se tornando cada vez mais frequentes.
O próprio Amapá poderá perder áreas importantes de seu território como, por exemplo, uma parte importante do Parque Nacional Cabo Orange, a Reserva Biológica Lago Piratuba e a Reserva Extrativista do Rio Cajari, devido a elevação do nível do mar até 2050, conforme o Climate Central, que traça cenários globais sobre a elevação do nível do mar. Em termos mais amplos, os eventos extremos do ano passado fizeram com que o Produto Interno Interno Bruto (PIB) da agropecuária tenha sofrido uma queda de 3,2% - o maior tombo desde 2016, segundo o IBGE. As diversas quebras de safra são parte da alta dos preços dos alimentos que está corroendo o poder de compra dos brasileiros, notadamente os mais pobres.
Abrir novos poços de petróleo agrava este cenário e mantém a Petrobras, uma das empresas líderes do mundo em tecnologias de extração de combustíveis fósseis, na retaguarda da corrida tecnológica que acontece paralelamente à transição para uma economia descarbonizada - transição estabelecida pelas negociações climáticas globais, que este ano são sediadas no Brasil.
É urgente que a Petrobras reveja seu planejamento estratégico para assegurar que desenvolva e domine as tecnologias renováveis necessárias para a soberania energética do país nas próximas décadas em que o mundo deverá superar o pico do consumo de petróleo e entrar em rota de desaceleração, como prevê a Agência Internacional de Energia (IEA). A segurança energética do país, por sua vez, não precisa das supostas reservas da Foz do Amazonas. O Brasil já possui reservas comprovadas de petróleo mais do que suficientes para suprir sua demanda interna em um cenário de transição energética.
Além disso, a ideia de que a exploração petrolífera trará desenvolvimento regional sustentável não se sustenta. O setor de petróleo é uma indústria de capital intensivo, que gera poucos empregos e concentra lucros nas mãos de poucos acionistas. As populações locais precisam de alternativas de desenvolvimento que realmente tragam inclusão social e distribuam riqueza, como investimentos em energias renováveis, bioeconomia e infraestrutura verde. A aposta contínua no petróleo desvia recursos e incentivos que poderiam estar sendo direcionados para essas áreas, prejudicando a transição energética e reduzindo as oportunidades para a população da região.
O segundo motivo que nos preocupa é o risco ambiental da exploração na Margem Equatorial, uma das regiões mais biodiversas e sensíveis do país. A área concentra 80% dos manguezais brasileiros, ecossistemas essenciais para a proteção costeira e a captura de carbono. A forte dinâmica de correntes marinhas na Foz do Amazonas aumenta os riscos de vazamentos de petróleo, tornando a contenção de um eventual desastre extremamente difícil. Essas mesmas preocupações levaram o Ibama a negar licenças para a exploração na região em diversas ocasiões, tanto para a empresa Total, no passado, quanto para a própria Petrobras, em 2023. Apesar disso, a Petrobras seguiu pressionando para que o processo de licenciamento fosse reaberto, mesmo sem apresentar garantias ambientais robustas.
O terceiro motivo mais citado pelos setores favoráveis à exploração é que a geração e distribuição de recursos financeiros através da distribuição de royalties, entendidos como uma compensação financeira pela exploração de recursos não renováveis, poderia ser utilizada para o endereçamento das externalidades negativas, mas o que se vê ao longo da história brasileira é a falta de controle na gestão desses recursos.
Sequer para em pé o discurso do uso da renda petroleira estatal como fonte para ampliar recursos para políticas de educação, saúde e meio ambiente, uma vez que parte importante dos recursos recebidos como dividendos têm como destino o pagamento de juros da dívida interna. Já as receitas na forma de royalties e participação especial, com exceção daquelas legalmente transferidas aos estados e municípios, pouco se destinam às políticas sociais e praticamente nada à transição energética.
Defendemos que a Petrobras assuma sua responsabilidade na construção de um futuro energético mais sustentável. O Brasil tem um potencial imenso em energias renováveis como solar, eólica e hidrogênio verde. A Petrobras deveria liderar essa transformação, e não insistir em um modelo ultrapassado que coloca em risco o meio ambiente e a segurança climática global.
A crise climática exige escolhas corajosas. Não há mais espaço para novas fronteiras de exploração de petróleo. O futuro do Brasil não está no petróleo, mas na transição para um modelo econômico sustentável e inclusivo.
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