Restauração de ecossistemas na Mata Atlântica gera renda e melhora qualidade do solo no Brasil

setembro, 26 2022

Projetos do WWF-Brasil contribuem com a geração de mais de 100 empregos diretos nas atividades de plantio, coleta de sementes, viveiros entre outros.
Projetos do WWF-Brasil contribuem com a geração de mais de 100 empregos diretos nas atividades de plantio, coleta de sementes, viveiros entre outros

O ciclo virtuoso da restauração vai muito além da recuperação da vegetação nativa. Começa na coleta da semente, envolve quem planta a muda, quem semia semente no campo, e chega até a disponibilidade hídrica a qualidade do ar. Esse é um processo que gera renda, emprego e auxilia na conservação e na restauração da biodiversidade. 

Por isso, o objetivo do WWF-Brasil é que 12 milhões de hectares sejam restaurados ou estejam em processo de restauração até 2030 . O foco de atuação dos projetos são o Cerrado e a Mata Atlântica, em aliança e parceria com diversos setores. 

Para a implementação dos projetos de restauração, de 2020 até agora  foram gerados mais de 100 empregos diretos. E de acordo com um estudo publicado pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, o potencial de geração de empregos verde enorme. São profissionais de diversas áreas, que vão desde  viveiristas e coletores de sementes até implementadores de restauração e técnicos de monitoramento. O trabalho de restauração envolve a inclusão de atores  locais no planejamento e na execução, e os coloca no centro das tomadas de decisão dos projetos. Esse conceito também facilita o engajamento da sociedade, a articulação política e fomenta toda a cadeia de suprimentos da restauração. E o principal benefício é o aumento de escala das áreas em restauração, promovido pelo fortalecimento de toda cadeia de restauração.

Fortalecer cada vez mais essa rede da restauração é fundamental para gerar um aumento de escala em longo prazo. A colaboração entre diferentes atores, compartilhando uma visão comum de paisagem, também é essencial. Tais conexões são promovidas em projetos do WWF-Brasil, com implementadores de atividades de campo como, por exemplo, as instituições Mater Natura, a Copaíba, o Grupo Dispersores, a REGUA, Akarui,  entre outros, com iniciativas que articulam municípios, como o Conservador da Mantiqueira, e alianças, como o Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica, a Rede Trinacional de Restauração do Alto Paraná e a ARATICUM no Cerrado. Também traz a conexão com a iniciativa privada, engajando novos apoiadores e ampliando as metas de restauração nos territórios, além de dar visibilidade global ao aliar as ações de restauração com metas e movimentos internacionais, como a Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas. Essa rede, unida e fortalecida, já conseguiu reduzir os custos e conseguiu ampliar o impacto da restauração.

Mata Atlântica

Na Mata Atlântica, o WWF-Brasil atua diretamente nos seguintes territórios: Conservador da Mantiqueira, Serra do Mar, Alto Paraná, estado do Espírito Santo, Bacia Hidrográfica do Rio Doce, e na Serra do Murici-Urubu. Nessa visão de paisagem, mais de 200.000 mudas foram plantadas no bioma no último período chuvoso (entre outubro de 2021 e março de 2022). As atividades de restauração também envolvem a manutenção e o acompanhamento dessas florestas para que elas se sustentem ao longo do tempo. 

“Restauração é um processo necessário para que as pessoas, os setores produtivos e a biodiversidade da região sejam recuperados e estejam protegidos a longo prazo”, comenta Daniel Venturi, analista de conservação do WWF-Brasil.

É um processo que contribui diretamente para a promoção de mudanças que vão além da recuperação da biodiversidade local, promovem qualidade de vida, geração de emprego e renda e economia sustentável em toda a cadeia da restauração. Restaurar também reduz a pressão do desmatamento, recupera serviços ecossistêmicos tais como resiliência hídrica, regulação do clima, controle de pragas e melhora na qualidade do solo.

E o trabalho em rede, com o envolvimento das comunidades locais, ONGs, instituições privadas, produtores rurais e entre outros é a principal base dos projetos de restauração do WWF-Brasil. Um exemplo vem do Raízes do Mogi Guaçu, que é resultado de uma cooperação-técnica entre o WWF-Brasil e a empresa Sylvamo, com implementação pela Associação Ambientalista Copaíba, Empresa Jr (IFEAC -   Empresa Júnior de Agrimensura e Cartografia do IFSULDEMINAS - Campus Inconfidentes) do Instituto Federal Sul de Minas (Campus Inconfidentes) e o Grupo Dispersores. O projeto conta com a colaboração do Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica, do Conservador da Mantiqueira e da Iniciativa Verde, e tem patrocínio das empresas HP e International Paper. Ele prevê a restauração de ao menos 200 hectares de vegetação na Mata Atlântica na região das nascentes do rio Mogi Guaçu, na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais até 2023. 

A Mata Atlântica não é um bioma exclusivo do Brasil, também se estende por parte da Argentina e do Paraguai, na ecorregião do Alto Paraná, uma área chave para a manutenção da biodiversidade e para o sustento e fornecimento de água para milhões de pessoas. Nessa região, o WWF é um dos criadores da Rede Trinacional para a Restauração da Mata Atlântica da Ecorregião do Alto Paraná, que busca criar um movimento multissetorial que promova a articulação de diferentes atores e instituições públicas, privadas e da sociedade civil na Argentina, no Brasil e no Paraguai. Tal atuação estratégica entre os três países na região do Alto Paraná ainda vem conectada a parcerias de implementação de restauração com o Mater Natura e o Curicaca, em que o WWF-Brasil junto com tais parceiros e demais atores da paisagem planeja promover corredores ecológicos que ajudem na conservação da biodiversidade, incluindo espécies como as antas  onças-pintadas.   

Na região serrana do estado do Rio de Janeiro, em parceria com a ONG REGUA (Reserva Ecológica de Guapiaçu) , os trabalhos de restauração auxiliamna conservação de espécies como antas e outros mamíferos.

Enquanto na Serra do Murici-Urubu  , no Nordeste brasileiro, as atividades de restauração conservam um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica em uma das regiões com maior endemismo de aves do mundo.

No Cerrado, bioma que também é altamente ameaçado no Brasil, o WWF-Brasil atua diretamente para a restauração de uma área de 20 hectares dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros em parceria com a Associação Cerrado de Pé, até 2023 . Lá, a atuação em restauração também vai além dos hectares, com a promoção da coleta de sementes de árvores, arbustos e capim nativos é realizada principalmente pela comunidade quilombola Kalunga.

Restauração auxilia produção e melhora qualidade do solo

Um grupo cada vez mais crescente de produtores rurais tenta equilibrar restauração e produção sustentável, como Paulo Araújo e Mariana Mota. Eles adquiriram uma propriedade rural em 2012 e passaram a atuar com agricultura natural e orgânicos na região da Serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo). Os dois plantam café, macadâmia, ingá, cedro australiano e banana. 

Em 2018, eles fizeram a transição de produção orgânica para agroflorestal, pois viram ali uma oportunidade de redução de custos, considerando que a floresta tem um sistema de manutenção natural que dispensa boa parte dos fertilizantes. “A gente plantou agrofloresta em um pasto de menos de três hectares, e está com a qualidade do solo quase equiparada com a área de reflorestamento”, afirma Mariana.

Ellen Fontana, por sua vez, é a quinta geração de mulheres que lideram a produção de café em uma propriedade rural Socorro, no estado de São Paulo. A família também produz banana, abacate e eucalipto. Atualmente, vende parte da produção de café para a Austrália, por intermédio de parceiros. Desde 2020, restaurou com o Projeto Mogi Guaçu cerca de 1 hectare com 1.400 mudas. A proprietária acredita que o retorno financeiro está aliado à forma como realiza o trabalho. “Eu acredito que quanto maior o equilíbrio, melhor a lavoura fica, menor incidência de pragas e doenças, menos uso de defensivos, mais diversidade e harmonia no plantio. E isso impacta no sabor natural do grão. Quem compra o nosso produto reconhece todo o trabalho que realizamos”, afirma.

3FM 

No projeto apoiado pela campanha “Serious Request”, do 3FM, atuaremos na abordagem de Restauração da Paisagem Florestal da Mata Atlântica, com duas perspectivas de escopo: um escopo geral abrangendo todo o território do bioma e um escopo focado na Ecorregião Trinacional do Alto Paraná com o objetivo de amplificar as vozes locais e empoderar as instituições na construção de suas narrativas. O bioma é de extrema relevância ambiental para o Brasil e é uma paisagem prioritária para o WWF-Brasil para atingir suas metas transformacionais para 2030.

O projeto fará parte da estratégia mais ampla de Restauração da Paisagem Florestal da Mata Atlântica e da Ecorregião do Alto Paraná, que é uma das três paisagens prioritárias para abordagens de restauração do WWF-Brasil. No Alto Paraná, o projeto reforçará e dará continuidade a 16 anos de trabalho de conservação realizado em conjunto com Argentina e Paraguai. O projeto combinará esforços com um projeto atual de FLR do WWF-Brasil na paisagem, o “Restauração da Mata Atlântica: corredores de biodiversidade e provisão de água” (WWF-US e HP), que já vem apoiando as ações na paisagem com engajamento de parceiros locais como o Mater Natura. Além disso, irá potencializar as intervenções de restauração em mais  uma sub-região de intervenção de restauração no Alto Paraná – a região do Parque Estadual do Turvo, com um novo parceiro local – o Instituto Curicaca.

Resultados

De 2020 até o período chuvoso de 2021/2022

  • Hectares em restauração:  317,47
  • Empregos criados: 112
  • Famílias beneficiadas: 87
  • Diversidade de espécies nativas: 432
  • Mudas plantadas: 271902
  • Quilos de sementes utilizados na restauração: 1295
  • Cerca em metros: 27054
  • Nascentes protegidas: 100
  • Hectares restauração monitorados: 245,37
Restauração de ecossistemas na Mata Atlântica gera renda e melhora qualidade do solo no Brasil
© Tuane Fernandes / WWF-Brasil
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© Tuane Fernandes / WWF-Brasil
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