Expansão da exploração de petróleo da Petrobras é uma aposta ruim para o Brasil, mostra relatório
junho, 12 2025
O governo brasileiro deve leiloar licenças de exploração em 17 de junho, incluindo 47 blocos offshore na ecologicamente sensível foz da Bacia Amazônica
Por WWF-Brasil e IISDOs planos do Brasil para expandir a produção de petróleo e gás em mais de 20% até 2030 representam riscos econômicos significativos. Até 85% da extração planejada pela estatal Petrobras podem não gerar lucro em um cenário climático de 1,5°C, de acordo com nova análise.
O estudo divulgado hoje pelo Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD), World Benchmarking Alliance (WBA) e WWF-Brasil constata que os empreendimentos de maior risco da Petrobras só gerariam lucro se as temperaturas globais aumentassem 2,4°C ou mais — bem acima dos limites climáticos acordados internacionalmente.
A empresa é responsável por mais da metade da expansão planejada do Brasil, incluindo alguns dos projetos fronteiriços mais caros e arriscados. Em meio à intensificação da competição por participação de mercado, e considerando a estrutura de custos dos campos petrolíferos brasileiros, a maioria dos novos empreendimentos da Petrobras só pode ser rentável em um mundo perigosamente superaquecido, alerta o relatório.
O governo brasileiro deve leiloar licenças de exploração em 17 de junho, incluindo 47 blocos offshore na ecologicamente sensível foz da Bacia Amazônica.
O relatório "Brasil em uma Encruzilhada: Repensando a Expansão de Petróleo e Gás da Petrobras" mostra que:
- Até 85% do petróleo nos novos projetos da Petrobras não é economicamente viável para extração em um cenário compatível com a limitação do aquecimento global a 1,5°C, a meta internacional. Os empreendimentos mais arriscados da Petrobras só seriam lucrativos em um mundo onde o aquecimento global excede 2,4°C.
- A Petrobras planeja investir US$ 97 bilhões em exploração, produção, transporte e refino de petróleo e gás durante 2025-2029. Apenas 15% de seu orçamento é destinado à descarbonização de operações e diversificação para energia limpa.
- A Petrobras está atrás das principais empresas de petróleo e gás em medidas de desempenho climático. Há espaço significativo para melhoria na intensidade de carbono de seus produtos, metas de emissões e estratégia de diversificação.
Migrar os gastos de petróleo e gás para energia limpa mitigaria o risco de ativos encalhados, ajudaria a fechar a lacuna de investimentos do Brasil em renováveis e posicionaria a Petrobras como líder na transição energética.
Pesquisas sugerem que os brasileiros querem que a Petrobras assuma essa liderança. Em uma enquete de 2024 realizada pela Pollfish para o Climainfo, 81% dos entrevistados disseram que a Petrobras deveria migrar para energia renovável imediatamente, contra 19% que disseram que ela deveria continuar sendo uma empresa de combustíveis fósseis.
"O Brasil tem uma oportunidade real de liderar em clima e preparar sua economia para o futuro", diz Joachim Roth, coautor do relatório e Líder de Política Climática da World Benchmarking Alliance. "Pode fazer isso redefinindo o mandato da Petrobras, encerrando novas licenças de petróleo e gás e alinhando os planos de transição nacionais e do setor privado por meio de uma abordagem governamental integrada."
O governo brasileiro pode influenciar esse caminho, tanto por meio de ações políticas quanto por sua participação controladora na Petrobras. Para um futuro estável, seguro e sustentável, o relatório recomenda ao governo brasileiro:
- Criar um roteiro para conter a expansão doméstica de petróleo e gás. Parar de emitir licenças de exploração de combustíveis fósseis e eliminar gradualmente as licenças de desenvolvimento, começando pelos ativos com maior probabilidade de ficarem encalhados em trajetórias de baixo carbono. Vincular o planejamento de transição nacional com trajetórias setoriais e regionais credíveis e implementação em nível empresarial.
- Redefinir o mandato da Petrobras. Trabalhar com a Petrobras em um plano de transição crível e ambicioso, alinhado com os objetivos climáticos e de desenvolvimento sustentável. Adotar uma estratégia de "modo colheita" para maximizar os fluxos de caixa e os retornos aos acionistas, evitando despesas de capital no desenvolvimento de petróleo e gás. Abordar contradições políticas que retardam a transição da Petrobras por meio de coordenação governamental integrada.
- Transferir fluxos financeiros de petróleo e gás para energia limpa. Incentivar a Petrobras a redirecionar investimentos para energia limpa. Impedir novos campos com exploração em andamento, mas ainda não em desenvolvimento, poderia evitar perdas entre US$ 12 e 35 bilhões em ativos encalhados para a Petrobras, dependendo da velocidade da transição energética. Criar condições equitativas para diferentes tecnologias e empresas de energia por meio da reforma de subsídios aos combustíveis fósseis e regulamentações de sustentabilidade para instituições financeiras.
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