Turismo sustentável estimula cadeia produtiva no sul da Bahia
setembro, 27 2024
Atrativos em Parques, Reservas e Refúgios conciliam geração de renda com conservação da Mata Atlântica e troca cultural entre Pataxós e visitantes
Por Leonardo Azevedo, do WWF-Brasil O sul da Bahia, conhecido por paisagens deslumbrantes e rica biodiversidade, está se tornando referência em turismo sustentável, cultural e de base comunitária. Fortalecendo, assim, um modelo de negócio que busca não apenas minimizar os possíveis impactos negativos do desmatamento decorrente da especulação imobiliária e de outras atividades predatórias, mas também contribuir para a preservação de ecossistemas e a valorização de comunidades locais. Nesse contexto, escolher visitar a região e suas unidades de conservação (UCs) pode ser uma experiência ainda mais significativa e transformadora.
Essa vocação natural do sul da Bahia para o turismo sustentável ganhou força a partir de uma necessidade: estabelecer práticas e mecanismos financeiros justos para a população local e áreas protegidas do território, que já desenvolviam atividades de etnoturismo, pesca e turismo de base comunitária (TBC) e se opuseram à exploração de blocos de petróleo nos arredores do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, em meados de 2018.
O enfrentamento à proposta do governo federal, via Agência Nacional de Petróleo (ANP), mobilizou populações tradicionais, organizações socioambientais e outros setores da sociedade civil na ocasião. “Quando a ANP anunciou o leilão das bacias de Jacuípe e Camumu-Almada, o nosso relacionamento com os parceiros locais se intensificou”, lembra Anna Carolina Lobo, líder de uso público de áreas protegidas do WWF-Brasil.
A exploração de petróleo poderia ter várias consequências negativas para as comunidades locais, como, por exemplo, impactar economicamente as que dependem da pesca e do turismo, interferindo inclusive na cultura e no modo de vida da população; afetar a saúde e o bem-estar das pessoas por meio da contaminação da água e dos recursos marinhos; e ainda degradar o meio ambiente.
Após a ameaça do petróleo e o derramamento de óleo no Nordeste, ocorrido no segundo semestre de 2019, o WWF-Brasil, ao lado de outras organizações, iniciou, em 2020, um projeto de valorização de áreas protegidas e comunidades locais, visando também fortalecer a governança financeira das UCs do território. Em parceria com a Conservação Internacional, foi realizado um primeiro ciclo de mentoria e aceleração de pequenos negócios com impacto social e ambiental relacionado às UCs, beneficiando nove iniciativas.
Em 2022, o WWF-Brasil apoiou o planejamento integrado do uso público em oito UCs do território. Naquela ocasião, surgiu o Parks Design, que une o Design Thinking (abordagem que utiliza métodos e sensibilidades do design para atender às necessidades humanas e transformar ideias em soluções práticas e aplicáveis) e mecanismos ágeis de inovação para construir um plano participativo com as comunidades, organizações não governamentais parceiras, ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e equipes das UCs. O resultado foi o desenvolvimento de um plano estratégico de suporte do WWF-Brasil ao turismo local e um roteiro de ecoturismo que apoia a oferta, por cada UC, de experiências e serviços únicos.
A região foi escolhida ainda por ser área prioritária de conservação da Mata Atlântica e de ecossistemas costeiros e marinhos. Com beleza e riqueza na terra e no mar, se mostrou perfeita para o projeto, pois reúne atrativos para quem procura descanso, mas também para quem tem perfil mais aventureiro. Praias, trilhas e UCs se entrelaçam formando um imenso corredor natural que precisa ser preservado e conhecido. Local onde as primeiras embarcações portuguesas atracaram em 1500, o extremo sul da Bahia guarda muito da história do Brasil indígena e pós-colonização, conectando os visitantes à sociobiodiversidade, mas também ao passado.
Localizado próximo a Porto Seguro, o Parque Nacional do Pau Brasil, um verdadeiro santuário ecológico, é uma das UCs que fazem parte do projeto. Foi criado durante as celebrações dos 500 anos da chegada dos portugueses com o objetivo de proteger os últimos e mais bem preservados exemplares da espécie de árvore que dá nome ao país. Lá, os visitantes são convidados a trilhar caminhos que cortam a densa floresta, oferecendo uma imersão em um mundo de sons, cores e aromas. Guias locais, muitos deles membros de comunidades tradicionais, enriquecem o passeio com explicações sobre a flora e a fauna, além de compartilharem detalhes sobre a cultura da região.
Já o Parque Nacional Monte Pascoal é considerado um ícone histórico, sendo o primeiro ponto avistado pela expedição de Pedro Álvares Cabral. Hoje, é um exemplo de etnoturismo devido à interação de visitantes com o povo indígena Pataxó, que participa ativamente da gestão da unidade em parceria com o ICMBio. Turistas podem experimentar uma conexão única com a história e a cultura indígena em caminhadas até o topo do monte, de onde se desfruta de uma vista panorâmica espetacular. Além disso, há a oportunidade de conhecer artesanatos locais e participar de rituais que refletem as tradições e o modo de vida Pataxó.
Menos conhecido, mas igualmente fascinante, o Parque Nacional do Descobrimento é outra área protegida que oferece um mergulho na natureza e na história. Esse parque, que também faz parte do projeto, abriga uma das porções mais preservadas de Mata Atlântica no Brasil, com uma diversidade de espécies de plantas e animais que impressiona biólogos e visitantes. O local tem forte ligação com a chegada dos portugueses ao Brasil e oferece trilhas educativas que exploram tanto os aspectos naturais quanto históricos da região.
Ao visitar essas áreas protegidas, as pessoas têm a chance de contribuir diretamente para a conservação ambiental e para o bem-estar das comunidades do território. Isso acontece por meio do turismo consciente, que valoriza a cultura local e gera renda para as famílias que vivem lá. É um ciclo virtuoso de benefícios que reforça a importância de preservar o legado natural e cultural para futuras gerações.
Diante de tantos atributos, visitar o sul da Bahia sob a perspectiva de etnoturismo, ecoturismo e turismo de base comunitária é uma experiência que vai muito além do simples ato de viajar. É um convite a uma nova aprendizagem, à conservação e à contribuição ativa para a sustentabilidade. Ao escolher um roteiro que inclua unidades de conservação, o turista desfruta de belezas naturais e riqueza histórica, participa também de uma jornada de transformação pessoal e coletiva, onde cada passo contribui para um futuro no qual pessoas e natureza vivam em harmonia.
Nosso impacto
O WWF-Brasil atua na agenda de turismo sustentável (uso público) com o objetivo valorizar as Unidades de Conservação (UCs) e reduzir as pressões e as ameaças às Áreas Protegidas. Fortalecido, o turismo de base comunitária é um indutor da sociobiodiversidade e de fontes de renda para as populações locais, contribuindo para um novo modelo de economia de base florestal para diversos biomas.Esse projeto no sul da Bahia tem o intuito de fazer com que essas áreas sejam percebidas como promotoras do desenvolvimento sustentável nos territórios e no combate às mudanças climáticas. Ele conta com o trabalho da equipe de Áreas Protegidas do WWF-Brasil e outras dezenas de parceiros locais e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Saiba mais sobre alguns parques e atrações da região:
Parque Nacional do Pau Brasil: para amantes da natureza e de aventuraParque Nacional do Monte Pascoal: conheça trilhas, praias e etnovivências
Parque Nacional do Descobrimento: um santuário de biodiversidade